Eis que chegamos à recta final do NOS Alive´015
| Feitas as contas, passaram pelo Passeio Marítimo de Algés, perto de 155 mil pessoas ao longo dos três dias de festival, acredita-se que muitos milhares de litros de cerveja, muitas horas de música e muito cansaço a pesar no corpo.
Há contudo ainda um terceiro dia que a exemplo dos dias anteriores, trouxe bandas já vistas em solo nacional, mas tão desejadas como se fosse a primeira vez.
Histeria no Regresso de SAM SMITH
Justifica a histeria em torno do artista britânico? Goste-se ou não, justifica!
É um tipo porreiro, com uma excelente extensão vocal, tem presença em palco e sim, canta directo ao coração das fãs (e de alguns rapazes também) mais românticos.
O autor do álbum “In the Lonely Hour” que já vendeu mais de 5 milhões de cópias e vencedor de 4 Grammy, subiu pontualmente ao Palco NOS pelas 21H00 e começou logo por seduzir a plateia com humildade e simpatia ao referir que na edição de 2014 havia tocado no Palco Heineken e nesta edição passou para o palco principal do NOS Alive, o que considerou ser um upgrade elogioso.
Eu admito, embora não seja um cantor que reúna o meu leque de preferências musicais, muito menos no terceiro dia do festival, Sam Smith tornou-se uma boa surpresa. Pode até ser um falso modesto mas a empatia criada com uma casa quase cheia e o facto de recuperar alguns clássicos da música, preencheram uma actuação que foi sem dúvida uma aposta ganha para todos (organização, cantor e público).
Um alinhamento de luxo que foi naturalmente complementado com uma banda de suporte, que incluia vozes negras da soul, enriqueceu a actuação nos temas tocados como foi o exemplo de “Leave your lover”, “Lay me down”, “I´m not the only one” ou “Like I Can”.
Pelo meio, muita comunicação que criou no espectáculo uma empatia efervescente com o público e algumas confissões mais pessoais, como o período conturbado de amores que Sam Smith atravessou e que acabou por ser a grande fonte de inspiração para as letras do aclamado trabalho discográfico “In the Lonely Hour”.
Ao pegar em alguns clássicos e dar um cunho pessoal como foi o exemplo de “Tears Dry on their own” de Amy Winehouse, em vésperas do 4º aniversário do desaparecimento daquela que é considerada a artista do século XXI, (em tom de homenagem) foi recebido de forma muito positiva pelo público que entoou bem alto “He walks away, the sun goes down. He takes the day, but i´m grown. And in your way, in this blues shade. My tears dry on their own”.
Outros clássicos também foram revisitados como “Can´t help falling in love” de Elvis Presley, numa versão menos estilizada que o original.
Momento alto da actuação, foi para a música que colocou Sam Smith no caminho do sucesso com “La La La” onde o cantor britânico empresta a sua voz ao sucesso de Naughty Boy.
Com chave de ouro e a encerrar, “Money on my mind” e “Stay with me”.
Diria mesmo que se há um top dos melhores concertos da edição de 2015, Sam Smith tem lá a sua pegada.
“Psychocandy” de The Jesus & Mary Chain
Se existem bandas que foram revolucionárias no seu tempo e têm uma página escrita nos anais do rock dos anos 80, The Jesus & Mary Chain é uma delas.
A banda que se afirmou no panorama do rock inglês e internacional pelas vestes negras que envergavam e desprezo pelo mundo, canalizaram toda esta força para as suas canções melódicas e de uma profunda sensibilidade que viria a ser reconhecida pela indústria.
A banda que nasceu em 1984, lançou no ano seguinte “Psychocandy”, que viria a tornar-se um marco na carreira do quinteto oriundo da Escócia.
Porque este ano, fazem 30 anos da edição desse enorme sucesso, The Jesus & Mary Chain trouxeram ao Palco Heineken um concerto exclusivo de comemoração do primeiro trabalho de originais.
Os 31 anos de existência (com algumas interrupções pelo meio) poliram ainda mais uma banda que merece a distinção de diamante e logo a abrir com “Just like Honey”.
Fiel ao original de estúdio, o som “sujo” e distorcido contrasta com a sensibilidade das letras.
A atitude Shoegaze, premissa das bandas do género tal como os parceiros My Bloody Valentine ou Slowdive, recriou uma mística de indiferença com quem os rodeia, assim desbravando fielmente “Psycocandy”.
Chet Faker – Lisboa em Dose Dupla
Ainda andávamos a recuperar (no melhor dos sentidos da palavra) do concerto que Chet Faker deu no Coliseu de Lisboa no dia 4 de Julho e o NOS Alive volta à carga com outro concerto do artista australiano.
Recorde-se que Chet Faker, foi alinhado no cartaz do NOS Alive em substituição de Stromae, que tiveram que cancelar a participação no festival por motivos de doença.
Repetente no Alive (nós cá agradecemos), esta foi mais uma oportunidade para a promoção do álbum de estreia (editado em abril de 2014), “Built on Glass”.
O pensamento nubloso de Chet Faker que cruza o R&B e a música soul electrónica resulta num electroacústico efervescente que em muito nos faz recordar o britânico James Blake, que actuou na noite anterior no Palco Heineken.
Os efeitos visuais e o alinhamento apresentados no Coliseu foram copiosamente retratados no NOS Alive. – Não há absolutamente problema nenhum!… porque para quem não teve a oportunidade de se deslocar ao Coliseu, pôde saciar a fome de “Built on Glass” ao vivo.
A actuação, que durou aproximadamente uma hora, passou pelos magníficos temas como “I’m into You”, “Gold”, “Talk is Cheap” ou ainda a cover “No Diggity”.
Uma actuação competente de Chet Faker que foi ladeado por uma assistência rendida à sua voz que é complementada pela “sensualidade das suas composições electrónicas”.
Azealia Banks – “I´m Ready to Dance When the Vamp Up”
O Palco Heineken foi pequeno para acolher a imensidão de festivaleiros que às 00H05 estavam prontos para receber Azealia Banks.
Momentos antes do concerto da rapper nova-iorquina, claramente via-se um elevado grau de ansiedade pela assistência.
Azealia Banks, havia estado em Portugal na edição de 2013 do Super Bock, no Meco, mas na altura ainda não tinha um LP lançado.
À data da primeira vinda a solo luso, a artista contava apenas com um EP lançado e alguns temas que foram tornando-se virais na internet, tendo sido uma actuação um pouco imatura e “fast-food”.
O lançamento em 2014 do primeiro disco “Broke with Expensive Taste”, reinou uma disparidade nas opiniões, existindo publicações que o consideraram um dos melhores de 2014, mas outros há que teceram duras críticas ao lançamento do seu primeiro disco de originais.
Controvérsias e provocações à parte que caracterizam Azealia Banks, o retorno da norte-americana aos palcos portugueses, autora de hits como “212”, foi mais maduro e canalizou todas as sinergias em torno da sua prestação.
Fazendo-se acompanhar de um DJ e de dois bailarinos que abrilhantaram a festa, Azelia Banks chegou e venceu com os seus temas, recriando o revivalismo do hip hop urbano com chamamentos à disco dance coadjuvados com rap vocal que levaram o público ao êxtase em “Idle Dalilah”, “Heavy Metal and Reflective”, “Ice Princess”,“Yung Rapunxel” e o apoteótico “212”.
O público esteve à altura e a artista lançava o repto para as danças irreverentes de uma casa cheia que ovacionou incansavelmente a rapper.
Encerramento com Disclosure
A dupla inglesa Disclosure (projecto formado pelos irmãos Guy e Howard Lawrence), que estão com um disco na calha (“Caracal” a ser lançado em Setembro próximo) foram os escolhidos para encerrar as festividades da 9ª edição do festival NOS Alive.
Munidos do electrizante disco de estreia “Settle”, editado em 2013, os Disclosure, têm sido presença assídua em Portugal e trouxeram ao Passeio Marítimo de Algés, a conjugação de um jogo de luzes orquestrados com o pop electrónico, que faz deste duo de irmãos um dos projectos mais aclamados pela crítica e de um sucesso à escala planetária.
As matrizes são as mesmas e advinha-se, pelo que ouvimos ao vivo, que a fórmula de sucesso será idêntica para o próximo disco de originais.
Apesar do cansaço que já pesava no corpo, foi uma oportunidade para ver um espectáculo em grande escala com as emoções e ritmos frenéticos à flor da pele com temas ao vivo como “When a Fire Stars to Burn”, “F for You”, entre outros.
A terminar a actuação que foi majestosa por todo o aparato de jogos de luzes e projecções, tocaram o tema mais cativante (pessoalmente) com “Help me lose my mind” onde brilham em parceria com os compatriotas London Grammar.
E foi assim a 9ª edição do NOS Alive.
Um festival internacional mas com identidade local, que contraria os hábitos queirosianos que tanto Eça criticava nos portugueses (importar ideias lá de fora mas mal implementadas).
Ver Fotorreportagem Jorge Buco
O NOS Alive herdou as melhores práticas da organização dos festivais.
Cartaz eclético, bons espaços, bons acessos, boa comida e muita, muita qualidade que faz com que este festival receba mais de 50 nacionalidades, 400 jornalistas, sendo 70, oriundos de importantes meios de comunicação social estrangeiros, e principalmente porque tem representado um cluster de sucesso para a economia local promovendo Portugal por esse mundo fora.
Fotos: Jorge Buco / NOS Alive
Video: NOS Alive
Agradecimentos: Everything Is New / NOS