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A Vida em Branco

CCB

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Camané e Cristina Branco

A entrada em cena, os passos, os pensamentos, a primeira palavra, a voz a instalar-se, e a pergunta quais os sentimentos, qual a emoção mais vincada a percorrer-lhe o corpo?
De onde vem este canto onde todos nós aportamos, de coração, em sentido, canto exemplar, afinado, de afinação irrepreensível como imagem de marca, dito de maternal pelos líricos, que a ciência explica como ampliado pela caverna da boca?
As aulas fazem a cama da técnica, mas nem essas foram assíduas. Cristina Branco nasceu cantora decerto e antes de chegar aos palcos do mundo e aos prémios (entre eles o cimeiro Prix Choc do Le Monde de la Musique), já era cantora de corpo inteiro, como se poderá nascer ficcionista ou desenhador ou criador de mundos.

Pode dizer-se, de onde nascem as verdades, que hoje o canto lhe é tanto de dom como ganha-pão e cada subida a um palco a moverá duplamente pela contingência e a libertação. Ali pode ser aquilo que se chama uma Voz, uma voz capaz de contar histórias corajosas que transcendem as belas sonoridades e resvalam para a semântica e o civismo como foi com o “Alegria”, onde a vida portuguesa foi visitada em jeito tragicómico.

Gabam-se-lhe desde sempre e de justa medida a dicção, a escolha dos poetas e poemas, dos compositores, dos músicos, de tudo onde a classe, o bom gosto e a vontade de fazer bem, muito bem, se aplique. O condão de revestir de intensidade e sobriedade tudo onde compareça.

Distinguir cantora de fadista é uma “boutade”, mas a haver algum nome ele seria artista, artista com voz de mãe, como quando cantou, acima de todos os temas, o “Embalo” (gravado com a Brigada Vítor Jara), ou na interpretação luminosa e sincera de cada tema de Zeca Afonso, a quem dedicou o álbum “Abril”.

c.branco-pb-b-017s“Idealist” é corruptela de lista ideal e de idealista, de mulher que viu um dia no canto a possibilidade de um oásis de prosperidade. A vida de um artista, já se sabe, implica escolhas decisivas, opções dolorosas, vias crucis, mas para Cristina Branco ser cantora não foi uma decisão maturada… aconteceu. Aconteceu-lhe quando esperava vir a ser jornalista, ou talvez foto-repórter, ofícios para que se vivia fadada por gostar de estar do outro lado da barricada, longe da vitrina, afastada da montra que pode ser a sociedade do espectáculo.

Ao Centro Cultural de Belém foram parar 17 anos de viagens, de composições, de poesia enquanto metáfora da vida. Aos músicos do naipe habitual, Ricardo Dias (piano), Bernardo Couto (guitarra portuguesa) e Bernardo Moreira (contrabaixo), juntaram-se os convidados João Paulo Esteves da Silva, Mário Delgado e Alexandre Frazão, todos eles implicados na carreira de Cristina.
As presenças de Camané e Manuela Azevedo para assinalar duetos memoráveis fizeram deste concerto único em Portugal um momento onde se pode dizer que a arte foi tudo à vida.

O Jornal Dínamo® agradece ao Jornalista Tiago Salazar, a elaboração do artigo sobre o Concerto que a Artista Cristina Branco deu no CCB, a 11 de Dezembro de 2014.

[ Mais imagens do Concerto ]

Fotos: Jorge Buco

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