| Miguel, Dinis e João, são os “The Dorian Grays” oriundos de Lisboa, uma banda que gravou em Junho de 2009 o primeiro EP, de seu título “Gentle Persuasion”. Consideram a sua música uma experiência vivida a três onde as trocas de ideias são essenciais. O amor à música faz com que sintam a banda como uma expressão viva das suas emoções e procuram incessantemente o desconhecido em busca de novas sonoridades.
O Jornal Dínamo esteve à conversa com os três elementos da banda, no bar “A Paródia” um sítio que sentem como uma segunda casa.
J.D. – Como é que surgiu o projecto “The Dorian Grays”?
Miguel: o projecto já surgiu há algum tempo. Começámos a tocar juntos em 2006 numa banda que criámos na altura. Eu e o João já nos conhecíamos porque tínhamos tocado juntos noutra banda e o baixista que tocava connosco saiu e ficámos num momento de indefinição. Foi nessa altura que conheci o Dinis curiosamente aqui neste bar “A Paródia”. Nesse dia ele estava aqui a tocar piano e um pouco mais à frente na noite, eu contei-lhe que tinha uma banda e que estávamos a pensar fazer uma coisa diferente. Acabámos por nos reunir e as coisas correram bem. A partir daí começámos a tocar.
Tocámos em muitos sítios mas na altura a sonoridade era um pouco mais agressiva. Éramos também mais novos. Éramos os “Clank – a Máquina Punk” (risos). Depois as coisas foram evoluindo e temos vindo a crescer ao longo do tempo.
Quando ouvimos o disco gravado (sobretudo nessa altura), pensámos que tínhamos de mudar de nome, porque a sonoridade já não tinha a ver com o que fazíamos. Era uma coisa mais adulta por assim dizer, e no meio de muitos nomes, acordámos passar a chamarmo-nos “The Dorian Grays”.
Tem naturalmente a ver com o livro do autor Oscar Wilde e foi sugerido até pelo João. Quando ouvi o nome, pareceu-me uma boa ideia. O Dorian Gray é uma personagem que simboliza as coisas do ver e ser visto, as festas do social onde não há um interesse na pessoa que lá está, desde que haja uma imagem e a imagem chega. E é nesse sentido que o nome ficou.
J.D. – Para além de serem músicos, fazem coisas bem diferentes?
Miguel: o Dinis é Professor de Música, o João trabalha como técnico comercial num atendimento a clientes de uma empresa de telecomunicações, eu sou médico. Tirando o Dinis que está ligado à música, eu e o João fazemos coisas bem diferentes.
J.D. – Como é que conseguem coordenar a vossa vida com a vida de músicos?
Miguel: essencialmente ensaiamos o mais possível, que é mais ou menos 4 a 5 horas por semana.
Dinis: o que sinto apesar de tudo é que o tempo acaba por ser um pouco escasso.
João: para quem gosta de tocar e depois ir ao pormenor daquilo que faz, requer mais trabalho e portanto eu por exemplo, tenho pena de não poder para já dedicar mais à banda. Penso que todos pensamos um pouco assim.
J.D. – Quais são as vossas maiores influências?
Miguel: temos muitíssimas. Elas continuam a ser as mesmas de há anos atrás e mesmo as pessoas não mudaram, para todos os efeitos crescemos um bocadinho. O que acontece é que acabamos por ter mais referências à medida que crescemos, mas não esquecemos as mais antigas. Uma coisa não invalida a outra.
Posso dizer que nós os três, somos pessoas bastante ecléticas. Cada um de nós gosta de coisas diferentes. Por exemplo quando vi aqui o Dinis a tocar, ele estava a interpretar Schönenberg, que é um compositor que o Dinis toca muito bem, e além da parte clássica existia a música punk, onde íamos buscar sonoridades mais hard core. Depois evoluiu para outras coisas.
Hoje em dia vamos buscar muitas influências ao rock. Dentro do rock vamos buscar coisas ao progressivo e no nosso EP isso percebe-se. As nossas músicas são todas muito longas e passam por vários momentos. Digamos que dentro de cada tema há várias canções. Mas só nesse sentido é que somos progressivos. Não fazemos solos de guitarras durante alguns minutos com uma grande intensidade e digamos que também nenhum de nós gosta de fazer solos.
João: acho que também faz parte do processo de criação. Vamos experimentando melodias e tentamos encaixá-las e depois acaba por não ser um rock puro.
Dinis: esse lado experimental, onde também existe um texto e uma narrativa, acaba por resolver um pouco essa dimensão. Na música depois há uma ideia que é transformada e desenvolvida colectivamente. Pegamos num ponto que não é necessariamente conhecido e resulta dessa experiência.
J.D. – Como é que se deu o conhecimento com o Marco Jung que é conhecido por já ter produzido outras bandas?
Miguel: o melhor amigo do Dinis que é o Eddy Slap, que é um grande baixista. Ele toca com um grande baterista e conhece um grande produtor que é o Marco Jung.
Um dia calhou o Dinis e o Marco estarem juntos, e nós já conhecíamos o trabalho do Marco com outras bandas. Acabámos por gravar com ele e foi uma experiência fantástica. Ele tem uma maneira de trabalhar absolutamente fabulosa.
Nós ganhámos a gravação de um EP, um pouco antes disso, no fim de 2008, e gravámos um disco na Restart. Depois de ouvirmos o resultado, achámos que não estava como queríamos. Nunca nos soou como desejávamos. Entretanto ganhámos vários concursos e chegámos à final de outros e fomos juntando dinheiro com isso. A seguir acabámos por gravar com o Marco pela sua capacidade de trabalhar uma banda.
Dinis: todo esse esforço acabou por ser a pré-produção. Até porque as músicas que acabámos por gravar, no “Gentle Persuasion”, não têm muito a ver com o trabalho que estávamos a fazer em termos de programa. Acabou por ser uma coisa interessantíssima porque também serviu para nós os três estarmos a gravar uma coisa com princípio, meio e fim com alguma sequência.
J.D. – Falem-me um pouco deste vosso EP “Gentle Persuasion”?
Miguel: o nosso EP foi gravado em Julho e lançado em Outubro 2009. O lançamento foi no Music Box com os “Iconoclats” que na altura também estavam a lançar o EP deles e ainda acabámos por vender dois CD´s.
J.D. – O que é que se pode encontrar na vossa sonoridade?
Miguel: penso que isso fica ao critério de cada um. Acima de tudo pode-se encontrar em cada um, intensidade. Seja com muito ou pouco barulho a intensidade está presente. Pelo menos é o que nós queremos.
J.D. – A vossa música é também um meio de passar algum tipo de mensagem?
Miguel: normalmente sou eu que faço a letras, e as músicas fazemos em conjunto.
Primeiro surgem as ideias, de qualquer um de nós, e depois começamos a desenvolver. A partir daí é que eu começo a escrever a letra, o que se torna um processo algo moroso, porque tenho de adaptar a letra à música. Cada letra tem um tema. Uma ideia que passa pela música.
Nesse sentido sim existe uma mensagem, mas em qualquer música o essencial é o que se ouve. Não é de forma alguma algum plebiscito ou manifesto. O que fazemos é música e essencialmente é isso que importa. Depois vou escrevendo umas coisas na esperança de que as outras pessoas as entendam (risos).
J.D. – Este bar “A Paródia”, é costume tocarem cá?
Miguel: já tocámos aqui umas duas vezes, mas com uma abordagem diferente.
Dinis: conhecemo-nos aqui, e isso tem uma poesia presente e acabámos por fazer também coisas acústicas, que é uma abordagem diferente.
Aproveitámos os ensaios para tocarmos a música sob uma outra perspectiva. O engraçado é que as músicas não só sobreviveram a essa transformação como outras ganharam algumas texturas e alguns registos que depois aproveitámos, mas no contexto mais eléctrico.
Miguel: Lembro-me de tocarmos uma versão do “The Beautiful People” do Marylin Manson que só funcionou porque havia um ambiente muito intimista.
Nesses dois concertos eu estava sem microfone, o Dinis sem piano e o João tinha uma bateria que era um bombo, uma tarola e uns pratos de choque. Foi muito engraçado.
Mas sem dúvida este sítio é muito especial e muito mágico.
J.D. – Qual é a reacção do público à vossa música?
Miguel: acho que as pessoas estão a começar a estar mais atentas à música que se começa a fazer e que é diferente.
João: tentamos criar momentos de interacção e por norma corre sempre bem.
Aliás a interacção com o público é essencial. Mas quer-se que ela seja espontânea, não planeada. Nós próprios também gostamos de interagir com o público.
Miguel: de uma maneira geral a nossa interacção com o público é muito positiva. Já entrámos em muitos concursos, chegámos à fase final de muitos deles e ganhámos outros tantos. Agora estamos em Corroios, no “Festival de Corroios”, com uma banda muito boa com quem já tínhamos tocado também que são os “Amazing Flying Pony”.
J.D. – Por onde já andaram a tocar? Por onde vão andar? Já têm concertos marcados?
Miguel: tocámos já umas quatro ou cinco vezes na “Associação dos Bacalhoeiros”, na “Crewhassan” e também tocámos na “Casa da Música”.
Neste momento temos agendado o “Festival de Corroios”, vamos tocar dia 6 de Março (às 22H00) no Espaço Nimas e este entusiasma-nos muito porque é um concerto com uma plateia sentada que para nós é uma estreia. As pessoas estão ali como se estivessem a ver um filme e isso torna-se mais difícil porque há pessoas sentadas a digerir o que se está a passar. Não estão propriamente a ver o concerto e a falar com a pessoa do lado, pelo menos muito tempo.
O tocar no cenário de um cinema é algo que nos entusiasma muito.
Vamos tocar também em Torres Novas, Leiria, temos já coisas alinhavadas para irmos até ao Porto, a Beja e a Évora e para já ficamos por estes sítios até Abril.
J.D. – Estão já a trabalhar num novo projecto?
Miguel: sim, estamos a começar a tocar coisas novas. Aliás é uma coisa que estamos sempre a fazer de uma maneira geral. Claro que agora também estamos interessados em fazer a promoção do disco.
O que estamos a fazer neste momento é a ensaiar e a fazer espectáculos.
Mas estamos sempre a experimentar coisas novas e tentar encontrar sonoridades originais.
J.D. – O que gostariam de dizer a quem vai ler esta entrevista?
Miguel: antes mais nada agradecer por lerem esta entrevista. Gostaríamos que fossem ao nosso sítio, que ouvissem a nossa música, decidam se gostam e se gostarem que venham aos nossos concertos.
O Jornal Dínamo agradece aos “The Dorian Grays” a oportunidade de realizar esta entrevista.
Agradecemos também ao Pedro e à Filipa, proprietários do bar “A Paródia” que nos possibilitaram a realização desta entrevista.
Fotos: Pedro Sousa Filipe