Manuel Poppe, Escritor

Manuel Poppe é autor de alguns livros, entre eles “A Acácia Vermelha” (obra esta comentada aqui). Entrevista de Paula T. e nosso parceiro o blog “Destante”.

Destante: Quem é o Manuel Poppe?

Manuel PoppeManuel Poppe: Um homem que nasceu, por mero acaso, em Lisboa. Cresceu na Guarda. Viajou, por razões familiares, em Portugal, e, por razões profissionais e pessoais, pelo Mundo. Viveu em 18 casas, cinco países: Portugal, Itália, São Tomé e Príncipe, Israel e Marrocos, ou seja, em 3 continentes. Entende que o mundo depende do olhar de cada um. Ama as viagens. Ama admirar e apaixonar-se. Não tem medo da morte mas é a coisa que mais detesta e não lhe apetece. Realmente, adora a vida. E acha que em todas as pessoas existe uma criança que espera pela nossa estima e pelo nosso respeito.

Destante: Olhando para a sua carreira literária que é bastante completa, o que é que sente que ainda há por fazer?

Manuel Poppe: Considero-a bem incompleta! E creio que será assim até ao último momento… Gostaria de escrever mais ficção narrativa e dramática. Conforta-me, apenas, saber que tenho um Diário, iniciado em 1960, com milhares de páginas, sempre a aumentarem e destinado a publicação 50 anos depois da minha morte.

Destante: Como é que vê a escrita? Uma urgência, uma relação a dois em que mais ninguém se mete ou um espelho do mundo, onde cabe tudo o que o rodeia?

Manuel Poppe: Uma necessidade absoluta. Tal qual respirar, amar. Uma necessidade vital.

Destante: Ao ler a sua obra “Pedro I”, sente-se que a escreveu com muita paixão, muito sentimento. Estou certa não estou?

Manuel Poppe: É um dos meus livros que mais amo. Junte-lhe ‘O Pássaro de Vidro’ e ‘A Mulher Nua’. A figura de Pedro I fascina-me. Porquê? Pelo seu excesso, pela sua capacidade de paixão, pela sua sede de justiça. Pela sua revolta, diante da hipocrisia e da injustiça da morte. Diante do absurdo da vida.

Destante: Pode-se dizer que a vida deste rei nos contagia a todos?

Manuel Poppe: A todos, não sei. A mim, arrebatou-me.

Destante: Entre 21 e 26 de Fevereiro deste ano, decorreu na Guarda “O Ciclo Manuel Poppe”. O que é que se sente quando se vê um trabalho assim reconhecido?

Manuel Poppe: Uma profunda gratidão. Uma fortíssima emoção. A Guarda é a minha Pátria. Lá cresci e aprendi tudo: poesia, amor e sexo (se é que se podem separar, amor e sexo…).

Destante: E a crítica em Portugal, o Manuel Poppe sente-a diferente ao longo do tempo, ou sente-a de forma igual ao que era quando publicou o seu primeiro livro? Quer falar um pouco sobre isso?

Manuel Poppe: A crítica, em Portugal, entrou em letargo, desde a morte do nosso maior crítico: João Gaspar Simões.

Destante: O que pensa desta nova geração de escritores? Qual o seu preferido?

Manuel Poppe: Prefiro não referir camaradas vivos. Mas, como, para mim, em Arte, não há novos nem velhos, direi que, dentre os vivos, prefiro Herberto Helder.

Destante: E do surgimento de tantas e diversas editoras? Na sua opinião, terão elas o objectivo primeiro de divulgar os autores e as suas obras ou ganhar com isso?

Manuel Poppe: Há as que são investimentos capitalistas, sem pudor e sem preocupação de qualidade, e há as que têm uma acção cultural importantíssima. Dou-lhe dois exemplos destas últimas, verdadeiras heroínas (e desculpe quem eu, involuntariamente, omitir). A Relógio d’Água e a Assírio & Alvim.

Destante: Manuel, dê-me um nome de um livro que o tenha marcado desde sempre.

Manuel Poppe: “Recordações da Casa dos Mortos”, de Dostoievski.

Destante: Se marcasse um jantar com 3 personalidades, quem seriam elas e que assunto teria em mente falar-lhes?

Manuel Poppe: O poeta Luís Amaro, a pintora Paula Rego, a pianista Maria João Pires… E, já agora, se me autoriza, acrescento mais uma pessoa: o polifórmico artista Américo Rodrigues. O tema? Uma simples pergunta: “Que raio de merda de vida é esta que andam para aí os poderosos do mundo a cozinhar?”

Destante: Manuel Poppe, muito obrigado e tudo de bom.

Manuel Poppe

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Blog Pessoal “Sobre o Risco”

Dramaturgo, romancista, ensaísta. Colunista do Jornal de Notícias. No que diz respeito à dramaturgia, publicou, na Teorema, as peças “Os amantes Voluntários” (encenada por Roberto Merino, Seiva Trupe, com Romy Soares e Manuel Geraz), “A Tragédia de Manuel Laranjeira e Aranha” (encenada por Moncho Rodriguez, Teatro Municipal da Guarda) e “Pedro I”.
Publicou, nos Cadernos do Teatro Municipal da Guarda, o monólogo “A Garrafa” (encenado e representado por Valdemar Santos, no TMG), as peças “Os Sobreviventes” e “A Acácia Vermelha”.
Escreveu o texto “Boca de Fogo”, para o espectáculo transdimensional de Júnior Sampaio e Júlio Cardoso, Seiva Trupe.
Grande prémio de APE, 1995 (Crónicas Italianas). Obras traduzidas: “A Mulher Nua” e “Sombras de Telavive” (Teorema, novelas).

Fonte: Viajar pela Leitura
Foto: sobreorisco.blogspot.com

 

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