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O Sonho segundo Beach House

NOS Primavera Sound 2016

| Não faz nem um ano desde que a dupla franco-americana, Beach House, esteve em Portugal para apresentar os seus dois últimos trabalhos de estúdio, editados em 2015 – “Depression Cherry” e “Thank Your Lucky Stars”.

Se em 2015 estiveram em nome próprio, em Lisboa e Porto, desta vez voltaram ao local do crime, para repetir a proeza de 2012 e colocarem o NOS Primavera Sound nas estrelas, fazendo apenas um upgrade, do Palco Super Bock para o Palco NOS.
Não existirão muitas bandas a serem audaciosas e a contrariarem teoremas do marketing que num trimestre lançam dois álbuns, trabalhados em estúdio mas com temáticas distintas, diga-se, a cara e a coroa da mesma moeda.

Beach House

Se “Bloom” foi a droga perfeita para sonharmos livremente e de olhos abertos, “Depression Cherry” traz a nós o amor, a perda e a dor da ausência, para numa fórmula já testada, voltar a ser um disco e gostarmos de estar numa espiral lenta e deliciosa da depressão.

Mas nem só de depressão os Beach House carregam no coração, pois “Thank Your Lucky Stars”, é uma dança lenta entre os jogos sombrios da inocência e da fantasia que “Bloom” e “Teen Dream” pautaram.

A dupla Victoria Legrand e Alex Scally, são donos e senhores de uma quimera etérea e de atmosferas que tanto nos podem levar a bucólicas paisagens primaveris, como a galácticos cenários de cores cósmicas e auroras boreais, através do poder que emanam da voz grave de Legrand e dos misteriosos caminhos sonoros dos sintetizadores de Scally.

A missão não era generosa, uma vez que actuavam depois da cabeça de cartaz, PJ Harvey e nestas coisas uma grande fatia do público tendeu a dispersar-se ou a encerrar o dia do festival. Mas as sonoridades cintilantes e hipnóticas de Beach House fizeram com que milhares de presentes guardassem um espaço para eles, e julgamos pelo que vimos, que ninguém saiu arrependido.

Beach House

Victoria, como sempre tenta envolver-se por debaixo de um manto místico e entra em palco com um capuz que cintilava celestialmente no Parque da Cidade do Porto, cumprindo a promessa de “Levitation” – “There’s a place I want to take you”. Nós, na fragilidade de um mundo sideral somos transportados e vamos lentamente deixando-nos envolver como aconteceu logo na abertura por “Beyond Love”, numa epopeia ao amor! Aquele que fisicamente demonstramos como sinal maior de dois seres humanos que saciam o fogo, aquele que também Camões exalta, que arde mas que se vê e se sente, pele com pele.

E claro, depois de desarmados desta forma, a dupla que também são um casal leva-nos a flutuar sobre “Space Song”, onde a dor do fim do amor é servido de forma simples mas consistente com os sintetizadores a darem uma textura nebulosa.
Rendido estava um público, que no turbilhão do dream pop que borbulha e fervilha constrói múltiplas bandas sonoras para cada momento mais denso e intimo como em “Days of Candy”, “Elegy to the Void”, onde Legrand sai da sua zona de conforto e enverga uma guitarra para dedilhar um melódico solo, ou ainda “Spark”, e no regresso ao aclamado disco “Bloom”, com “Myth”.

Satisfação era farta, mas com a certeza que de que mais tempo houvesse, mais tempo estaríamos para sonhar acordados numa actuação mágica.

Fotos: NOS Primavera Sound © Hugo Lima | www.hugolima.com | www.fb.me/hugolimaphotography

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