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Festival NOS | Dia 2

“NOS Primavera Sound” 2015

| O segundo dia do NOS Primavera Sound foi sem dúvida o mais cerimonial da edição de 2015. Se no dia anterior, o público já se sentia um “lucky bastard”, o segundo dia não foi para todos. A comemoração dos 40 anos do primeiro disco de Patti Smith, viera a ser uma grande honra – aliás, o dia todo seria irremediavelmente de grandes emoções.

Patti Smith, “Jesus Died for Somebody´s Sins But Not For Mine”

Patti Smith

Patti Smith

Patti Smith, como já referimos anteriormente, é a materialização da música e do rock na pessoa, enquanto fenómeno de intervenção artística que se despe de preconceitos e denuncia muitas vezes, o que considera errado no arquétipo da sociedade capitalista, do consumo, para além de despreocupada com a variante social e solidária.

O público, claro está, venerou e deliciou-se com a voz intocável e suprema após 40 anos de “Horses”.
Não é para todos! Não é para poucos, mas sim para um grupo restrito de pessoas, que nasceram para fazer a diferença, para ser a voz da contestação e Patti Smith é essa voz que nos faz parecer pequenos, sem nunca impor a sua presença de forma agressiva!… antes uma presença subtil que através da palavra e da música, comunica e faz-nos parar com os seus versos mais contestatários da vigência e da banalidade, do que está errado no mundo.

O concerto no Porto (o segundo, se assim o podemos dizer) foi atroz no bom sentido da palavra, pois Patti soube como agarrar o seu público e como o cativar, quiçá até os públicos que se calhar nunca lhe deram a merecida atenção.

“Gloria”, aquela canção que fez da artista ser durante anos a cantora herética, foi efusivamente cantada e aplaudida pelo Primavera. Outros temas foram tocados na actuação, que poder-se-á considerar um dos melhores concertos a que o Porto já assistiu, como, “Free Money” ou o memorável “Break It Up”, escrita e dedicada a Jim Morrison.

Patti, enquanto artista, tem os seus amores aos monstros do rock e assim como Jim Morrison é merecedor da sua criação artística, também Jimi Hendrix, não foi esquecido com a interpretação do tema em sua honra “Elegie”, não deixando de parte outras referências na sua vida como Lou Reed, Sid Vicious ou Ramones, numa espécie de tributo ao rock.
Da nossa parte, enquanto público seguidor, apenas temos a simples palavra a dirigir a Patti Smith… Obrigado!

A serenidade de José Gonzaléz

José Gonzalez

José Gonzalez

Pelas 20H00, já uma massa de festivaleiros se haviam aglomerado no Palco Super Bock que seria uma excelente mesa para o jantar musical que viria a ser servido.
No cardápio, José González, apresentaria aos convidados o mais recente trabalho editado, “Vestiges & Clawns”.
Este que é para mim um dos artistas mais interessantes dos últimos anos, traz no seu ADN uma agradável fusão entre folk com origens suecas e os ritmos latinos provenientes da Argentina.

José Gonzalez que também é um dos membros fundadores do projecto Junip, tem em Portugal uma sólida base de fãs que estavam de pedra e cal para o espectáculo que viria a ser intimista o bastante para nos deleitarmos com temas como “Let it carry you”, ”Stories we build”, “Stories we tell”. Estes, foram competentemente dedilhados pelo artista sueco que acompanhado do seu inseparável violão transportou-nos para momentos delicados e estágios pacificadores, bem ao jeito de Elliot Smith ou Simon and Garfunkel.

O final do concerto deixou aquela sensação no estômago, da necessidade de um concerto mais longo numa das belíssimas salas de espectáculos, que Portugal possui.

A simplicidade da alegria dos Belle and Sebastian

Belle and Sebastian

Belle and Sebastian

É bem possível que já tenha comentado no decorrer deste meu testemunho, o quanto é apreciável ser mais um no meio dos festivaleiros do NOS Primavera Sound.
A justificação é clara. Os luxuosos cartazes que são apresentados ao longo das edições, conjugados com o anfiteatro natural do Parque da Cidade, oferece-nos a possibilidade de vermos um concerto em qualquer parte de um dos palcos sem necessidade de nos juntarmos na confusão típica dos concertos.

E foi isso mesmo que decidi para Belle and Sebastian. Apetrechado com toalha de piquenique oferecida pela organização, estendi-a numa das colinas do recinto, aconchegado por um casaco e lá assisti a um dos concertos mais especiais do NOS Primavera Sound.

Os escoceses Belle and Sebastian ofereceram com a devida pompa e circunstância um concerto que em nada fica a dever aos cabeças de cartaz da noite. O vocalista Stuart Murdoch e companhia, não deixaram por mãos alheias a actuação, domando logo o público com simpatia e acertado alinhamento bem como a apresentação do mais recente álbum “Girls in Peacetime Want to Dance”.
Entre o “Nobody´s Empire”, “The Party Line” ou “The Boy with Arab Strap”, aqui dançámos todos ao ritmo do ex-libris do indie pop escocês.
Afinal de contas há em Belle and Sebastian uma particularidade que apenas bandas com um grande número de integrantes partilham… a boa disposição que se espalha com o vento pela assistência.
No final do concerto a opinião era unânime… que excelente concerto foi, com Murdoch a criar uma empatia simplesmente magnífica.

Messiânica fragilidade de Antony and the Johnsons

Volvidas as 00H00, já muita gente se aglomerava para o concerto que se seguiria, quem sabe o mais desconcertante e intenso do dia – Antony and the Johnsons.

Houve quem dissesse que a actuação da banda seria completamente desfasada do alinhamento do festival… a opinião viria a mudar radicalmente no final do concerto, com o autor de sucessos como, “I am the Bird Now” e “The Crying Light” a mostrar a envergadura da sua obra com a messiânica fragilidade que caracteriza Antony Hegarty.

O mítico líder da banda, não se caracteriza pelos seus espectáculos interactivos com o público, antes pela candura da sua voz que nos remete para o famoso provérbio popular chinês – “O grande homem é aquele que não perdeu a candura da sua infância”.
Sui generis por definição, Antony Hegarty, intitula-se como um transgénero que dispensa os rótulos postulados pela identidade sexual imposta pelas sociedades.
Já a vulnerabilidade da sua voz não perde contudo força nas palavras e na mensagem.

A banda que se fez acompanhar por uma orquestra, convidou-nos a uma viagem pelo vasto cancioneiro da carreira dos britânicos, com temas como “Find the Rythm of your Love”, “Ghost” ou o muito desejado “Cripple and the Starfish”, tornando o espectáculo numa enorme eucaristia que foi abrilhantada com a projecção de imagens do complexo teatro japonês, que deu ainda uma carga mais emocional e dramática ao espectáculo.

Os presentes, tinham na ponta da língua o repertório do concerto que em tudo é igual ao álbum ao vivo, “Turing” (2014), que também visitou em temas como “Cut the World”, “You are my sister” ou ainda “Blind” (em colaboração com os Hercules and Love Affair) numa versão orquestral.

Há contudo espectáculos onde o silêncio deve imperar e deixar que a música fale por si e foi isso mesmo que os, Antony and the Johnsons, trouxeram ao Porto. Um concerto emotivo, gracioso e melancólico.

Ariel Pink

Ariel Pink

A noite já ia longa e pelo Palco Super Bock já se organizavam os festivaleiros para dançar ao ritmo de JUNGLE.
Os britânicos que ganharam lugar de destaque na música, aquando da nomeação para os “Mercury Prize”, preparavam faustoso alinhamento de ritmos electrónicos com harmoniosa fusão do soul e funk.
Expectativas em alta, os JUNGLE não despontaram com o som maleável e permeável a outros estilos que fazem da banda britânica uma revelação da música urbana da actualidade.

O Primavera Sound dançou ao som de “Busy Earnin“, “Julia”, “Son of Gun” ou “Time”. Os baixos intercalados com a bateria criaram aquele groove digno que suar até ao cair do dia.
Uma excelente aposta para quebrar com o espírito melancólico que Antony and the Johnsons haviam deixado pelo Primavera.

All Tomorrow Parties

A encerrar a noite, animaram ainda o Palco ATP, Ariel Pink com o seu pop psicadélico e os elegantes e charmosos australianos Movement, que agraciaram o público com o seu conceito R&B e soul que exploram ritmos minimalistas e negros.

Fotos: NOS Primavera Sound / Hugo Lima ©
Agradecimentos: Marina Reino / Luís Gomes (NOS)

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