Enquanto realizador independente sinto muitas vezes que este tipo de cinema está intrinsecamente ligado ao provincianismo. Deriva da não concordância com o main stream.
O denominado cinema espectáculo, o cinema enquanto fábrica de produção massiva, faz-me lembrar o célebre filme de Chaplin “Tempos Modernos”, em que o essencial e realmente importante neste caso seria a fábrica, o homem modelo de industrialização, uma mecanização exacerbada, com movimentos contínuos e repetitivos.
Ora bem, o cinema não é isto. O cinema são as histórias contadas, os fotogramas filmados, exibidos na sala. Não uma fábrica em constante laboração, e o produto está feito, acabado e pronto a ser entregue.
Não podemos cair no mediatismo do que se passa em maioria dos casos por esse mundo fora, da cinematografia fútil, dos filmes sem conteúdo e sobretudo do caminhar numa passadeira vermelha ou de outra cor qualquer, numa apresentação mediática de um determinado filme.

Realizador Hernâni Duarte Maria, durante a produção do filme “Faminto”
Claro que enquanto realizador, desejo sempre que isso aconteça com os meus filmes, mas de uma maneira menos visível, sobretudo com um olhar dos media. E que se possa dizer e escrever “ali está um realizador que continua na sua caminhada independente, sem focos de luz, fazendo os seus filmes e apresentando-os. Tem valor, mas mesmo que não tenha será sempre relevante, uma pequena referência mesmo que seja insignificante, ao trabalho efectuado.” Isso sim, parece-me algo importante e uma linha a seguir. Essa linha tenho-a seguido, sem me desviar!
Dito isto, constato que não se passar nem por cá nem por outro lugar, o mediatismo está sempre presente. As fotos, as reportagens, as entrevistas… tudo isto faz parte da promoção do filme. Não estou contra, pelo contrário, mas questiono… estes mediatismos, esta visibilidade de um filme, beneficia quem? E qual a razão de não ser igual para todos? Porque existe uma clara separação dos que são mediáticos, conhecidos, quer sejam realizadores, produtores, actores… com os que estão num outro nível? o nível sem nível…
Porquê?
Isto deixa-me profundamente desapontado, porque tanto eu como outros trabalhamos imenso para que os filmes feitos e produzidos em circunstâncias adversas tenham projecção e sejam exibidos e seleccionados.
É caso para dizer: a sociedade move-se pelo faz de conta, pelo aparecer naquela revista ou naquele jornal.
O aparecer é por si só fonte de partilha e conversa mediática aqui e ali.
Não quero isso para um cinema independente, pelo menos no meu caso específico. Não quero mediatismo, quero somente que me reconheçam pelo trabalho feito, pelos meus filmes, os actores que trabalharam em condições difíceis e sobretudo pelo continuar a amar os filmes, o cinema e a realizá-los.
O cinema não foi feito nem apareceu como objecto decorativo, ou uma mera arte retalhada da fotografia. O cinema apareceu, porque era preciso contar as histórias com movimento, com emoção, com som, com música. Isto é o essencial do cinema. O contar uma história, não podemos cair neste mediatismo exacerbado constante em que o que realmente prevalece é somente a foto, a revista e pouco mais, esquecendo o essencial, o filme e a história.
Termino com este frase de Orson Welles: “O cinema não tem fronteiras nem limites. É um fluxo constante de sonho”.
Fonte: Hernâni Duarte Maria
Foto: João Marco