Fernando Fragata, Realizador

Entrevista exclusiva

“Contraluz” é o mais recente filme do Realizador Fernando Fragata.

Um filme diferente, com um tema que nos faz pensar e reflectir sobre a forma como vivemos a nossa vida.

ContraluzO Jornal Dínamo, quis saber mais acerca deste filme, rodado em Hollywood, e que tem no seu elenco, actores de craveira, portugueses e norte-americanos e que promete ser um filme, para marcar o cinema português.

J.D. – Fale-me da inspiração para este seu novo filme “Contraluz”?

F.F. – Gosto de viajar de carro pelos Estados Unidos. Acho que já atravessei quase todas as cidades, desertos, lagos e montanhas. Cada vez que atravesso o continente norte-americano é sempre uma experiência totalmente diferente. O país é tão gigantesco que há sempre algo novo para explorar. Paro para dormir nos locais mais desérticos e insólitos.
O contraste com o mundo urbano é abismal. Gosto particularmente de conversar com as pessoas de lugares distantes.

Posso dizer que nada é mais inspirador.

Para vos dar uma ideia da riqueza dessas conversas, conheci um senhor no Arizona cuja mulher tinha falecido num desastre de viação. O carro ficou em tão mau estado que apenas se aproveitou o GPS. O viúvo instalou o GPS no seu carro e reparou que havia uma morada desconhecida que a sua mulher tinha memorizado no aparelho. Resolveu segui-la e foi ter a uma instituição de adopção de crianças. O casal não tinha filhos e foi desta maneira que ele descobriu que a mulher estava a contemplar a adopção. Passados dois anos, e senhor voltou a casar e já adoptou uma menina através dessa mesma instituição.

Para quem já viu o trailer do Contraluz, sabe que existe uma cena forte entre o Joaquim de Almeida e o GPS. Digamos que a inspiração para fazer do “Contraluz” surgiu destes factos da vida tão extraordinários que parecem irreais, mas não são.

J.D. – Como realizou a escolha para o elenco?

F.F. – Já há bastante tempo que queria trabalhar com o Joaquim mas não tinha surgido ainda a oportunidade. O que não deixa de ser irónico pois somos praticamente vizinhos em Los Angeles morando a menos de 500 metros um do outro.
Finalmente, quis o destino que colaborássemos no “Contraluz” ou não fosse o “destino” o tema forte do filme.
Em relação à Evelina e à Ana Cristina, ambas já deram provas do seu talento como actrizes noutros trabalhos. Além disso, elas fizeram o casting para este filme e achei que eram mais adequadas para os personagens que as outras candidatas. Foi uma escolha sem hesitações.

Quanto aos actores americanos, foi um longo processo de selecção.

Fernando FragataTivemos alguns nomes conhecidos que gostaram do argumento e se ofereceram para fazer parte do elenco, contudo, as personagens para interpretar eram poucas e muito específicas e tivemos que dar prioridade aos actores mais certos para os papéis em questão.

J.D. – Escolheu a língua inglesa para o “Contraluz”… porque não fazer um filme bilingue (Português e Inglês)?

F.F. – A minha primeira longa-metragem “Pesadelo Cor-de-rosa” era um filme bilingue uma vez que se passava em Portugal e era sobre um engenheiro inglês que se apaixona por uma portuguesa. Quanto ao “Contraluz” não achei que fizesse sentido falarem em português uma vez que nenhum dos personagens se assume como sendo português.

J.D. – Este é o primeiro filme em Hollywood, de um Realizador português. É importante para si ter filmado nos Estados Unidos?

F.F. – Foi importante porque sempre senti um grande fascínio por Los Angeles mas principalmente pelos variados, deslumbrantes e enormes desertos dos Estados Unidos e achei que era o local ideal para colocar estes personagens que estão a atravessar uma fase extremamente atribulada nas suas vidas.

Além disso, já rodei 3 filmes antes em Portugal e estava na hora de mudar o “cenário”. Mas não foi apenas isso… Foi sobretudo porque se abriu uma janela de oportunidade única nessa altura (que entretanto já se fechou) e que dificilmente surgirá de novo de modo tão benéfico.

Foram vários os factores que se conjugaram e que permitiram que este filme fosse feito com grandes valores de produção nos Estados Unidos apesar de ter um orçamento limitado. Na altura o dólar sofreu uma desvalorização recorde em relação ao Euro, portanto, todo o capital que eu tinha em Euros foi sobrevalorizado. Simultaneamente, deu-se uma rara crise na indústria cinematográfica em Hollywood com a demorada greve dos argumentistas que obrigou a paragem de muitas séries de TV e de filmes. Isso fez com que toneladas de equipamentos ficassem estagnados a ganhar pó nos armazéns de aluguer. E quando a máquina de Hollywood pára, não é somente o equipamento mas também os técnicos e actores que ficam sem trabalho.

Como eu sou produtor, argumentista e realizador dos meus próprios filmes não iria fazer greve contra mim próprio, portanto lancei mãos à obra beneficiando de preços irrisórios no equipamento, bem como nos serviços e pessoal. E claro que tive também a ajuda de produtores americanos de grande nome que tiveram tempo para me abrir muitas portas, uma vez que as suas produções estavam paradas. Presentemente, se tentasse fazer o mesmo filme, seria completamente impossível.

Contraluz

J.D. – Sente que este facto lhe poderá trazer algum reconhecimento na sua carreira?

F.F. – Qual facto? O de ter filmado nos EUA? Não, ninguém é alvo de qualquer reconhecimento por ter filmado nos EUA.

O facto de se dizer nos media que este se trata do primeiro filme em Hollywood de um realizador português apenas pode despertar alguma curiosidade mas o “reconhecimento” só virá se as pessoas gostarem do filme.

J.D. – “Contraluz” é uma mensagem para o Ser Humano e para o mundo em que vivemos?

F.F. – Isso acho que é evidente. Mas também é claro que irá tocar uns mais do que outros. Somos todos diferentes e ao mesmo tempo todos somos iguais.

J.D. – Este é um filme um pouco diferente do que já fez… pode-me dizer quanto tempo durou a ser feito?

F.F. – Se incluirmos o tempo de preparação, foram no total dois anos de empenhados e intrincados trabalhos pelos Estados Unidos.

Uma produção desta envergadura, para uma equipa portuguesa que joga fora de casa, requer uma boa preparação de modo a nos precavermos de todas as possíveis adversidades que possam assolar o projecto.

A produção iniciou a rodagem no centro de Los Angeles, uma cena complexa e arriscada no topo de um arranha-céus que envolveu vários Duplos e que obrigou ao corte de várias avenidas principais da cidade. Foram alguns dias de pura adrenalina para a produção que se viu a braços com a enorme complexidade logística e burocrática que é filmar na baixa de Los Angeles.

A produção seguiu para os grandes desertos como os lagos secos da Califórnia, o cemitério de aviões no deserto de Mojave, e Monument Valley no Utah.

Uma frota de uma dezena de camiões e auto-caravanas apoiados por um hidro-avião PBY Catalina transportou toda a produção, equipamento, carros de cena, equipa e elenco, bem como todos os serviços de apoio, segurança, catering e assistência médica. Totalmente isolados no meio de deserto, debaixo de temperaturas extremas, a produção teve que assentar base e criar uma pequena “aldeia-móvel” para albergar e dar apoio a uma equipa de mais de 60 pessoas.

Por último, a produção seguiu para o Rio Colorado e o Lago Mead no Estado do Nevada onde foram filmadas as complexas cenas finais. Cenas estas que exigiram o uso de equipamento subaquático, barcos e mergulhadores especializados de apoio. Uma epopeia por terra, mar e ar que irá deixar profundas memória a todos os que trabalharam nesta produção. Um trabalho ímpar que executámos com dedicação, determinação e muito suor!

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J.D. – Já tem um plano, de onde “Contraluz” vai ser lançado, depois de Portugal?

F.F. – Todo o processo de distribuição internacional está a ser negociado neste momento.

J.D. – Para além da promoção do “Contraluz”, já existe na forja, um novo projecto?

F.F. – Projectos não faltam, falta é financiamento para os concretizar.

J.D. – Que mensagem gostaria de deixar às pessoas que pensam ir ver o “Contraluz”?

F.F. – Às que pensam ir ver, não há muito mais que eu possa dizer. As que pensam não ir ver é que me preocupam. A essas eu apenas digo o mesmo que o GPS diz no trailer e no filme… “- You’re on a wrong course to your destination!” (tradução: – Está no caminho errado para o seu destino!)

“Contraluz”, estreou a 22 de Julho, nas salas portuguesas, e promete, uma história diferente, em tempos em que é necessário, pensar que se a vida é uma viagem, porque não aproveitar a paisagem…

O Jornal Dínamo agradece a disponibilidade do Realizador Fernando Fragata para esta entrevista que nos foi cedida e deseja as maiores felicidades para este e muitos outros filmes que venha a realizar no futuro.

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Fotos: Fernando Fragata

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