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Dia 2 | NOS Alive’16

8 de Julho

| O segundo dia da 10ª Edição do Festival NOS Alive começou, como previsto, quente e aquela aragem agradável que convida a umas cervejas e muita música. Este que é o “Melhor Cartaz” e não nos cansamos de o dizer, prometia para o dia 8 ser um dia de enchente e percebe-se bem porquê. Se falamos de Radiohead, falamos de dia esgotado e o NOS Alive não foi excepção.

O irrepreensível Father John Misty

Já todos conhecemos Josh Tillman? Não?! Pois não sabem o que estão a perder.
Father John Misty é daquelas personagens que vale a pena dedicar o nosso tempo a ouvir. Culto do folk que enfeitiça quem o conhece, deslumbra quem o desconhece e se depara com aquele aparato hypster, faz fãs lançarem soutiens para o palco.
Father John MistyJosh Tillman, é um produto da América, atitude blasé, o que lhe dá alguma sensualidade a todo o figurino personificado numa espécie de heteronímia de Father John Misty que vive os melodramas e melancolias, mas conseguindo elevar a fasquia ao sarcasmo de quem tem a altiva capacidade de rir.

Pois bem, pelas 21H40, subiria aquele que, para quem o segue nas redes sociais, se apresenta com um humor irónico e reúne todos os atributos que qualquer estrela de rock precisa, para viver um dia como se fosse o último da sua vida.
Gritos? Sim eram muitos, pois ele consegue catalisar para si, a culto da sua personagem e ter aquele grupinho de raparigas e também rapazes a suspirarem por ele… mas isso são outros pormenores.

Josh Tillman regressa ao Alive, mas agora em nome próprio.
Há cinco anos pisara o mesmo palco como baterista dos Fleet Foxes. Agora vem carregado de estórias pesarosas de amor mas com um trago sarcástico do álbum editado no ano passado, “I Love You Honeybear”.
Depois da sua passagem no ano passado em Paredes de Coura, não seria de se esperar outra recepção, que não a que tivemos oportunidade de assistir.

Na abertura, “Hollywood Forever Cemetery Sings”, do disco de estreia “Fear Fun”, fez-se em tom cerimonial e com honras de cabeça de cartaz por parte do público, mas seria com temas como “I Love You Honeybear”, que o público se renderia por total ao charme, voz solene de Misty e “Jesus Christ, girl”, “When you are smiling and Astride Me”, “Chateaux Lobby” ou ainda o hipnotizante “True Affection” que fariam de um público já há muito entregue à doce malvadez de Tillman, levando o delírio a tomar conta da assistência.

O Pop Psicadélico de Tame Impala

Da Austrália com amor, tem sido a máxima aplicada a bandas do género como Cut Copy ou claro está, os Tame Impala.
Tame ImpalaSubiriam entretanto ao palco NOS, os reis e senhores do revivalismos dos anos 80 condimentados com riffs psicadélicos, que fazem dos Tame Impala titulares do género que coloca o público a dançar. As composições musicais são ritmos paranóicos que podem parecer repetitivos mas que estruturam construções coloridas e deliciosas músicas, ornamentados pelos sintetizadores que são o centro gravitacional do psicadelismos elegante da pop, encorpado agora pelo recente “Come Out” da dance music dos australianos.

O NOS ALIVE no segundo dia acabaria por ver a sua primeira grande enchente ao ritmo dos Tame Impala, que haviam pisado o palco secundário da anterior vida do festival, em 2013. É um facto que os Tame Impala têm sido uma presença assídua nos festivais nacionais e por cá tem espalhado a sua magia, agora com o argumento de “Currents”, editado em 2015.

O estado de espírito dos 55 mil presentes no segundo dia do festival era de euforia, e Kevin Parker, agora que assume a 100% a função de vocalista da banda, fez as honras da casa e a alucinação do público, que tal como em Woodstock, também teve alguns seios a olho nú para os artistas.

Numa actuação onde Currents dominou o alinhamento, houve naturalmente espaço para temas dos álbuns “Lonerism” (2012) e “InnerSpeaker” (2010). Muitos confettis e alegria do público dominaram a actuação dos australianos, que reúnem a simpatia dos fãs um pouco por todo o Mundo e no NOS Alive não haveria de ser diferente.
Um concerto que apesar de ter tido alguns problemas de som, reproduziu a satisfação generalizada do público.

Radiohead

O contra-relógio há muito que estava em contagem decrescente e com ele os números a crescerem na adesão à noite que viria a ser a de consagração da banda britânica, mais uma vez, em solo nacional.

O ano de 2012 parece ser a multiplicação de várias unidades cósmicas que se traduzem num tempo doloroso, o da espera pelo retorno de Tom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Philip Selway aos palcos nacionais.
Feitas as contas, havia quem apostasse se os Radiohead tocariam “Creep” ou “Karma Police”. Também se especulava sobre se o concerto seria mais virado para “A moon shaped pool”. Mas nestas coisas, não vale mesmo de nada andar em apostas e especulações, porque na verdade, Yorke e companhia, sabem que não fazem a música para agradar ou alinhamentos em modo discos pedidos.

Por infortúnio da vida ou por pré-aviso do destino, a redacção do Dínamo teria uma abertura de concerto tumultuosa. Infelicidade de quem escolhe locais mais propensos às conversas de certas pessoas, que passariam toda a actuação a falar de tudo, menos do importante. Há coisas assim!

O argumento no entanto, é de peso, “A moon shaped pool”, reúne consenso e é em definitivo uma obra de arte, pelo que logo numa abertura pomposa viria “Burn the Witch” a pôr logo os fãs num êxtase contemplativo de fazer inveja a qualquer cantor de pop, rock e tudo quanto há.

Não há lugar a grandes conversas e discursos com o público. Quem quis juntou-se à viagem que foi colossal e arrebatadora e porque estávamos na viagem, quiçá a mais melancólica de todas de Yorke, o público foi desbravando o último trabalho de estudo logo de seguida com “Daydreaming” e “Decks Dark”, num meticuloso alinhamento de aprestação do álbum editado este ano.

Mas nem tudo se resumiria ao último disco. Os fãs tinham sede de muito mais e Yorke sabia disso e “Ok Computer”, “Hail to the Thief” ou “In Rainbows”, seriam autênticos versículos bíblicos a serem contemplados nesta eucaristia do rock dos Radiohead.

Numa apresentação ao público português que primou pelo universo literário e musical da banda britânica, dever-se-á sempre ter em conta que os Radiohead não são uma banda de música fácil e métricas premeditadas. Muito pelo contrário, aqui a fórmula funciona de forma totalmente distinta das demais bandas, pelo que são mesmo os ouvintes que são obrigados a reformular toda a maneira como vemos a música para conseguir atingir o espaço-tempo dos Radiohead.
Percebe-se assim, a riqueza de todo o conteúdo, seja das letras ou da música que ao longo de mais de vinte anos, têm feito os Radiohead contrariar a mainstream, mas ao mesmo tempo arrecadando sucessos atrás de sucessos, como os temas que ao longo de duas horas o NOS ALIVE teve a oportunidade de assistir.

Fieis à banda, estavam mais de 55 mil pessoas, claramente a flutuarem nas nuvens com a prestação inqualificável que os Radiohead proporcionaram em Lisboa.
E para o final? Um fim à medida que encheu todas as almas de grande satisfação, com o filho mal-amado da banda, “Creep” e ainda, “Karma Police”.

Para muitos, mais do que a actuação da noite, foi a actuação de uma vida, de tal forma que a organização estendeu este pequeno oásis de música, com uma transmissão em indeferido na RTP, no dia seguinte.

E assim, terminaria um segundo dia da décima edição do NOS Alive que ainda contou com a prestação brilhante dos Two Doors Cinema Club e Hot Chip, no Palco Heineken.

Fotos: Arlindo Camacho e Hugo Macedo

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