Entrevista
| Jornal Dínamo – Como nasceu a vontade de enveredar pela carreira musical?
Nelson Ritchie – Eu desde de pequeno que sempre estive ligado à música. O meu pai é produtor musical e o meu tio é cantor e portanto é normal que a música estivesse sempre muito presente, embora até mais ou menos aos meus 15 anos fosse somente um hobbie. Aos 16 recebi uma viola-baixo e só depois dos 16 anos, é que comecei a tocar guitarra. Foi só nessa altura é que comecei a pensar que poderia fazer da música a minha profissão. Comecei então a escrever as minhas próprias canções, a escolher melodias e a compor.
J.D. – Gravaste as primeiras maquetas musicais no próprio computador. Qual foi a sensação de ver o resultado, uma vez que foi a primeira experiência?
N.R. – Sim. O computador era do meu pai, já não era novo e depois de recuperado deu perfeitamente para as minhas necessidades informáticas. Ao princípio eu usava só mesmo para escrever umas coisas, e pouco mais, mas como eu queria gravar as músicas que compunha, comprei um programa que deve-me ter custado aí uns 50 francos na altura, que foi muito bom e comecei a gravar umas coisas na brincadeira.
Primeiro comecei por gravar voz, depois juntei a viola-baixo e a seguir fui comprando outros programas que davam para gravar outros instrumentos como o piano e também modificavam vozes e acabei por aprender por mim próprio a forma como podia trabalhar.
Foi então com 17 anos e meio que nasceu uma música que tinha só guitarra, baixo, piano e voz, muito simples, e que foi a primeira música que gravei.
Eu sabia que o resultado que ia sair era mauzinho de certeza (risos), mas para mim já era uma grande evolução porque já era audível e tinha uma certa estrutura e achei que aquilo que colocava no papel podia perfeitamente transpor para a música e isso foi uma grande vitória para mim.
J.D. – Quais são as tuas grandes referências musicais?
N.R. – Devo dizer que tenho imensas referências, porque vejo a música como um meio aberto. Muitas vezes enquanto guio, vou a ouvir música. Quando sintonizo uma rádio, deparo-me muitas vezes com música que não costumo ouvir e já me tem acontecido ficar com uma melodia no ouvido, ou simplesmente com um instrumento que se salientou mais numa música e isso pode-me servir de referência musical mais tarde. Geralmente o que acontece é que acabo por usar essas referências que vou recolhendo e usá-las quando componho música. Quanto às minhas principais influências, elas passam por exemplo pelo Juanes, Santana, cantores franceses e canadianos. Não posso esquecer claro o meu tio Tony Carreira, porque cresci a ouvir as músicas dele. Lembro-me quando pequenino, que era embalado e adormecia ao som das músicas dele e portanto sem dúvida foi uma das grandes influências.
O que tentei fazer no meu disco, foi agarrar nessas influências todas e criar 12 músicas onde todas elas estivessem presentes.
As opiniões de certos músicos com quem lidei, incluindo o meu tio, foram muito importantes para o meu crescimento musical.
Ao nível técnico preferi ser eu a fazer tudo. Prefiro deixar esse apoio para uma altura mais especial, mais específica.
J.D. – Fala-me do álbum “Primeiro Sinal”?
N.R. – As músicas do “Primeiro Sinal” são músicas que quis que inspirassem primeiro que tudo a alegria. Falam de amor, porque considero que o amor é a componente principal de todas as vidas. Todos nós precisamos de amor, quer seja a nível familiar, seja a nível da paixão por outra pessoa. Acho que já há tristeza suficiente no mundo e por isso tentei contrariar isso nas minhas músicas. A vontade de fazer a festa e de aproveitar a vida, sintonizada com a alegria e o amor são portanto a base de cada uma das músicas de “Primeiro Sinal”.
J.D. – “Só quero ser o teu Herói”, foi a música escolhida para o lançamento deste teu primeiro trabalho. Foi uma escolha tua?
N.R. – Foi uma escolha de muita gente, e claro, também minha.
Na altura em que estava a escolher o single, fiz ouvir esta música a muitas pessoas, mas havia sempre outras músicas que gostavam também. O que acontece neste disco é que a sua estrutura não se centra só numa música boa. Todas as músicas têm a mesma energia, o que fez com que fosse bastante difícil escolher o primeiro tema a apresentar. Como não houve um grande consenso eu acabei por escolher esta música que para mim é aquela que melhor representa o sentimento do disco. Tem uma letra romântica, e ao mesmo tempo um estilo mais pop rock com influências latinas.
J.D. – Tendo vivido uma boa parte da sua vida em França, sentes grandes diferenças em relação a Portugal?
N.R. – Penso que a grande diferença entre cá e lá é mesmo a forma de viver e a forma como se aproveita a vida. Penso que aqui se aproveita mais a vida o que é diferente das populações que vivem nos países nórdicos. O português é mais aberto sem dúvida e isso é uma forma de estar que é muito habitual no povo português. Esteja frio ou calor, nada nos impede de sair de casa, ir até um café ou a uma esplanada, até porque o nosso sol puxa a isso para conviver e estar com os amigos. Na zona de França onde eu vivia que era mais para Norte, em Dourdan, porque é uma terra mais fria, as pessoas fecham-se mais, e preferem ficar nas suas casas.
J.D. – Como tem sido a reacção das pessoas aqui em Portugal ao teu trabalho?
N.R. – Em termos de música, posso dizer que a aceitação do público foi muito boa e muito positiva. Senti que o público reagiu de forma muito calorosa, visto que o estilo de música que faço, sai um pouco do habitual que se ouve em Portugal. Recebi muitos e-mails de pessoas a dar apoio e a congratular-me pelo meu estilo de música e não posso negar que isso é algo que me toca muito.
J.D. – Para além de seres músico, também estudas. É muito difícil conjugar as duas coisas?
N.R. – É um pouco difícil.
O que o público ouve e vê é o disco e os concertos.
Quem quer trabalhar na música a sério, tem que levar os ensaios muito a sério e com muito empenho e isso acaba por ser algo bastante difícil de fazer quando se tem outra actividade.
Quando estou em promoção, tenho que a programar em função das aulas que tenho. Não posso dizer por isso que é fácil, mas até agora tenho conseguido coordenar tudo de forma a conseguir fazer as coisas da forma que desejo.
Eu estou a tirar um curso de Turismo, porque considero que é algo que também tem muito a ver comigo. Sempre gostei muito de viajar e o facto de ter nascido num país estrangeiro faz com que esse gosto seja ainda maior. A juntar a isso está a música que liga muito bem com viagens, uma vez que acabamos por viajar para apresentar a nossa música. São sem dúvida duas coisas que se coadunam muito bem.
J.D. – Antes de entrares no palco, costumas fazer algum tipo de ritual?
N.R. – Não posso dizer que tenha.
Há no entanto uma coisa que gosto de fazer antes de entrar no palco, é aí uns 5 minutos antes ficar sozinho para me concentrar, e para basicamente não pensar em nada, não ouvir ninguém nem falar com ninguém. É um momento de pura concentração. Quando entro no palco, ou no espaço onde vou actuar vou completamente relaxado e sei exactamente o que devo fazer. Penso que esta maneira de estar, permite-me dar sempre o meu melhor e isso é muito importante para mim.
Quando se está no palco vem outra fase que é a da responsabilidade de fazer tudo bem, o que acarreta algum stress, mas acaba por ser a fase que dá mais gozo e onde se dá o tudo por tudo.
J.D. – Por onde vais andar a mostrar o “Primeiro Sinal”?
N.R. – Vou apresentar o meu primeiro trabalho em algumas rádios e em alguns espectáculos de televisão agora nesta quadra natalícia.
Depois de passar esta fase, irei para estúdio com a minha banda, para prepararmos a tournée que irá começar a 7 de Março e irá passar por Portugal todo e pela Europa. Vou fazer algumas datas em França, no Luxemburgo, na Suíça e em Inglaterra. Sendo filho da comunidade portuguesa em França, é muito importante fazer lá concertos, porque essas pessoas tal como as que vivem aqui em Portugal merecem todo o meu respeito e carinho.
J.D. – A finalizar, pedia-te que deixasses uma mensagem às pessoas que te ouvem e aos teus fãs.
N.R. – Queria deixar um grande abraço e dizer que estou ansioso por começar os concertos e gostaria sem dúvida de ter as pessoas todas lá ao pé de mim para que possa partilhar a minha música com todas elas.
J.D. – O Jornal Dínamo agradece ao Artista Nelson Ritchie a oportunidade de o entrevistar e deseja-lhe as melhores felicidades e um Ano Novo cheio de realizações.
Fotos: DYAM / Pedro Sousa Filipe