Entrevista
| Esta é uma daquelas entrevistas que já deveria ter acontecido há muito. Ou, não. Se calhar, este foi o momento certo para ela acontecer. Foi com dois metros de distância, máscara e gel que foi possível realizá-la e claro graças à disponibilidade de uma das pessoas mais criativas que Portugal tem, Dino Alves.
Falámos um pouco de tudo, dos inícios, do presente e até do futuro, mas acima de tudo o que aqui aconteceu foi uma partilha de coração do que este Criador de Moda, já partilhou e o muito que ainda tem para partilhar.
J.D. – Sendo esta a nossa primeira entrevista de fundo, conta-me um pouco de como aconteceu teres vindo parar à Moda? Foi uma escolha desde cedo?
D.A. – Eu falo um bocadinho acerca disto com alguns amigos, que tenho uma convicção que há uma série de coisas que nascem connosco, sobretudo estas tendências para determinadas áreas, o talento, o carisma. Elas não se ensinam, já nascem com as pessoas.
Por exemplo, nos concursos de talentos que existem agora, vejo miúdos que me emocionam pelo talento que já mostram (e o talento das pessoas é uma coisa que me emociona muito).
Quando vou ver um espectáculo, quando é realmente bom emociono-me ao ver porque acima de tudo é genuíno e é isso que eu espero sempre que aconteça quando vou ver algo, seja uma exposição, um concerto ou outro tipo de espectáculo.
Há casos, que conheço em que a história da pessoa é conhecida e há uma envolvência em torno da pessoa, onde se percebe que não existiu qualquer influência de pai, de mãe, não cresceram no meio em que se inserem e que os influenciasse e, portanto, isso só pode ser algo que vem na génese. Não sei muito bem como explicar isto, mas é algo que já nasce com a pessoa.
Um bom exemplo é o filme que fizeram sobre o cantor Elton John, como já vi de outros artistas com a dimensão que tiveram e têm e a história acaba por se repetir quase em todas. São pessoas que vieram de meios mais pobres, ou de meios muito austeros, lares por vezes desfeitos onde existiu violência doméstica, onde existia muita solidão.
Eu comento isso com uma grande amiga e actriz que é a Maria Rueff e nós temos uma teoria de que metaforicamente “para se ser artista é preciso ter-se vendido limões”. Isto vem um bocadinho também da história da fadista Amália Rodrigues.
O que eu quero dizer com isto é que há algumas coisas que nos acontecem, na vida, na infância, sejam estes exemplos que já dei, ou por exemplo a perda de alguém muito importante ou um distúrbio emocional que depois potencia essa parte que acaba por vir ao de cima.
Fiz este enquadramento para explicar que eu não tive ninguém na família ligado às artes, não cresci num contexto artístico, nem na altura onde eu vivia, em Anadia, não havia acesso a informação, muito menos internet, que na altura ainda não existia.
Desde os meus 5, 6 anos, já tinha determinadas atitudes e já tinha uma cabeça que não se enquadrava no sítio onde vivia.
Eu nasci em Anadia, na altura ainda uma vila, mas a minha cabeça “vivia” fora de lá, sendo que na altura era tudo muito mais difícil.
O acesso que tínhamos a ver algumas coisas mais de fora, era um canal que só funcionava umas horas ao dia e a RTP1 que acabava à meia-noite, meia-noite e meia com o hino e depois era o vazio.
Quando apareceu a MTV, passavam os telediscos (como se chamavam na altura), que eu ficava horas à espera que aparecessem porque eram um pouco aleatórios e ficava fascinado quando os via, porque se via todo um lado estético que não se via todos os dias, a forma como os artistas se apresentavam, as roupas, os penteados, etc…
Desde que me lembro que sempre fui muito atento a isso e sempre me identifiquei com algumas destas personalidades.
Lembro-me de várias coisas, que já indiciavam que a moda era uma coisa inevitável na minha vida, apesar de depois eu ter optado por fazer o curso de pintura.
Na altura a moda não tinha a importância e o valor que tem nos dias de hoje.
O meu pensamento era nesses tempos que ser estilista era algo mais superficial ou mesmo até fútil. Claro que hoje a minha opinião é precisamente o oposto e dependendo da forma como se está na moda, seja de uma forma mais comercial ou mais conceptual tudo é muito válido.
Como eu gostava muito de artes e era muito fascinado pelos intelectuais, achei que fazer o curso de artes plásticas era uma coisa mais filosófica, mais aquilo que estava perto da minha visão.
Hoje considero que a moda também tem essa parte e penso que o que eu passo através da moda, é a mesma coisa que outras pessoas passam pela pintura, escultura, através de instalações de variadas artes.
Eu já fiz algumas peças que para mim estão equiparadas a esculturas, até porque eu considero que o pensamento da criação é igual.
Mas voltando às origens, lembro-me de ser pequenito e já ser eu a escolher as minhas roupas, mesmo numa altura que até o pronto-a-vestir era muito limitado e o conhecimento era pouco para ajudar a formar o gosto e a opinião, porque essa parte é extremamente importante.
Ou seja, resumindo, eu acredito que há coisas que já nascem connosco e essa é a única razão que encontro para explicar a criação.
Lembro-me no tempo em que as modistas iam a casa para fazer as roupas que eram pedidas, que eu já escolhia os tecidos, as cores, dizia que queria umas calças com determinados feitios e o mais curioso é que a minha mãe acatava as minhas vontades e decisões (risos), o que também não é muito normal num meio pequeno.
Há um episódio que está sempre presente na minha mente, de um conjunto em bombazine bordeaux, com calças estilo vaqueiro e uma jaqueta justa como ainda hoje se usam, que eu terei visto num filme, ou na televisão (não sei já precisar).
Os meus pais correram tudo à procura de algo assim, para satisfazerem a vontade de uma criança com 6 anos. Isto demonstra que os próprios pais já viam alguma visão diferente em mim.
Corremos uma quantidade de lojas em Coimbra e Aveiro e não encontrámos nada, mas os meus pais nunca desistiram.
A dada altura em Aveiro, numa boutique, na Av. Lourenço Peixinho, vejo a empregada da loja a vir lá do armazém da loja com o cabide e a jaqueta e na altura fiquei extasiado, pensei que aquilo era um milagre.
O meu pai tinha um Mini Morris, porque o meu pai é alto, tinha mais de 1.80m, o que não era muito comum para a altura e há uma foto (que não sei bem onde pára), onde estou eu com essa roupa ao pé do carro tipo pop star, com perna numa das partes do carro com a porta aberta e com o cabelo à Beatle (risos).
Eu sempre vivi em consonância com a moda, ou seja atento ao que lá vinha, sempre com a ideia em mente, num exercício estético de, se esta peça Y se está a usar agora, daqui a uns tempos aquela peça X vai-se usar.
Quando vim para Lisboa, tinha em mente trabalhar em artes plásticas e cheguei a fazer umas exposições, mas como a moda estava na verdade intrinsecamente em mim e muitas pessoas me diziam que eu deveria ir para moda porque tinha jeito, comecei a fazer alguns trabalhos de styling para alguns amigos, conheci alguns artistas que reconheciam essa capacidade em mim e começaram a pedir-me ajuda. Entretanto um amigo incentivou-me a participar nas “Manobras de Maio”, mas que eu achei que era uma coisa pontual, tipo mais performance que desfile, e que daí a um mês ou dois poderia estar a fazer uma instalação, como depois poderia estar a fazer uma pintura. Para mim ou se era artista ou não. Eu já fiz, por exemplo, desfiles que são encenações.
Eu tenho noção de que há certas técnicas que não domino, o que acho é que as artes estão dentro de mim, e com elas eu posso fazer aquilo que a imaginação me ditar. E tenho muitas ideias que ainda não saíram da “gaveta”, mas penso que há um tempo para tudo.
J.D. – Como vias a Moda nessa altura e volvidos estes anos de carreira, a vês agora?
D.A. – Penso que acabei por falar também um pouco disso na pergunta anterior.
Não era desvalorizar a Moda no passado, a Moda é que ganhou muita importância ao longo que os anos foram passando.
As nossas ideias é que vão amadurecendo à medida que vamos também ficando mais “Maduros”.
Havia as costureiras e as modistas que eram um pouco mais que as costureiras, mas depois não eram reconhecidas como criadoras de moda.
Mais tarde começaram a aparecer os costureiros, já mais ligados à alta-costura, ou seja à roupa por medida e só depois é que apareceram os designers de moda, ou os criadores de moda (eu especialmente gosto mais da expressão criador).
Quando era mais novo tinha um pouco de receio que não me vissem como um artista intelectual, que era o que eu queria ser e me vissem de uma forma mais superficial.
Hoje em dia tenho referências fantásticas e já não vou falar do Alexander McQueen, nem do John Galliano, que juntam um bocadinho, as duas partes, a artística e a moda, falo de outros que são mais conceptuais, como a Margiella ou Viktor & Rolf, que agora até só fazem alta-costura. Vi desfiles deles que considero-as esculturas. Não é de todo só roupa, mas também é roupa. Aliás, eu acho que tudo o que sirva para cobrir o corpo, é roupa.
No caso do Viktor & Rolf, a arte vai para além da roupa.
E, portanto, hoje vejo a moda de uma forma totalmente diferente. Reconheço muito mais valor, porque moda é arte.
J.D – As tuas criações causam sempre sensação. Aliás um desfile teu é sempre algo aguardado com muito entusiasmo. Como funciona o teu processo criativo?
D.A. – Essa é uma questão muito complexa. Há bocado falávamos porque é que eu não tinha feito a ModaLisboa na última temporada. A questão passou também um pouco por aí.
Saber que as pessoas estão sempre à espera de algo diferente da minha parte, chegou em certas alturas a criar-me angústia. E desta vez provavelmente o que eu pudesse fazer, iria ficar sempre aquém dessa expectativa e isso fez-me pensar. Se não conseguir isso e não conseguir ir um pouco mais além de estação para estação queremos sempre subir um pouco mais a fasquia.
Na temporada passada achei que era difícil e claro essa foi uma das causas para não ter feito o desfile. Ainda tive algumas semanas antes para decidir se fazia ou não, mas depois tive de dar uma resposta, por causa da calendarização.
E pensei: só farei se tiver uma ideia que eu ache que acrescenta alguma coisa e que faça sentido neste panorama e que não seja só fazer por fazer. Tem sempre que deixar uma mensagem importante e essa ideia surgiu… mas as condições que coloquei, nos tempos que estamos a passar tornaram-se inexequíveis e uma dessas condições era o espaço que escolhi. E se fizesse nos espaços que a ModaLisboa escolheu, ia-se perder o conceito e ideia.
Ainda tentei uma outra alternativa, mas logisticamente não foi de todo possível e então acabei por não fazer.
Em relação ao meu processo criativo, não tem propriamente uma fórmula. Há algumas coisas que são comuns. Como por exemplo o facto de eu definir na minha cabeça, o que quero comunicar às pessoas.
Desde que exista uma preocupação social, um movimento de reacção qualquer, uma revolta não violenta. Aliás, eu fiz um desfile ao qual chamei “Reacção” e que terminava com uma manifestação e era uma forma de dizer às pessoas para reagirem, através de vestir, da cor do cabelo. Aliás, o movimento “Punk” não foi mais do que isso. Aliás, eu posso não ter sido um punk no sentido de usar picos nas pulseiras, colares, mas usava cortes de cabelo punks.
Resumindo, o que quero dizer é que temos de ter sempre algo para dizer e não tem obrigatoriamente de ser sempre um statement ou uma reacção, pode ser apenas expor um gosto estético, homenagear alguém ou algo e isso para mim é um denominador comum em tudo aquilo que eu faço.
Há uma coisa muito engraçada no meu processo criativo. No dia a seguir ao meu desfile e depois da descompressão geralmente na festa final, no dia seguinte acordo já sempre com uma ideia do que é que vai ser a seguir. E isto para mim é um caminho, que nos leva a continuar o mesmo pensamento ou nos leva a ir por uma ideia diferente. Se eu fiz de uma maneira, é provável que me apeteça fazer o oposto. Na verdade, eu vou continuando o meu processo criativo, como vou vivendo. É tudo um bocadinho orgânico e intuitivo.
O meu processo criativo trabalha todo um pouco ao mesmo tempo. Não desenho tudo ao mesmo tempo, há para começar uma grande mistura (não deixa de ser um pouco caótico), mas já reconheci que o resultado é aquilo que é por ser feito desta forma. Se fosse de outra forma provavelmente o resultado não seria o mesmo e não era tão natural e tão verdadeiro.
Não quer dizer que os outros métodos também não funcionem, mas para mim é este. É um pouco doloroso por vezes, porque chega a uma altura em que é um caos e fico extremamente cansado e acaba por haver uma desorientação, mas essa desorientação é o que ajuda ao resultado final. Já tentei mudar o método, mas não consegui, porque eu sou assim e funciono assim.
O desfile em que eu cantei, começou por eu pensar que seria muito interessante fazê-lo. Começar com tudo em branco e depois aos poucos ir aparecendo uma cor, depois outra e culminar na cena e pensar na mensagem que queria passar.
J.D. – Para além das tuas criações, fazes também muito trabalho para espectáculos. Tal como peças de teatro. Este é um trabalho que gostas de fazer?
D.A. – Na verdade, as pessoas começaram-me a solicitar como figurinista também pelos meus desfiles. Houve uma altura em que sentia que tinha de fazer algum espalhafato qualquer, porque era o que as pessoas esperavam então resolvi parar um pouco com isso, porque na verdade isso estava-me a causar alguma angústia que me levava a pensar o que é que me faltava fazer em cima do palco ou na passerelle, dar um tiro na testa?… então, resolvi parar com a intenção de desabituar um bocadinho as pessoas, a eu ter de ter esse compromisso e ao mesmo tempo também porque eu acabava por me sentir um pouco subestimado, a nível da parte da roupa. As pessoas queriam ver o espectáculo, mas depois a roupa era posta um pouco de lado.
Então decidi fazer com que as pessoas percebessem que eu podia juntar as duas coisas. Ou seja, ter a parte de espectáculo que tinha desde o início, mas ter também as peças bem-feitas, e bem confeccionadas.
Ao princípio era mesmo pelo teatro que o fazia.
Relembro alguns desfiles, como aquele em que coloquei alguns manequins de loja e depois coloquei manequins homens a carregarem manequins raparigas, mas como se fossem de carne e osso… aquilo foi um bailado. E fiz outros do género e penso que, por causa disso, começaram-me a pedir para fazer modelos para espectáculos.
É claro que o que eu gosto realmente de fazer, são as minhas coisas, porque é onde eu tenho de trabalhar com coisas que já estão predefinidas.
O texto de um espectáculo baseado muitas vezes numa peça de autor, a mensagem é o que o escritor quis passar, mas acaba sempre por haver uma margem para colocar os nossos inputs. Mas na verdade, há um caminho que já está definido que eu tenho e seguir e obedecer ao que o encenador e director do espectáculo quer como opções estéticas.
Como sempre gostei muito do mundo do espectáculo, quando vim para Lisboa, pensei que poderia fazer trabalhos desse género, porque sempre fui muito atento aos artistas, mesmo atento àqueles que não são da minha geração. Eu sei quem são e o que fizeram e gosto do palco e sinto-me bem nesse meio e isso foi meio caminho andado para fazer esse trabalho.
A última peça que fiz foi o “Ricardo Terceiro” de Shakespeare com o Diogo Infante e que considero uma peça muito forte e gostei muito do resultado do meu trabalho. Entretanto a pandemia acabou por retirar esta peça de cena. E já foi uma sorte ter-se conseguido que fosse apresentada. Foi adiada, conforme o estado de confinamento foi sendo declarado, até que depois foi reagendado para final de Outubro e ainda corremos algum risco de acontecer. Mas conseguiu-se e foi mesmo muito bom este trabalho.
Penso que consegui criar um figurino de época, apesar que exactamente de época só mesmo o texto e a forma de o dizer. De resto, havia muitas coisas que eram muito contemporâneas, como o cenário e alguns recursos a logísticas de agora. Eu quis fazer uns figurinos que as pessoas percebessem que remetiam para a época, ou seja inspirado em pormenores de época, mas que ao mesmo tempo fossem coisas de agora.
Para se fazer este tipo de trabalhos, quer seja figurinos, quer seja outras coisas ligadas ao espectáculo em que existe um encenador que tem as suas opções estéticas, tem de existir alguma generosidade. Tu és tanto melhor figurinista, quanto melhor fores de encontro aquilo que se te é pedido. Não propriamente um desfile de moda.
Já aconteceu eu ter feito trabalhos, onde eu sei que as pessoas sabem que os figurinos são meus, e estão à espera de ver roupas, como vêm nos desfiles meio espampanantes ou mais fora do comum, e não é isso que a personagem pede, nem o espectáculo.
Por vezes penso que as pessoas, estão à espera de ver isso e achar que é muito “pouquinho”. Mas na verdade ser figurinista, é ir de encontro ao que lhe é pedido para fazer. Se a personagem pede uma figura pitoresca, ou mesmo pirosa eu tenho de conseguir através dos figurinos passar isso. Muitas vezes esses são os trabalhos mais difíceis de fazer.
Já fiz ao todo, umas 60 peças de teatro, que penso já é trabalho mostrado.
J.D. – Agora com a pandemia, que alterações achas que deveriam acontecer para ajudar o mercado da moda?
D.A. – O que agora se anda a falar muito é que a parte digital é que está a avançar, ou seja as vendas online. Colocando-me do outro lado, tenho muita dificuldade ainda em lidar com esta realidade.
Finalmente estou a colocar o meu site a funcionar, e essa foi a parte boa do confinamento (se posso colocar a questão assim), porque tive mais tempo para seleccionar conteúdos. Já tenho uma carreira de mais de 20 anos, e não tenho só a parte dos desfiles, tenho também a parte do trabalho, do qual falei há pouco e então compilar isto tudo, escolher, seleccionar e identificar tudo muito bem dá muito trabalho. Mas daqui a pouco tempo estará preparado para receber quem lá desejar ir e eu também estou muito satisfeito com isso, porque ele está a ficar mesmo como quero e tem tudo a ver comigo, tem uma dinâmica interessante, é divertido. Penso que esse também é um lado que as pessoas sempre associaram à minha pessoa.
Também enquanto pessoa eu tenho essa parte, divertida e com humor. Tenho alguns amigos que são comediantes que acham que eu tenho os ritmos da comédia (risos).
Na verdade, eu tenho dois lados distintos. Tanto sou muito tímido como depois também tenho um lado muito divertido, e claro que quando estou com pessoas com as quais estou à vontade, esse lado ainda sobressai mais. O site espelha muito esse meu lado.
Este também está a ser um desafio para mim, porque não sou uma pessoa que compra muito online. Para mim é importante ver as coisas na mão, sentir as texturas dos tecidos, ver os tecidos. Online as coisas são diferentes.
Como disse também, estando do outro lado sinto dificuldade, mas estando do lado de quem vende, tento não ver as coisas só à minha maneira ou ao meu espelho. Esta é, sem dúvida, uma parte que quero desenvolver.
O ano de 2020, foi um grande desafio, mas penso que temos de tentar não ver só a parte negativa, há que tentar tirar algo de positivo de tudo o que tem acontecido, tendo a noção de que a parte má foi tão má que não é fácil fazê-lo, até porque ainda não saímos desta situação e não sabemos bem quando vamos sair.
Há muitas pessoas já a viver no limiar da pobreza e na minha área, é onde há mais pessoas a passar realmente mal.
No meu caso, penso que o que conquistamos ao longo da vida não é só juntar dinheiro numa conta bancária e ter alguns bens. Há uma parte que também é património, que são as relações de amizade que se conquistam e que funcionam como alicerces.
Eu tenho a certeza que por mais que esta situação se prolongue e que existam dificuldades, a classe artística onde me incluo e também incluo, músicos, técnicos e outras profissões associadas à cultura, é sem dúvida uma das mais afectadas. Porque as actividades parando, porque elas dependem do público, não têm grandes alternativas para continuar.
No meio de tudo isto a parte boa, foi a parte ambiental, porque parando certas coisas, o planeta pôde respirar um pouco, mas isso poderia ser feito independentemente de estarmos no meio de uma pandemia.
A outra parte que apesar de tudo também foi positiva, foi esta paragem permitir que tivéssemos mais tempo para nós e estarmos com nós próprios numa introspecção, apesar de que mais uma vez digo que não era preciso estarmos no meio de uma pandemia para o fazermos.
Percebemos que na verdade, as coisas são de tal forma relativas, que afinal não precisamos assim de tanta coisa para podermos viver bem.
Actualmente o não estar entubado, numa cama de hospital, já é estar bem.
Antes de sonhar que poderia haver uma pandemia, eu fiz um desfile em que lancei alguns statements, em que os modelos seguram placas com frases fortes culminando o desfile numa manifestação. Uma das frases dizia “Wear Clothes That Matter”, ou seja, usem coisas que importem e que sejam descartáveis.
Usem peças de roupa que façam a diferença. Isso é uma das coisas que eu considero cada vez mais importantes. A elegância é intemporal.
J.D. – Achas que os preços das criações dos Designers Portugueses, faz com que as pessoas “fujam” para um pret-à-porter com menos qualidade e mais barato? E como se pode mudar a maneira de pensar das pessoas?
D.A. – Eu penso que isso poderá ter algum fundamento. Obviamente que uma peça minha ou de um outro colega é inevitavelmente mais cara, porque as coisas não são feitas em série, não se fazem aos milhões, mas penso que também há uma ideia de que as coisas são piores do que na verdade são.
Ou seja, as pessoas acham que, na maior parte é muito mais caro do que é, que o acesso é muito mais difícil do que é.
A média de custo de um par de calças da minha autoria, pode custar entre 100€ e 120€. Se, por exemplo, eu for a uma marca tipo “Diesel” eu por umas calças de ganga que existem aos milhares, pago à vontade uns 200€.
E quando eu pago esse valor por certas peças, estou a compactuar também com o que contribuiu para elas existirem e que não é muitas das vezes muito bom. Penso que existe alguma desinformação nesta área.
Ainda respondendo à tua pergunta, a questão dos calendários por exemplo, já há muitas marcas a preferirem apresentar as suas colecções em cima da estação. É algo que eles chamam de “See Now, Buy Now”, traduzindo “Vê Agora, Compra Agora”. Porque tudo aquilo que se tem feito com uma antecipação acaba por ser um bocadinho sufocante, porque há um investimento que ainda não teve resultados, porque ainda não entrou a estação. Quando se está a investir numa estação, a colecção anterior ainda não foi vendida.
E isto para ser um ciclo mais ou menos justo, deveria ser: faz-se uma estação, essas peças serem rentabilizadas, para depois com esse dinheiro investir para a estação seguinte.
Por exemplo, o “Hospital da Roupa” que é um projecto que já tenho há muitos anos, as pessoas acham que quem recorre a ele, são pessoas que não têm poder económico para comprar novo e não é assim. Há muitas pessoas que recorrem, porque gostam tanto de uma peça, que por estar muito usada precisa de uma intervenção.
É essa mentalidade que as pessoas poderiam ter mais e não comprar desmesuradamente.
Se a mentalidade não mudar, as pessoas vão ter sempre o preconceito de que isto é o que se fazia há muito tempo, quando Portugal era mesmo muito pobre e que as pessoas usavam a roupa dos irmãos mais velhos, ou dos pais, ou dos amigos, ou da família que dava, porque o filho já não usava e ia dar a outro.
Eu pessoalmente, nunca passei por isso porque tinha uma irmã e era difícil as roupas passarem de um para o outro, mas os meus pais tinham imenso gosto em que andássemos sempre arranjados.
Por exemplo, quando saíamos ao Domingo, a noção que eu tinha é que havia um “frou frou” à nossa volta da parte das pessoas da aldeia, que gostavam de nos ver, porque diziam que nós estávamos sempre muito impecáveis.
O engraçado é que a maioria dos clientes que recorrem ao “Hospital da Roupa”, são pessoas de um nível alto ou bom, que têm coisas boas, ou que herdaram coisas e querem de alguma forma preservá-las.
As peças que fiz ultimamente e que serviram para eu relançar um pouco este projecto, tiveram uma intervenção radical. São casacos que ficaram totalmente novos e as pessoas ficaram com uma peça única.
J.D. – As peças do “Hospital da Roupa” têm um preço fixo?
D.A. – Não. Depende da intervenção que eu faço na roupa.
Quando a intervenção é mais pequena, não vou levar o mesmo valor do que se intervencionar de forma maior.
No caso, puder ir dos vinte e cinco aos cento e poucos euros e eu não tiro a etiqueta original por uma questão de ética. Coloco é a minha etiqueta ao lado ou acima que é a etiqueta “SOS Dino Alves”.
Eu agora fiquei tão motivado com as peças que intervencionei, que achei que era interessante voltar a reavivar esta sub-marca.
O que é facto é que já saiu uma notícia na “Time Out” e, entretanto, tive um telefonema de uma televisão, que quer fazer uma notícia para o telejornal.
Na altura quando lancei este projecto, fizeram um directo para o telejornal da SIC, que na altura até fiquei admirado, porque tendo consciência de que até é uma ideia boa, nunca pensei que pudesse ter essa cobertura.
Tudo isto sai de forma tão natural que não consigo imaginar as coisas da perspectiva de quem vê.
É claro que, com a pandemia as pessoas ficaram com menos dinheiro, não podem ir tanto às compras, mas eu espero que não seja só por isso e que existam solicitações para intervencionar peças, mesmo depois desta pandemia passar, ou pelo menos melhorarmos. Que seja um hábito que se enraíze.
J.D. – Qual foi a peça que fizeste e que mais prazer te deu a fazer? Tens uma noção?
D.A. – Acho que não consigo responder a essa pergunta.
Supostamente o último desfile é sempre aquele que é o mais importante.
Ao longo do caminho que percorremos, a última coisa que se faz é a mais importante, porque é aquilo que se acabou de dizer ou no caso de fazer. Mas depois olhando com um outro distanciamento, claro que houve uns que me deram mais gozo fazer do que outros.
O desfile em que vesti os homens de mulheres foi muito especial, mas não foi só por causa da roupa, porque agora olhando para os modelos que fiz, há algumas coisas que ainda continuam actuais.
Esse desfile teve um lado emocional e teve umas questões que têm a ver com a confiança e amizade que os modelos depositaram em mim e na atitude de se disporem a fazer aquilo, sendo que não era uma coisa fácil e todos foram geniais.
Foi a única vez que eu tive de informar o que ia fazer às agências e todas acederam sem pestanejar. Aderiram de uma forma incrível. E esse desfile foi muito especial por isso.
Houve casos de alguns modelos que me disseram que o Armani em Milão uma semana antes lhes tinha pedido para fazerem a depilação às pernas e nós não o fizemos, mas para ti vamos fazê-lo.
A verdade é que eu em certas coisas gosto que exista algum rigor e sendo a situação já bizarra o suficiente, eles irem de collants e ver-se pelos nas pernas acho que ficava feio. Mas eles alinharam e eu fiquei muito feliz. Foi genial.
Adorei o desfile por todas as razões, esteticamente falando, mas sobretudo pelo conceito em si, porque só agora é que se vê uma maior mobilização acérrima contra a discriminação sexual. Este conceito do gender fluid e eu penso que com este desfile, já estava a passar um pouco essa mensagem.
Aquele desfile não tinha nada a ver com questões de cariz sexual, aliás de todos aqueles manequins, só um que desfilou é que era gay, os restantes eram heterossexuais e nenhum deles se sentiu ameaçado na sua sexualidade por serem pessoas resolvidas. Acho que nunca tive um desfile onde houvesse aplausos do princípio ao fim. Este desfile foi para aí há 15 anos e gostei muito de o fazer. Se calhar agora não o faria, até porque agora iria ficar politizado.
Eu sempre gostei de ser um bocadinho contra corrente. Penso que estamos a entrar em certos exageros que as coisas já não acontecem pelo seu propósito e acabam por ter o resultado oposto, até porque há pessoas a levantar “bandeiras” que nem sequer são delas e de uma forma radical, o que não é bom.
Dou um exemplo que penso pode ilustrar o que estou a tentar dizer. Havia muita tendência há uns anos atrás de quando se via uma mãe preta com um bebé preto de ter uma simpatia redobrada e dizer “ah tão lindo, é mesmo lindo”, como se o facto de ele ser negro, não lhe permitisse ser lindo. Havia uma atenção especial, como que a dizer “olha ele é preto, mas é tão fofinho na mesma” e isto considero também uma forma de racismo e discriminação.
Acho que actualmente se mistura muitos assuntos e ainda por cima pelas razões erradas.
Mas a terminar esta tua questão, não posso deixar de falar de um desfile onde eu acho que foi uma ideia muito interessante, foi aquele onde estabeleci um dress code onde as pessoas tinham de ir vestidas de preto. Porque isso implicou uma série de outras coisas por parte das pessoas que eu consegui conquistar.
Isto suscitou perguntas de diversas pessoas como, “és doido, como é que tu vais conseguir isso?” e “achas que as pessoas vão?”.
Esse desfile teve várias “camadas” e uma delas foi o eu desejar ver até que ponto as pessoas me iriam dar algo, já que eu tenho feito tanto trabalho para elas. Será que me vão dar esse carinho de volta? E eu consegui encher uma sala de mil e tal pessoas vestidas de preto, dos pés à cabeça. Foi complicadíssimo porque tive sempre a remar contra a maré, com pessoas a dizer-me, “como é que vais fazer com que os fotógrafos vistam de preto”, e eu respondi “se quiserem ir têm de se vestir de preto como todas as outras pessoas”. Eu dei a mesma importância a todas as pessoas presentes, não exclui ninguém. Muitas vezes as pessoas não entendem isso. Eu estive uma semana a dizer que ou era feito com rigor ou não fazia, porque só assim é que eu podia respeitar todos e tratar todos por igual. E houve pessoas que não entraram. Houve também jornalistas que não entraram porque não respeitaram o dress code e muitas outras pessoas. Se eu deixasse entrar não estaria a ser coerente nem sério, nem respeitador dos meus próprios princípios.
Houve colegas meus que me disseram “que raiva, porque é que não fui eu a ter esta ideia” (risos).
Na verdade, é uma coisa tão simples que só implica um exercício de pensamento. Houve inclusive pessoas que não tinham peças e pediram emprestadas. Toda essa dinâmica começou logo a partir do momento em que as pessoas receberam aquele repto e começaram a pensar como iriam fazer para estar presente no desfile. Muitos foram dos trabalhos, já vestidos assim para o desfile. Ou seja, o desfile foi muito mais além do que aquela passerelle e durante aqueles 15 minutos. E depois foram as pessoas que acabaram por fazer aquela performance. Eu tive imensa pena que nesse desfile a configuração do espaço não ser de passerelle clássica, se posso dizer assim, porque se tivesse feito até se teria tido mais noção dessa “mancha”, mas penso que foi o que teve uma ginástica mental, mais bem conseguida.
J.D. – E qual é a colecção que ainda não fizeste e gostarias de fazer?
D.A. – Ah, isso são todas aquelas que ainda não fiz (risos). Já tive várias ideias que ainda tenho na gaveta e outras que ainda estão a borbulhar. Há ideias que tive em alguns desfiles, as quais gostaria de levar mais além.
A ideia que tive na ModaLisboa que não fiz, na temporada passada, vou pensar se avanço com ela, nesta temporada. É uma ideia que considero fortíssima e que quero fazer, porque considero que é ir ao limite de tudo e é uma coisa extremamente simples. Vamos ver se nesta próxima temporada tenho uma capacidade logística de a fazer. Vamos ver como as coisas vão evoluir em termos dos tempos que estamos a passar.
J.D. – A tua carreira também passa pelo cenário internacional. Vês o teu trabalho cada vez mais a passar para lá fora?
D.A. – Eu sempre tive algum orgulho de mostrar que estejamos onde estejamos actualmente, com a internet e as tecnologias, podemos estar onde queremos. Já se começa a ver projectos muito bons a serem desenvolvidos com muita visibilidade e depois descobre-se que, por exemplo, foi feito da Serra da Lousã, ou no Algarve, ou noutro sítio bem profundo de Portugal.
Nos tempos de hoje, podemos estar em todo o lado estando num único sítio remoto, em qualquer sítio do mundo.
Acho que foi por isso que nunca fiz muita questão de estar em Londres ou em Paris. Penso que posso estar em Lisboa e ter a mesma importância que tinha se estivesse numa destas cidades.
Sabemos claro que, há capitais e sítios onde há mais foco, onde as pessoas estão mais presentes e sei que Lisboa nunca será provavelmente um sítio desses, apesar de cada vez mais ser conhecida por diversas razões e escolhida por muitas pessoas para visitar. Portugal e Lisboa, podem proporcionar outro tipo de experiências excepcionais, como a gastronomia, o fado, o futebol, por exemplo. Na Moda, há outras capitais muito fortes, onde os eventos desta natureza já acontecem há muitos anos e por isso vão ser sempre as capitais chave.
Já fiz trabalhos em Madrid, Barcelona, na Alemanha, nomeadamente em Berlim, em Londres também com modelos expostos na rua (esse foi um trabalho ligado aos gelados “Magnum”) e nesse sentido posso considerar que tenho uma carreira internacional, porque a minha obra e o meu nome já passaram por esses sítios. E mesmo em termos de imprensa também já saíram notícias minhas em todo o mundo, até em sítios que eu nem sequer imaginaria (risos). Há uns anos, lembrei-me de ir ao Google e colocar o meu nome e fiquei “chocado” no bom sentido, por ver notícias de sítios inimagináveis. Penso que isto é ter uma carreira internacional. Também fiz em África, em Cabo Verde e São Tomé, já várias vezes desfiles, também por uma questão de inspiração. Fiz igualmente no Brasil e estive em Saint-Étienne numa feira de design.
Claro que estas são coisas mais pontuais, porque para se fazer uma carreira consistente internacional, convém ter uma estrutura em cada país que permita eu conseguir apresentar sempre o meu trabalho e tenha uma continuidade.
Manter essa estrutura não é fácil. Mas claro, vivemos cada vez mais numa aldeia global. Sair de Portugal, agora não. Para ter feito tinha que ter sido mais cedo. Há tempo para tudo e idades também. Fazer desfiles lá fora, sim claro, mas isso é sempre um investimento muito grande.
J.D. – Porque é que achas que em Portugal, a fatia do orçamento é sempre mais pequena para a cultura?
D.A. – Porque os artistas sempre foram vistos de uma forma subversiva e marginal e também mal vistos, o que é uma coisa perversa, porque as pessoas precisam da cultura, precisam de se divertir, precisam de espectáculos, de música, de teatro, cinema, entre outras artes. Mas depois quando se fala dos artistas é sempre num tom de desdém.
Tanto que se pensarmos (culturalmente), e no passado, os pais não deixavam as filhas (os filhos ainda conseguiam) e das classes mais altas e de famílias mais tradicionais, era impensável uma filha ser uma pop star. Quanto muito poderia aprender a tocar piano e aprender a falar francês, como diz o ditado, mas era só mesmo pelo status.
As meninas dessas famílias não podiam ir ao teatro, nem para as belas artes, eram raros os casos em que isso acontecia.
Para as coisas mudarem em relação à cultura, tem de se fazer (mais uma vez) um exercício mental e as pessoas têm de se convencer a mudar coisas dentro delas, para que depois a mudança se possa dar.
Penso que há coisas que deveriam e teriam de ser repensadas para se ter a noção da importância que a cultura tem neste país.
As pessoas ainda acham que os artistas não têm uma casa como as pessoas comuns, e que não temos de pagar uma renda e que se somos famosos estamos obrigatoriamente bem na vida e isso a maior parte das vezes não acontece.
Penso que por vezes se acha que o que os artistas fazem não é muito palpável, mesmo que a roupa seja algo palpável… e em outras áreas como nem sempre as coisas são objectos, é difícil de ser mensurável e o valor é relativo ou não tem valor. Não sei bem explicar este fenómeno, mas o facto de se pensar assim diminui a cultura e o seu valor.
J.D. – A terminar, Dino faço-te a pergunta que sempre fazemos a finalizar as nossas entrevistas. O que gostarias de dizer a quem venha a ler esta entrevista?
D.A. – Eu espero que as pessoas ao lerem esta entrevista, reconheçam que a mim o que me importa para além de tudo, é passar uma verdade, a minha verdade e não andar a viver uma vida ao engano, que é uma coisa que me faz muita confusão e há muitas vidas que existem não porque elas querem, mas porque foram os pais que quiseram que elas tivessem essa vida.
Desejo que as pessoas sejam fortes o suficiente para seguir os seus sonhos e serem honestas com elas próprias. Não façam coisas que não tenham a ver convosco só porque é o que os outros querem ou porque é o que está a dar na altura e fazer porque é giro fazer.
Sejam genuínos e façam aquilo que desejam fazer, mesmo que isso implique sair da zona de conforto e nunca tenham vergonha das vossas origens.
O Jornal Dínamo gostaria de agradecer ao Criador de Moda Dino Alves toda a atenção, disponibilidade e carinho com que nos recebeu para que esta entrevista fosse realizada a dias de entrarmos outra vez em confinamento e dever de recolhimento obrigatório.
Fotos: Arquivo JD / Pedro Sousa Filipe