“I Never Learn”
“All the great art is made from suffering”.
| A frase é extraída da música da banda de black metal norueguesa Dimmu Borgir, ”Blood Hunger Doctrine”, mas serve de mote para este breve comentário acerca do terceiro álbum da cantora sueca Lykke Li – I Never Learn.
Conceptual e minimalistas, as suas melodias são simples e dispensam grandes arranjos musicais. Os versos são directos e não apelam aos refrãos orelhudos, transbordando descargas emocionais características das fragilidades e behaviorismos que postulam o ser humano em períodos in extremis da vida.
São estas algumas das características da identidade genética e inquietude de Lykke Li.
Da Suécia para o mundo, Lykke Li surge na cena pop alternativa em 2008, com o seu primeiro trabalho de originais “Youth Novels”, produzido por Bjorn Yttling, dos Peter Bjorn and John.
Na generalidade, o álbum teve uma recepção positiva e Li rapidamente fica rotulada como a coqueluche da Nouvelle Vague da pop europeia do final da primeira década do milénio.
Singles como “Dance Dance Dance” ou “I´m Good, I´m Gone”, fizeram da cantora sueca uma sonoridade obrigatória no género e animaram por muito e bom tempo as playlists de milhares de fans que ficaram expectantes pelo sucessor, que veria a luz do dia com o nome de “Wounded Rhymes”, em 2011.
Se os primeiros temas da carreira de Lykke Li foram reflexo dos primeiros anos da sua inocência pré adulta, o sucessor vem demonstrar o processo de amadurecimento como mulher, que enfrenta as primeiras quedas emocionais, o contacto com interpeladas desilusões e o isolamento, por não conseguir estabelecer compromissos nem troca de afectos com intimidade recíproca, não pintando por si só, um quadro tão feliz como em “Youth Novels”, roçando, até apostaria, o amor.
Melancólico e intercalando com refrãos pop, “Wounded Rhymes” faz revista a alguns géneros distintos mas que se cruzam na confusão emocional da cantora.
Entre o gótico de “Love out of Lust” e “I Follow the Rivers” (popularizada em 2013, pelo DJ Magician nas pistas de dança de todo o mundo), e o intrigante electrónico “Rich Kids Blues”, existe lugar para um elogio à virtuosa voz cândida que Lykke Li, nas suas composições mais atmosféricas e acinzentadas.
E porque “A Vida” é instrumento laboratorial, Lykke Li tem especial predilecção por engendrar escrupulosas incursões no processo empírico de análise do lado negro das emoções, onde transpõe para a música, o seu arrepiante e singular teatro de desespero emocional, que carrega no pensamento.
É nesta catársis que em 2014, Li fecha a trilogia encetada em 2008 onde recentemente afirmou à imprensa internacional que, “Eu escrevi a música na Suécia, quando eu estava a arrumar as minhas coisas e tinha acabado de sair de um relacionamento, estava num momento horrível. Eu só tinha a dor, vergonha, tristeza, culpa, saudade…”
Este foi o mote para a apresentação de “Love Me Like I´m Not Made Of Stone”, primeiro single do terceiro álbum de cantora nórdica. “I Never Learn”, é lançado no início de Maio e vem encerrar um ciclo de epístolas de amor e desilusão, vergonha e pesar emocional (fantasmas que já bem conhecemos no universo complexo da compositora e autora sueca).
Lykke Li, que se caracteriza pela versatilidade e fluidez de som, afirma que “I Never Learn”, será semblante de cargas emocionais extremamente melancólicas. Este é um disco que naturalmente contará a sua experiência recente.
Ao escutar o primeiro tema e homónimo “I Never Learn”, não posso deixar de fazer uma breve analogia com o último trabalho de PJ Harvey – “Let England Shake”, nomeadamente “The Glorious Land”, onde a guitarra acústica assume o comando da faixa, correndo o risco de se tornar um épico, pela simplicidade e beleza que adquire ao longo dos breves 3 minutos.
Esta balada é um pequeno prólogo do seu recente trabalho, carregado de desilusão e referências aos períodos mais conturbados da sua vida afectiva.
Sucede-se então “No Rest For The Wicked” onde há uma clara substituição da guitarra pelo piano, garantindo ainda mais uma carga emotiva ao tema que naturalmente assenta em claros sentimentos de vergonha e apatia perante as questões frustradas das relações amorosas.
De destacar que Lykke Li, recruta para uma versão alternativa, o rapper norte- americano A$AP Rocky, que anteriormente já havia colaborado com Lana Del Rey em “National Anthem” e Florence Welsh em “ I Come Apart”.
“Just Like a Dream” e “SilverLine”, são mais duas baladas a preencher o drama de Lykke Li, que não são mais do que a continuidade literária dos temas anteriores onde Li continua a cavar um buraco onde a mesma assume estar enfiada, com laivos de ilusão e esperança que rapidamente se desmorona na sua contínua espiral depressiva.
“Gunshot”, claramente é um dos pontos altos do disco, assim como se pode considerar bastante interessante “Heart of Steel” com coros bem canalizados à música gospel.
Em suma, “I Never Learn” é claramente um álbum conceptual e intimista que desbrava os sentimentos mais tenebrosos e aterradores que pelos experimentalismos de Lykke Li, reflectem cada um de nós no processo de luto, adaptação e reconstrução do Ego assim como na procura do lugar que pretendemos assumir, para dar continuidade ao processo de maturação e blindagem das emoções mais obscuras.
Fonte: Citação da “Time”
Foto: Site Oficial Lykke Li