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“Diz-me Deças”

Centro Cultural da Malaposta

‘O riso é a mais útil forma da crítica, porque é a mais acessível à multidão. O riso dirige-se não ao letrado e ao filósofo, mas à massa, ao imenso público anónimo.’
Eça de Queirós

Pode-se dizer que esta peça de teatro é um Ensaio, em que o Ensaio é a cena principal.

O Jornal Dínamo® ficou muito curioso e foi assistir à estreia deste espectáculo. Assim que entramos um dos actores já em palco, está em pleno ensaio… e vai fazendo precisamente aquilo que se faz num ensaio… ensaia…

Diz-me dEÇAs

As pessoas foram-se acomodando e o actor pergunta as horas a um dos espectadores… de repente, de uma das laterais surge afogueado um outro actor, já meio atrasado e sobe para o palco.
Talvez os mais distraídos não tenham percebido, mas a peça começou assim que entraram na sala.

“Diz-me dEÇAs” é isso mesmo um Ensaio, com todos os ingredientes de um Ensaio. Neste caso dois actores (António Machado e Philippe Leroux) estão a preparar um novo espectáculo, baseado em textos de Eça de Queirós e outros autores antigos, maioritariamente portugueses.

Ao longo do ensaio, vão discutindo, de papéis na mão, quais os textos que devem escolher para o espectáculo que irão fazer nas suas diversas formas de os interpretar. Algumas vezes estando de acordo, outras nem por isso.

Mas o ensaio, inclui o público também, com quem os dois actores interagem de diversas formas… até porque a actualidade de alguns dos textos remontam a alguns séculos atrás, fazendo parecer que são dos tempos de hoje.

Este é um espectáculo diferente, de onde se sai bastante bem disposto, mas onde são abordados aspectos e assuntos sérios de uma forma leve, mas não de forma leviana.

No fim o Jornal Dínamo®, conversou com os actores e o criador do espectáculo, que nos disseram de como se finge fazer um ensaio, num espectáculo, onde tudo está mais que estudado e previsto.

António Machado falou um pouco há cerca deste ensaio. “Foi sem dúvida muito interessante este desafio e foi uma grande aposta em nós próprios e que em palco dá muito gozo fazer. Fazemos de nós próprios e portanto eu considero que este é o casamento perfeito”.

Quanto ao Actor Philippe Leroux, foi unânime em dizer que foi mais um desafio e divertido. “Bom, nós estamos a mentir um pouco às pessoas, porque aquilo está tudo preparado (risos), mas a ideia é que o espectador sinta que está a assistir a um ensaio de um espectáculo. Uma das partes muito interessantes que era o que o António estava a dizer é que nós estamos a fazer de nós próprios e nem sempre há essa oportunidade. Numa peça de teatro temos de vestir a pele de personagens. Em “Diz-me Deças” ter a oportunidade de juntar a nossa personalidade a estes maravilhosos textos é sem dúvida muito bom”.

Diz-me dEÇAs

Em termos de improvisação, quisemos saber, qual é o grau que existe em “Diz-me Deças” e António Machado explicou como é que funciona neste espectáculo. “A improvisação existe claro, mas o fio à meada dos textos nunca se perde. É claro que dizemos algumas coisas pelo meio dos textos, mas existe uma ordem, e essa ordem não se perde nunca. Esta foi uma preocupação do António Pereira. Nós pelo meio fomos inventando algumas coisas, mas o cuidado de não alterar os textos foi muitíssimo. Não se colocou palavras soltas ou piadas no meio das frases e dos textos”.

Philippe Leroux explicou também que “a estrutura dos textos já estava toda organizada. A parte da improvisação, é uma coisa que depois foi crescendo, sem, como já referi alterar ou estragar os textos e as frases. Em cada apresentação lima-se essas coisas, essas piadas que se podem inserir no espectáculo”.

Quanto à interacção com o público, os dois actores são unânimes em dizer que é essencial, uma vez que “o público é parte do espectáculo, e esta é uma grande abertura, o facto de o podermos partilhar com eles. O público em certa altura ajuda na tomada da decisão. O engraçado é que as pessoas ao princípio acham estranho e pensam se realmente devem ou não responder, mas depois acabam por ser também interventoras. Pode parecer que estão no meio de um improviso mas a verdade é que tudo está estudado para acontecer assim”.

O criador da peça, António Pereira, e também encenador juntamente com os dois actores, explicou como surgiu a ideia desta peça: “A ideia é minha e foi inspirada numa outra peça que eu produzi mas que não é minha e que eu sempre achei que era uma óptima base de trabalho. A juntar a tudo isto, eu sou fã do Eça de Queiroz desde adolescente e há uns tempos para cá que me sentia espantado com a actualidade de muitos textos dele e também de outros autores. Passei então para a fase de recolha e organização de textos e como a outra peça já estava em fim de vida, surgiu o desafio de fazer este espectáculo. Juntei textos do Eça de Queiroz, de outros autores e agarrei em alguns textos meus que são mais actuais e construí um entrelaçado de textos, e uma história que se baseia num Ensaio, ao qual eu faltei, mas que de qualquer das formas aconteceu. Os actores vão testando os textos que lhes deixei interagindo com o público que entretanto chegou para ver o Ensaio. Os actores usam algumas frases para embirrar um bocadinho um com o outro ou para puxar os galões mas as frases usadas estão totalmente estudadas e nada é ao acaso. A ideia também passou por falar de coisas sérias mas sem massacrar as pessoas. O texto da “Ratolândia” por exemplo é um texto pesadíssimo mas a forma como se decidiu apresentá-lo, faz as pessoas rirem o tempo todo. Todos nós nos acabamos também por rir de nós próprios. Os textos mais pesados são enquadrados em frases que servem de mote e que dizem precisamente isso “Agora vamos gozar também um pouco connosco” ou mais comummente dizendo “vamos enfiar a carapuça”. Penso até que nós seres humanos não andamos com disposição de aceitar as coisas de outra forma e portanto tentámos fazer isso de uma maneira bem disposta”.

Diz-me dEÇAs

“Diz-me Deças”, é uma forma engraçada de falar de coisas sérias, de uma maneira leve que arranca ao público grandes gargalhadas, mas para que o faça terá mesmo que ir ver.

António Machado, Philippe Leroux a António Pereira, convidam, e dão-nos o prazer de interagir com eles.

O espaço é mais uma vez a casa da cultura por excelência, o Centro Cultural da Malaposta e a peça estará em cena até dia 3 de Dezembro, partindo depois para digressão pelo país.

Não perca este momento de boa disposição com dois actores que já conhecemos bem, e que têm sempre algo mais para nos dar e até para nos surpreender.

Fotos: Sandra Adonis

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