Centro Cultural da Malaposta
| Quem não conhece a expressão “2 dedos de conversa”?
Agora a esta expressão junte, comédia, stand up comedy e terá o projecto “2 Dedos de Comédia” que nasceu da junção de um grupo de amigos que faziam espectáculos em vários bares do país.
Quem os acolhe agora em Janeiro e Fevereiro é o Centro Cultural da Malaposta, onde prometem, fazer rir, meter o dedo na ferida e conversa. Muita e boa conversa.
O Jornal Dínamo® foi encontrar no Café-Teatro do Centro Cultural, Eduardo Ramos e Fábio Carvalho, os dois actores que integram este projecto, e quis saber um pouco mais do que vai ser feito este espectáculo.
Para começar Fábio Carvalho, contou-nos como nasceu o “2 Dedos de Comédia”. “Andámos muitos anos a trabalhar em bares, tendo começado com mais uma pessoa que é o Guilherme Fonseca que vem também em Fevereiro. Quando demos conta e porque já andávamos a fazer estes espectáculos há algum tempo, sugeri criarmos um grupo e arranjar espectáculos e assim surgiu o grupo “2 Dedos de Conversa”, com o qual começamos a fazer espectáculos em auditórios”.
Quisemos saber também, acerca da facilidade ou não de fazer rir um público e Eduardo Ramos, explicou-nos que “a coisa mais difícil que se pode fazer no teatro é fazer rir. Fazer chorar é bastante mais fácil. Uma das histórias que gosto de contar é acerca de uma conversa que o filho do Raul Solnado teve com o pai. Ele disse ao Raul Solnado: “eu quero fazer comédia” e o pai disse: “não te metas nisso”. Para explicar isso ainda melhor vou dar um exemplo: se há uma criança com uma doença terminal e morrer amanhã e se resolver contar isso a alguém, facilmente uma pessoa chora e se for muito sensível de certeza, agora experimentar dizer a mesma coisa para fazer rir de certeza que o efeito não será de todo o mesmo. Numa linha só de piadas, chegamos a “perder”uma hora inteira a mexer-lhe, e isto só à procura da estrutura certa, e de usar as palavras certas para fazer rir”.
Entretanto Fábio Carvalho por seu lado, falou-nos da estrutura do stand up comedy. “Nos espectáculos cada um tem a sua forma de trabalhar e não existe uma regra. Há comediantes que montam os seus espectáculos baseando-se na apresentação de cerca de 3 espectáculos em que não existe propriamente um texto. Têm umas ideias e usam-nas. A seguir vão então sim construir o seu texto com base naquilo que funcionou e criar um espectáculo para apresentar num auditório. No nosso caso, escrevemos os nossos textos com as ideias que temos, experimentamos e vimos o que deve ficar e o que deve ser retirado”.
Outra das perguntas do Jornal Dínamo®, foi precisamente se os comediantes sabem o que faz sempre rir, e Eduardo Ramos explicou que tudo depende muito do sítio onde se faz o espectáculo, e do público. “Eu tinha uma piada, que havia dias que funcionava e outros não, e eu disse para mim mesmo… “não… isto tem de funcionar sempre”, e então fartei-me de a reformular e acabei por fazê-la de uma forma que agora faz sempre rir. Geograficamente falando por exemplo, as piadas que funcionam aqui não funcionam no Norte e para além disso isso varia também segundo o público. Colegas que estiveram no Brasil dizem que o público se ri de coisas que cá ninguém se ri. E há também situações em que ainda não acabámos a piada e as pessoas já se estão a rir. Penso que o público, por um lado tem receio e também não sabe bem o que é o “Stand Up Comedy”. Muitas pessoas continuam a associar o “Stand Up Comedy” às anedotas e isso não é bem assim, e geralmente o que acontece é que quem vem a primeira vez, geralmente volta outras vezes. Chegámos já a ter queixas de certas pessoas que dizem que saem dos nossos espectáculos com as maçãs do rosto a doer (risos), porque vamos buscar coisas que nem lembra o diabo. Acho que até o diabo fica espantado (risos). As pessoas por vezes não vão ao teatro, porque o ligam a certos estereótipos como ser intelectual, ter de ir engravatado, e com as melhores roupas e em termos de comédias não sabem bem o que são, e então acabam por optar ir ao cinema. Quando chegam aos nossos espectáculos vêem um fulano (que sou eu), agarrado a um microfone e de mangas à cava (risos) e sem maquilhagem (uma opção nossa). Para além disso, não temos cenário. A única coisa que temos é um microfone e uma cadeira para servir de apoio, porque a atenção deverá estar focada no comediante e não no que o rodeia. Outra coisa que gostaríamos que as pessoas fizessem é que não segurassem o riso. O riso sai quando tem de sair e não é preciso estar calado, como quando se vai ver uma peça de teatro”.
Falando especificamente do espectáculo, Fábio Carvalho e Eduardo Ramos, contaram-nos um pouco dos assuntos que irão abordar neste espectáculo. Fábio Carvalho (à direita) contou-nos que vai falar de si próprio. “Em termos de assuntos que abordamos, eles são variados. No meu caso eu vou apresentar um plano contra a crise (risos). Mas há outras coisas. Agora em Janeiro eu vou falar sobre o meu nascimento, a minha infância e sobre coisas que já se passaram há algum tempo, e é um texto completamente novo, o que vai ser um grande desafio para mim”.
Já Eduardo Ramos optou pelo acordo ortográfico. “Eu vou abordar o acordo ortográfico, os problemas que temos com o alfabeto, porque há muitas pessoas que não sabem o que se está a passar com ele, e eu tenho umas ideias e vou fazer umas associações com a vida actual. Outro assunto do qual vou falar é sobre histórias infantis e os seus significados subliminares e as suas morais”.
Fábio Carvalho salientou ainda que: “falamos de coisas que nos tiram o sono (risos), rebolamos na cama só a pensar nelas (risos)”.
A terminar pedimos aos comediantes que deixassem uma mensagem, para todos os que se atreverem a ir ver este colectivo “2 Dedos de Comédia”.
Eduardo Ramos pede que arrisquem. “Ao não virem ver estes espectáculos e o teatro em geral, as pessoas estão a fazer com que muita coisa lhes passe ao lado. Ao não virem, nem se apercebem que se calhar só tinham a ganhar em experimentar ver coisas diferentes, por isso venham até ao Centro Cultural da Malaposta ver “2 Dedos de Comédia”.
Fábio Carvalho deixou também uma mensagem a todos os que vierem ver “2 Dedos de Comédia”. “Venham ao teatro, não precisam de vir engravatados nem com lantejoulas. Não é caro, podem beber uma cerveja, até porque isto é um Café-Teatro. Mas a mensagem que queria na verdade deixar é que venham mais ao teatro, quer seja comédia ou não, porque vão sentir que ganharam algo de novo. E as pessoas que já nos viram, que venham outra vez porque temos sempre textos novos”.
Os espectáculos “2 Dedos de Comédia”, terão lugar dia 14 de Janeiro e 23 de Fevereiro pelas 21H45, sempre no Café-Teatro do Centro Cultural da Malaposta.
Fonte: Jornal Dínamo® / Centro Cultural da Malaposta
Fotos: Pedro Filipe