Entrevista
| Filho de pai e mãe músicos, o artista Ricardo Oliveira seguiu-lhes os passos, e aprendeu a tocar inclusivamente vários instrumentos.
A primeira edição portuguesa do programa “Ídolos” mostrou pela primeira vez a sua garra e 10 anos depois aparece no programa “Voz de Portugal” onde decididamente nos mostra a sua fibra.
Agora é altura de nos apresentar o seu primeiro trabalho “O Vento Mudou”, que saiu para as ruas a 25 de Fevereiro.
O Jornal DÍNAMO® quis saber mais e teve a oportunidade de entrevistar o artista, na sede da Universal Music Portugal, editora que desafiou Ricardo Oliveira a lançar o seu primeiro CD.
Jornal Dínamo – Começo por te perguntar acerca da paixão que é cantar. A tua mãe foi cantora de Fado e o teu pai pertenceu a algumas bandas. Com que idade começaste a tua aventura?
Ricardo Oliveira – Sim, a minha mãe cantou o Fado e foi vocalista da Orquestra Típica Escalabitana, isto entre os 8 e os 10 anos. O meu pai sempre esteve ligado à música. Teve várias bandas, inclusive uma no Ultramar, quando lá esteve durante a guerra e depois quando voltou continuou com a banda dele, onde eu depois comecei a dar os meus primeiros passinhos quando tinha 8 anos. Comecei por tocar bateria, guitarra, teclas… um bocadinho de todos os instrumentos e principalmente cantar. A partir dos meus 15, 16 anos cortei o meu cordão umbilical e comecei a tocar sozinho, em casamentos e em bares. Tenho todo o orgulho em dizer que fiz esse tipo de trabalho, porque esse trabalho deu-me sem dúvida a “bagagem” que tenho hoje e também contribuiu para a minha forma de estar.
J.D. – É verdade que aprendeste sozinho a tocar bateria, guitarra, baixo e trompete?
R.O. – (risos) Essa vontade nasceu comigo, penso eu. Penso que esse dom nasceu comigo graças a Deus. Digo graças a Deus, porque a música tem a facilidade de poder transmitir sentimentos. Se todos os dias, tocar uma música, todos os dias vou tocar uma música diferente, porque todos os dias temos um sentimento diferente e um espírito completamente distinto. E a música sem dúvida tem essa facilidade.
J.D. – Na primeira edição do programa “Ídolos”, foste finalista. Que peso teve a tua participação neste programa? Sei que te inscreveram sem saberes? Conta-me como tudo aconteceu?
R.O. – Sim, o meu pai na altura falou comigo e perguntou-me porque é que não me inscrevia, e eu disse-lhe que não estava com muita vontade, mas entretanto o meu pai ligou e inscreveu-me assim, mais ou menos às escondidas (risos), foi-me avisando e eu então fiquei um pouco desconfiado. E assim aconteceu. Posso dizer que o “Ídolos” foi um programa de experiência, porque antes deste programa, participei no programa “Big Show Sic”, onde fui aí umas oito vezes que é diferente e era um programa pontual. O “Ídolos” foi um programa onde todos os fins-de-semana, estava lá em casa das pessoas para elas me aturarem (risos) …não foi fácil. Claro que para além da experiência que foi, eu também tinha a ambição de gravar um CD e acabei por gravar. Não correu da melhor forma e hoje em dia eu acredito que não estava preparado para isso e para assumir um compromisso daquela envergadura. Já em relação à “Voz de Portugal” eu participei já com outros sentidos e fui com uma ideia bastante diferente, já ia com a ideia de ganhar o programa, tal como todos os outros concorrentes e ganhar um contrato discográfico com uma editora e no fim de contas acabou por acontecer, mesmo tendo eu ficado no 2º lugar.
J.D. – Na “Voz de Portugal” e 10 anos depois e no seguimento do que acabaste de dizer, o que mudou para ti a participação neste programa? Se não estou em erro, os 4 mentores viraram a cadeira?
R.O. – Neste programa e nessa primeira fase, o meu objectivo era mesmo virar uma cadeira que fosse… qualquer uma. Obviamente que tinha uma esperança que os Anjos o fizessem, devido também à sua história de vida que tem pontos de contacto com a minha e já os sigo desde novo. Mas sem dúvida gosto de todos os outros membros do júri que são 5 estrelas, todos sem excepção.
Sem dúvida que esse dia foi fantástico… consegui virar as quatro cadeiras e fiquei muito emocionado e a seguir já não me lembro do que disse, mas não foi nada de jeito (risos), porque não consegui dizer o que queria. Depois foi a parte da batalha onde apanhei a Vânia que canta muito bem, e onde penso que dei o meu melhor e consegui passar. A seguir seguiram-se as várias etapas até ter ficado em segundo lugar. Posso dizer que… mudou tudo. O que eu queria está-se a realizar. Há algumas coisas que me dão uma grande força que é o facto de estar com a maior editora a nível mundial e ter a Blim Records a produzir este meu trabalho, que já produziu grandes artistas. Agora resta-me ter um pouco de sorte, porque é importante ter essa sorte na vida e espero que as pessoas gostem.
J.D. – Chegamos então ao trabalho “O Vento Mudou” que surgiu a convite da Universal Music Portugal, feito precisamente um pouco depois de a “Voz de Portugal”. Este é um trabalho que revisita belas canções portuguesas?
R.O. – O programa tinha acabado aí há uns cinco minutos e o Tiago Palma e a Ana Hernandez chegaram ao pé de mim e perguntaram-me se eu queria gravar este CD… e eu começo a chorar. Eu sou uma pessoa que mostro muito os meus sentimentos… se é um defeito ou uma virtude, ainda não sei bem, ando aqui um bocadinho aos papéis (risos) …uma coisa eu sei… não vou ser aquilo que não sou e espero que as pessoas gostem de mim com o que eu sou como pessoa. Mas falando do momento em que me convidaram… nesse momento o meu objectivo foi cumprido e nesse momento o meu coração disparou.
J.D. – As pessoas reconhecem-te na rua?
R.O. – Há pessoas que falam, e outras que se retraem mais. Eu tenho um defeito e este é mesmo defeito (risos)… se uma pessoa quer falar, eu vou lá e cumprimento e não tenho qualquer tipo de problema com isso. Sei que isso é também uma virtude, pode ser… mas se calhar podia ser mais retraído, mas eu sou uma pessoa que gosta do contacto com as pessoas. No meu Facebook por exemplo, no fim de tudo o que escrevo, digo: “muito obrigado pela vossa ajuda”, porque eu sinto-me extremamente grato perante as pessoas. Eu estou onde estou, não só pela minha auto recreação que é uma parte… mas se as pessoas não gostarem de mim, então não vale a pena andar aqui. Não digo isto com segundas intenções, digo isto porque é a realidade e é o que eu sinto.
J.D. – Estas músicas são de outro tempo, de outra geração, mas não são do teu tempo. Como é que as vês e as sentes?
R.O. – Aí está a grande pergunta. Elas não são do meu tempo, mas acabam por sê-lo, por uma razão. Como eu comecei a tocar com a banda do meu pai, todas estas músicas que estão no álbum eu já as cantei. Aliás um dos grandes cantores favoritos é o Paulo de Carvalho. Eu gosto até de contar uma história que considero muito engraçada: os meus pais queriam ir ao cinema e eu não os queria deixar ir… era pequenino e claro fazia umas birrazinhas e choramingava e o meu pai agarrava numas cassetes que se usavam na altura e metia-me a ouvir Paulo de Carvalho, eu ficava sossegadinho e todo feliz e aí lá conseguiam ir ao cinema (risos). Isto para dizer, que estou habituado a ouvir este tipo de música há mais de 20 anos. Daí esta ser uma música com a qual me identifico. Estas músicas são também intemporais, porque são hits e ficaram na memória de todas as pessoas. São músicas com letras lindíssimas e que emocionam e que são cantadas na linda língua que é a portuguesa.
Claro que estas músicas têm um arranjo diferente, mais ao estilo Sinatra, Bublé, faz lembrar um pouco a Broadway. Penso que estas músicas acabaram por crescer ainda um pouco mais na minha opinião e acho que a Blim Records, fez um excelente trabalho e a nível de promoção a Universal está igualmente bem.
J.D. – De todas as músicas do álbum, há alguma que toque mais perto as tuas emoções?
R.O. – Eu gosto de todas as músicas, acho que a música “O Vento Mudou” ficou muito boa, em relação ao estilo que se cantava na altura. Eu identifico-me mais com baladas, o “Adeus Tristeza”, “No Teu Poema”. O “Só Nós Dois”, tem uma versão só com piano que está lindíssima e não fazia sentido estar a fazer uma versão igual ao Tony de Matos, porque ele cantava de uma forma única, com muitas características na sua voz e que era logo identificável.
O que eu gostaria era que as pessoas me ouvissem e me identificassem logo pela minha voz. Acima de tudo sinto uma grande responsabilidade, ainda mais porque estou a cantar músicas muito conhecidas e de grandes artistas portugueses. Por exemplo, ao cantar a música “Flor sem Tempo”, do Paulo de Carvalho, podia ser genial ou simplesmente estragar a música e portanto foi uma enorme responsabilidade.
J.D. – Sentes que a música pode ser uma “arma” poderosa de comunicação?
R.O. – Sem dúvida, a música tem essa facilidade. Se conseguirmos transmitir exactamente aquilo que a música quer dizer, isso vai fazer lembrar e relembrar algumas das histórias da vida de cada um de nós. A música tem esse dom de fazer as pessoas se reverem nas músicas. Pessoas que têm dificuldade em dizer em palavras o que sentem, conseguem fazê-lo através da música. O meu grande objectivo é que para além desse reconhecimento nas músicas, que também se consigam rever em mim, na minha forma de dizer as palavras e na minha forma de cantar.
J.D. – O que é que sentes quando estás em cima de um palco? Existe algum ritual que faças antes das tuas actuações?
R.O. – Não faço nada de especial. A única coisa que faço, é mesmo agradecer a Deus a possibilidade de realizar mais uma actuação e de eu poder ter o prazer de pisar um palco e mostrar às pessoas, aquilo que eu mais gosto de fazer. Não sou muito supersticioso. Sou uma pessoa que vive o mesmo, e acho mesmo que deveríamos ser todos assim. As coisas boas devem ser aproveitadas no momento, porque não duram para sempre.
Estar em cima de um palco, para responder à outra parte da pergunta, para mim é tudo. Para mim é mais complicado cantar para duas ou três pessoas do que para três ou quatro mil pessoas, no entanto o prazer é o mesmo, o coração bate forte, as mãos tremem de emoção, porque é aquilo que se quer muito.
Um dos meus grandes sonhos é cantar no Coliseu. Eu acredito que lá chegarei … mas tudo com o seu tempo e sempre dando um passo de cada vez, degrau a degrau, porque a sensação de vencer e de conseguir é muito maior. Eu quero esforçar-me para que as minhas qualidades artísticas sejam reconhecidas.
J.D. – E já que falamos em actuações. Por onde vais andar a mostrar “O Vento Mudou”?
R.O. – Vai haver uma pequena apresentação do álbum na FNAC, aí para meio do mês de Março, onde devo tocar aí umas duas, três músicas. Em termos de Concertos ainda não estou bem por dentro da agenda, porque ainda estou a trabalhar na parte da promoção, mas penso que em breve as datas e os sítios estarão disponíveis. O que posso dizer é que o feedback no Facebook tem sido fantástico, o que é um bom presságio. As músicas estão no Itunes, e há pessoas que têm comprado as músicas por este meio.
J.D. – Por onde gostarias que os ventos te levassem?
R.O. – Eu gostava que os ventos me levassem ao Coliseu e não só, mas principalmente gostava que me dessem a vida que eu sempre quis. Gostaria de ser um dos melhores artistas a nível nacional. Sei que é ambicioso este meu sonho, mas só Deus é que sabe… vamos ver por onde as coisas flúem.
J.D. – A terminar, gostaria de te pedir, como já é habitual fazer, que deixasses um pensamento, uma frase, uma mensagem, a todos aqueles que venham a ler esta entrevista?
R.O. – A mensagem que eu quero deixar é um agradecimento a todos os que me têm apoiado e mais uma vez frisar aquilo que costumo dizer que é “sem vocês isto não seria possível”, por isso quero continuar a agradecer sempre esse apoio grande que tenho tido até agora.
O Jornal DÍNAMO®, agradece a disponibilidade do Artista Ricardo Oliveira, e da Universal Music Portugal para a realização desta entrevista e deseja as maiores felicidades para a sua carreira.
Fotos: Universal Music Portugal