7 de Julho
| Entre uma Meia-final do Europeu em que Portugal se qualificou para a Final a realizar-se no Domingo, algo se impõe sem necessidade de grandes anúncios – “O Melhor Cartaz”.
Já é do conhecimento, que o NOS Alive tem o hábito de gerar o pânico entre os portugueses e europeus e fazer de Lisboa no primeiro fim-de-semana de Julho, o epicentro da música. Este ano não é excepção e na comemoração da 10ª edição do festival, o cartaz é um autêntico ”regabofe”, no melhor sentido claro, de música.
Radiohead e Arcade Fire, são logo motivos para tornar do NOS Alive um dos festivais mais concorridos e atractivos do panorama europeu – nada a que o NOS Alive já não se tenha habituado. Mas não só britânicos e canadianos que fazem as honras da festa. Chemical Brothers, M83, Tame Impala, Grimes, John Grant ou Father John Misty (entre muitos outros) vão passar pelo Passeio Marítimo de Algés e com toda a certeza fazer da 10ª edição do NOS Alive uma festa memorável.
Da saudade dos Led Zeppelin aos electrizantes Chemical Brothers
Como de costume, para que o primeiro dia começasse em grande forma, era necessário que o tempo ajudasse. O primeiro dia do NOS Alive acabaria por se tornar um dia de pleno verão e para alegria dos presentes, que são muitos, a festa não poderia começar da melhor forma.
Nas muitas atracções que este ano o NOS Alive proporciona aos festivaleiros, começámos logo com a mais emblemática, a “Rua EDP”.
A ideia é recrear edifícios emblemáticos pombalinos e não só, e transportá-los para a “Rua EDP” do NOS Alive. É justamente lá, que damos de caras com o primeiro concerto que a redacção do Jornal Dínamo teve oportunidade de assistir, na “EDP Fado Café”.
Este que é o sétimo palco do festival, com cenografia própria que irá envolver todos os festivaleiros num ambiente tradicional português. Duas das mais impressionantes vozes do Fado, Marco Rodrigues e Raquel Tavares, proporcionaram sessões contínuas de fado entre os intervalos dos concertos maiores do “Palco NOS” ou do “Palco Heineken”.
É também neste local mais aconchegante do festival que até às quatro da manhã se recupera e revive a pista slow, com voz, saxofone e piano disponíveis para os passinhos de dança.
John Grant
Pelas 20H45, subiria ao “Palco Heineken” o norte-americano John Grant, ele que é o ex-vocalista dos Czars, veio a Lisboa para apresentar o terceiro álbum a solo, “Grey Tickles, Black Pressure”, editado em 2015.
O norte-americano que esteve presente no “NOS Primavera Sound” em 2015, no Porto, tem um percurso intenso pelo mundo da música, iniciando a sua carreira na década de 90 com a banda Czars. Junto do público português e europeu encontra o seu lugar de destaque, vindo a Lisboa trazer para uma actuação digna de artistas que pisam o palco principal do festival.
Centrado no público presente que conhece o seu percurso (não nos esqueçamos que o NOS Alive também é feito de uma boa percentagem de público oriundo de diversas partes do Mundo), só Deus e o Mundo saberão o caminho conturbado e até sinuoso pelo qual John Grant passou para chegar até aqui. Desde uma viagem descendente ao universo do alcoolismo e das drogas, culminando num diagnóstico de VIH, tatuaram um destino quase fatídico. Mas contra tudo e contra todos, em 2013, John Grant dá a volta por cima e lança “Pale Green Ghosts”, onde materializa todo este processo auto-destrutivo numa obra de um trato sensível e honesto.
Melodias timbradas com a sua bela voz e a intensidade das letras, fazem de John Grant uma experiência agressiva mas que roçam a delicadeza exuberante das múltiplas formas de como o artista lida com os seus fantasmas.
No “Palco Heineken”, uma multidão aglomerou-se para ao longo de uma hora escutarem e cantarem “Sigourney Weaver”, “GMF” ou “Disappointing” e partilharem do universo extremamente particular e profundo, de um artista que molda um público e arrebatou o NOS Alive em toda a sua actuação.
Robert Plant + The Sensational Space Shifters
OK, não estamos a falar dos Led Zeppelin, mas estamos a falar de uma das maiores vozes de todos os tempos do rock. Não somos nós que o estamos a dizer! É o universo que reclama para si uma das estrelas maiores da música e o NOS Alive foi unânime na recepção efusiva ao mítico vocalista britânico, Robert Plant.
A entrada em palco deu-se com palmas do artista britânico ao público e logo desde o início, que Plant começaria a revisitar o património musical da banda que o tornaria numa estrela do rock.
Sem qualquer problema em o assumir, porque este património é colectivo mas também é seu, brindou logo o público com “Lemon Song” do álbum Led Zeppelin II de 1969 com os “The Sensational Space Shifters” a acompanharem o artista de forma minuciosa para júbilo de um público conhecedor da obra de Plant e Zeppelin.
Plant mais do que um lord do rock inglês, também é um entertainer e com as décadas que leva de digressões, já sabe de ginjeira como animar o público e desafia-lo logo com a questão do jogo Alemanha vs França. O esperado aplauso e respostas são óbvias, recordando os feitos do dia anterior da Selecção Portuguesa que disputa a final do Europeu no próximo domingo, em Paris.
Poderíamos dizer que Plant tentou impor o seu cancioneiro enquanto artista a solo na actuação, mas não o fez nem se coibiu, como já referimos, de regressar à época áurea dos Zeppelin e julgamos que a satisfação foi generalizada entre os presentes.
Wolf Alice
O projecto britânico Wolf Alice, subiria ao “Palco Heineken” pelas 22H15, nesta que foi a primeira actuação da banda em solo nacional.
Considerando uma das mais promissoras bandas britânicas no panorama do indie rock, estrearam-se em Junho deste ano em lançamentos de longa duração, com o álbum “My Love is Cool”.
Para os presentes que não conheciam os londrinos, perceberam logo que a capacidade vocal de Ellie Rowsell e a forma como domina a guitarra, fariam da actuação uma grande manifestação de rock com algumas influências do grunge.
É verdade! Tão curta carreira e filas da frente apinhadas de pessoas que souberam dedicadamente cantar refrões como “Moaning Lisa Smile”, “Bros” e “Turn To Dust” ou “Your Love’s Whore”, logo na abertura.
Na apresentação do primeiro disco de estúdio, em solo nacional, julgamos que a banda ficou desarmada com a pujança com que o público os recebeu, rendido aos poderosos riffs que destilaram ao longo de 50 minutos de uma actuação reveladora de uma banda que promete dar muito na estrada.
NOS CLUBBING – SG Lewis, Junior Boys e muita dança
Pelas 22H30, subia ao palco o produtor SG Lewis que numa simbiose homogénea consegue reunir sonoridades clássicas e influências do club music e cunhar com estilo próprio, as suas produções calorosas que abraçam a música electrónica com narrativas emotivas e um confronto profundo de club music.
O seu estilo, já captou atenção de artistas como Pharrell ou Justin Timberlake, tendo inclusivamente misturado o tema da cantora britânica Jessie Ware, “You&I”.
Naturalmente o NOS Alive, não foi indiferente à intensidade das produções do artista que colocou o público do “NOS Clubbing”, electrizado.
Outros dos presentes neste palco, foram os canadianos Junior Boys, que com o seu gritante estilo EDM, são uma das duplas mais proeminentes do panorama electrónico da actualidade e subiram ao “NOS Clubbing” para com o seu “Big Black Coat” colocarem o público a dançar.
Uma sonoridade com um pop estruturado e refrões groovy, que se intensificam com os também refrões cantados, constituindo um som elegante e minimalista mas que recebe junto do público as maiores das simpatias.
A encerrar com Chemical Brothers
Recordemos a actuação que o duo britânico fez no “Dance Station”, em 2007. Pois bem, foi espectacular e contra factos, não há argumentos.
Mas a actuação no NOS Alive, foi sublime cheio de surpresas visuais que deixaram os mais de 55 mil presentes na plateia a suar até a ultima gota com as batidas incontornáveis e samples grandiosos.
Os Chemical Brothers são uma máquina em constante manipulação da plateia, que com as sonoridades mais extremas adornam o som com vertiginosos sets, que deambulam na galvanização pura e dura das suas actuações.
Para começar e para quê esperar, porque não logo, o mega sucesso “Hey Boy Hey Girl” do álbum de 1999, “Surrender”.
Passo a passo a actuação foi mais do que complementada, foi contemplada por efeitos visuais hipnotizantes que fizeram de temas como “EML Ritual”, “Go”, “Swoon”, entre outros, maravilhosas oportunidades para se dançar e admirar um espectáculo que foi carregado de surpresas, tais como robots gigantes ou projecções deliciosamente apelativas à dança.
Um autêntico festim a encerrar a actuação no primeiro dia da décima edição do NOS Alive.
Fotos: Hugo Macedo, João Fernandes, José Fernandes e Arlindo Camacho
Agradecimentos: Everything is New / NOS
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