Entrevista
| João Couto é um dos artistas que promete vir para ficar.
“Carta Aberta”, o seu disco de estreia, foi o mote para esta entrevista que apresenta um músico empenhado e com vontade de dar muito à música nacional, numa caminhada que está ainda só no começo.
Nesta entrevista está expresso, o amor, o carinho, a humildade, a gratidão e a vontade de retribuir todo o apoio que tem tido, em música e em criação.
O Jornal Dínamo® teve a oportunidade de entrevistar o João Couto que partilhou um pouco da criação do seu novo trabalho e também como aconteceu esta aventura que se chama, música.
J.D. – Como começou esta vontade de percorrer os caminhos da música?
J.C. – Começou na minha infância e foi algo muito natural. Tudo o que mais me cativava desde miúdo era a música e tudo o que estivesse minimamente relacionado. Era vidrado nas bandas que via na televisão, por tudo o que ouvia na rádio e descobri que a cantar ganhava uma coragem que não tinha a fazer outra coisa qualquer. Juntando a isso, os estudos na música (por incentivo dos pais) e o aprender a tocar instrumentos, de repente a vida de músico parecia possível. Arrisquei em seguir aquilo que me fazia feliz e estou a fazer tudo à minha maneira, porque sei o quão importante foi ter o incentivo em miúdo que tinha dos artistas que seguia e quero de certa forma “retribuir o favor”.
J.D. – Fale-me da faixa 13 do Disco do Rui Veloso, sei que foi importante para si, é verdade?
J.C. – Sim, é verdade. A minha memória musical mais antiga é estar no banco de trás do carro dos meus pais a ouvir o disco “O Melhor de Rui Veloso: 25 anos depois” e estar sempre a pedir a minha canção favorita do alinhamento que era a faixa 13, o “Não Há Estrelas no Céu”. Foi esse disco e essa música que me fez seguir esta vida. Pode-se dizer que foi o meu momento “eureka”. Era tão simples, tão bonita e a letra tinha tanto significado, tanto que anos mais tarde, já na minha adolescência, passei a ter uma relação diferente com essa canção, porque as dores de crescimento e as incertezas que ela descreve batiam certo com tudo o que estava a viver nessa fase.
J.D. – Os seus pais incentivaram-no a ir estudar música. Este é um apoio que foi fundamental para ir em frente com o seu sonho?
J.C. – Sim, sem sombra de dúvida. Sem o apoio dos meus pais não era metade da pessoa que sou hoje. Souberam reconhecer o quão importante a música é para mim e isso é mesmo valioso. A começar por esse incentivo em estudar música que foi crucial, até ao apoio incondicional que me dão todos os dias, seja em que projecto me empenhe. Bons e maus momentos, cada sucesso e cada obstáculo… são os primeiros a dizer para não desistir e manter a cabeça levantada, com orgulho e segurança no que faço.
J.D. – No início quando começou a experimentar novas emoções de actuar para o público, e depois de passar por várias experiências, como pelo coro da igreja, como foi definir a música que queria fazer?
J.C. – Foi fácil. O tipo de música que mais comunica comigo e mais me emociona foi inevitavelmente apanhar-me desprevenido e puxar-me de novo a ela, sem me pedir licença ali algures nos meus 16/17 anos. Experimentei um pouco de tudo mas o género de música que para mim começou esta salgalhada toda, foi essa pop-rock clássica na linha de pessoas como o Rui Veloso e o Jorge Palma e me fez perceber o que queria mesmo fazer: canções, muitas e boas. Devorar a discografia dos Beatles foi essencial, encontrar música actual feita nessa linha também (mesmo que em circuitos menos comerciais), entrar em contacto com músicas mais escondidas de artistas como Paul McCartney, Bruce Springsteen, Elvis Costello… isso tudo moldou-me completamente, como músico e como pessoa. Pensava e agia de forma diferente e o único ponto comum que para mim definia o sucesso de todos os artistas que ouvia, é que tinham repertórios fantásticos. Foi então quando findei os estudos que me quis dedicar a construir o meu também, devagarinho.
J.D. – “Carta Aberta”, é o seu primeiro trabalho. Esta é também uma carta de amor… um amor quase universal?
J.C. – O “Carta Aberta” fala de amor, não só do amor que construímos pelo próximo mas também pelo amor que temos por nós próprios. Aquele que se constrói quando estamos a crescer e a lidar com o gradualmente nos tornarmos adultos e ganharmos responsabilidade por coisas que tomávamos por garantidas. É também ter o mundo à nossa frente e saber que às vezes vamos estar sós e que temos que fazer de tudo para agarrar as coisas boas. É um disco sobre dores de crescimento, sobre ingenuidade e sobre encontrar refúgio nos outros e no futuro (pelo menos é esse o resumo que faço dele). São coisas que sinto que qualquer pessoa na minha geração está a viver, de uma forma ou de outra.
J.D. – Diria que é músico por convicção e por vocação?
J.C. – Sim. Tudo começa com a vocação, com aquela vontade incontrolável de fazer isto e nos agarrarmos a tudo o que a música tem para oferecer. Mas aquilo que me mantém nesta jornada é a convicção que o melhor está sempre por vir e a minha certeza que é nisto que vou encontrar o meu propósito. Que consigo e devo ser sempre melhor, por quem me segue e me apoia e que as minhas maiores conquistas ainda estão sempre por concretizar.
J.D. – Quais as expectativas que tem em relação ao público e à reação que elas possam ter?
J.C. – Eu só quero oferecer ao público boa música. Só isso. Algo bom, honesto e inclusivo. O meu maior desejo é que venham encontrar algo que lhes pertença na minha música. Que as minhas canções consigam descrever algo que tenham vivido ou estão a viver. Que se consigam apegar às melodias e reconheçam o trabalho que houve em garantir que tudo soasse coeso e que “respirasse”. O meu disco é pop, é acessível mas guarda alguns segredos nos detalhes, precisa por isso do seu tempo. Num mundo que é tão barulhento e rápido, quero mostrar que é possível ser melodioso e orelhudo, sem recorrer a artimanhas desonestas. Quero ser rosto dessa alternativa, como muitos bons músicos portugueses também são e que os ouvintes venham a reconhecer isso.
J.D. – Já existem concertos marcados para este trabalho?
J.C. – Em breve serão reveladas algumas datas, uma delas particularmente especial para mim, mas tudo a seu tempo. É estarem atentos às minhas redes sociais e às vossas agendas culturais.
J.D. – A terminar, e como já é nosso apanágio, a pergunta é igual para todos. O que gostaria de dizer às pessoas que possam vir a ler esta entrevista?
J.C. – Aos leitores do Jornal Dínamo só tenho a agradecer por estarem desse lado e que se ficaram suficientemente curiosos pelo que leram que oiçam o meu primeiro disco “Carta Aberta”, que está disponível em todas as plataformas digitais e em formato físico na FNAC e outras lojas da especialidade. Foi muito especial para mim tê-lo escrito e gravado, e só espero que seja um prazer para vocês também o ouvir e descobrir.
O Jornal Dínamo® agradece ao Artista João Couto e à Universal Music Portugal a possibilidade de realizar esta entrevista.
Fotos: Universal Music Portugal