Lançamento de DVD em dia de S. Valentim
Uma história simples e ao mesmo tempo complexa, num cenário idílico, inspirado numa obra-prima da literatura de Gustave Flaubert. É o que se pode dizer do mais recente filme da Realizadora Anne Fontaine, “Gemma Bovery” e cujo dia escolhido para lançamento em DVD, não poderia ter sido o melhor para uma história de amor.
Ainda que inspirado no original, existem naturalmente diferenças. O humor também tem lugar neste filme, apesar de ser manifestamente um drama.
Sobre “Gemma Bovery” foi possível conversar com a Realizadora Anne Fontaine, que nos falou acerca do filme, dos actores e no que actualmente se encontra a trabalhar.
Acerca de “Gemma Bovery”, Anne Fontaine falou-nos da curiosidade que sentiu acerca deste clássico. “Eu descobri este livro, e fiquei muito curiosa com esta amálgama de personagens, e quis agarrar nelas e revisitá-las completamente. Vi uma grande originalidade no romance clássico, de uma total liberdade e comicidade e adaptei-o livremente ao cinema, mas a verdade é que a inspiração está lá. Claro que inventei cenas que não fazem parte da obra. Usei um pouco a projecção da imaginação na realidade, quase como a imaginar uma outra vida romanesca, na personagem principal e de alguma forma misturar a vida da personagem original do livro, na do meu filme. Esta foi a minha ligação pessoal”
Em relação aos actores, a realizadora, explicou-nos como decidiu a sua escolha. “Com o Fabrice Luchini, já tinha trabalhado no filme “La Fille de Monaco” e para além disso conheço-o muito bem, há muitos anos do teatro. Ele tem a literatura no sangue, e todo este enredo, é uma coisa muito natural para ele. É um francês muito original, com uma personalidade rara e pensei logo nele, quando descobri este clássico. Em relação à actriz, conheci-a quando fui a um casting em Inglaterra, e pensei que não seria uma boa ideia, pois teria de fazer um grande trabalho com a língua francesa, o que ia ser bastante demorado e trabalhoso… afinal ela não sabia falar francês. É muito importante haver sempre uma boa comunicação entre todos os actores. Mas depois quando ela entrou tão graciosa na sala do casting, tomei a decisão de a escolher, apesar do trabalho que houvesse pela frente. A verdade é que encontrei outras actrizes antes, mas nenhuma me satisfez ao ponto de escolher alguma delas. Com a Gemma Arterton, foi mesmo diferente”.
Também os locais onde o filme foi filmado não foram deixados ao acaso. Anne Fontaine contou-nos que não poderia ser de outra forma. “Tal como Flaubert escreveu este romance, eu quis que ele fosse também um pouco erótico, mas de uma forma mais indirecta, e achei que era importante uma luz muito específica e que as duas casas estivessem perto o que daria também um bom nível de proximidade entre as personagens. Escolhi mesmo os sítios para o filme. Eu sabia que ia ser na Normandia porque os ingleses gostam desta zona, onde é possível viver de uma forma calma, e em contacto com a natureza. As pessoas vêm para este sítio precisamente para mudar radicalmente as suas vidas, para respirar, para se sentirem bem e diferentes. Claro que tem uma parte de humor, onde se descreve claro os ingleses e a sua maneira de estar, diferente dos franceses e mesmo das pessoas que vão para aquela zona e que despertam a curiosidade nas pessoas da terra. Eu, pessoalmente prefiro viver em grandes cidades, apesar de agora me encontrar numa pequena cidade da Polónia a trabalhar. Acho que é mais fácil encontrarmos o que queremos, seja físico ou amoroso, pessoas diferentes ou estranhas. Nas zonas mais pequenas, todos se conhecem, e estão todos muito atentos ao que o vizinho faz”.
Anne explicou ainda que tem uma ligação pessoal a Portugal. “Eu gosto de viver em Paris, porque como já mencionei, gosto de viver em grandes cidades, o que se calhar muitas pessoas não saberão é que vivi em Lisboa. Nunca filmei em Lisboa, mas considero-a uma cidade diferente, mas filmar em Portugal, teria de ser uma história que tivesse a ver com o país, e só assim faria sentido. Para mim é ainda uma ideia misteriosa (risos). A verdade é que falo um pouco de português. Tenho uma ligação muito boa com Portugal, porque aos 13 anos estive cá e por cá fiquei até aos 15 anos”.
A finalizar, Anne Fontaine falou-nos um pouco do novo trabalho que está a desenvolver. “Chama-se “Innocent” e passa-se na Polónia, no Inverno de 1945 e a história centra-se numa jovem estagiária que trabalha com uma filial da Cruz Vermelha Francesa com a missão para encontrar, tratar e repatriar os sobreviventes franceses dos campos alemães. Só que um dia, uma freira polonesa chega no hospital e implora Mathilde (que é a personagem) para ir ao seu convento, onde vai descobrir uma realidade que desconhecia”.
“Gemma Bovery” de Anne Fontaine, é lançado em DVD hoje dia 14 de Fevereiro.
Texto: Sandra Adonis / Luís Silveira e Castro
Fonte: Jornal Dínamo
Fotos: © Jérôme Prébois / Albertine Productions – Ciné-@ – Gaumont – Cinéfrance 1888 – France 2 Cinéma