“Drop”: quando a tecnologia cai nas mãos erradas

| Drop (2025) é o suspense psicológico mais recente de Christopher B. Landon, onde o realizador explora os aspectos mais assustadores da presença das tecnologias e da cultura digital a partir de um primeiro encontro, num género que já domina.

Um thriller de estrutura dos anos 90, mas com a presença da tecnologia contemporânea, assim se assume Drop, o suspense psicológico e de acção do mesmo realizador que fez Happy Death Day (2017) e Freaky (2020). É um sintoma da centralidade que as tecnologias ocupam nas nossas vidas, passando naturalmente a entrar no grande ecrã e a fazer parte das suas histórias, assumindo uma conotação cada vez mais negativa.

Foi em 1996 que um telefone fixo foi utilizado para criar uma das cenas de abertura mais icónicas de um filme de terror, Scream, assumindo um papel essencial ao cultivar o medo com um simples toque, que simboliza uma chamada da morte. Em Drop (2025), o telemóvel também é usado para aterrorizar a protagonista, sendo que desta vez o vilão tem à sua mercê um número maior de recursos tecnológicos que dificultam a vida de Meghann Fahy – de White Lotus e Perfect Pair. 

DropFahy é Violet, uma mãe viúva que vai ao seu primeiro encontro em anos, com um homem que conheceu numa app de encontros. À saída de casa, dirige-se à sua irmã em tom de brincadeira: “Lembra-te, a Grande Irmã (The Big Sister) está a ver”. De forma directa, esta fala diz-nos que Violet deixa o seu filho com a irmã mais nova e que pode ver o que estão a fazer quando quiser, pois o seu telemóvel está ligado às câmaras de vigilância espalhadas pela casa. Noutro sentido, pisca-nos o olho ao clássico de George Orwell “1984” e à temática que o filme vai assumir mais à frente.

No restaurante, Violet começa a receber mensagens anónimas no seu telemóvel por AirDrop – funcionalidade dos dispositivos Apple que permite enviar imagens, vídeos, etc. O par de Violet, Henry (Brandon Sklenar de Isto Acaba Aqui (2024)), explica-lhe que para conseguir enviar um AirDrop, a pessoa tem de estar a pelo menos 15 metros de distância, o que significa que esta se encontra no restaurante.

O que se trata até ao momento de uma situação bizarra, passa rapidamente a assustadora, quando Violet recebe uma mensagem que a dissuade de partilhar o que lhe é enviado com Henry, caso contrário o seu filho morre. Com o telemóvel confirma a presença de um intruso armado na sua casa. Esta tecnologia, que deveria ser usada para seu benefício, passa a ser um dos meios pelos quais é controlada.

DropEm entrevista, o realizador de Drop admite que o filme é uma versão madura de Paranóia (Disturbia), que escreveu em 2007. Em ambos os filmes encontramos a temática da tecnologia como extensão do olhar, da vigilância e o seu efeito psicológico nos que estão a ser observados. Enquanto que em Paranóia, situada nos anos 2000, vemos um adolescente em prisão domiciliária a utilizar a tecnologia ao seu dispôr para observar o comportamento dos vizinhos, em Drop a tecnologia é utilizada pelo antagonista para ver e ouvir tudo – o poder do Big Brother de Orwell. 

Violet, à semelhança de William em “1984”, é controlada pela consciência de vigilância constante, que a obriga a obedecer. Da mesma forma, o terror que a personagem sente não está apenas no agressor, mas também na ideia de inexistência de um lugar onde o olhar não chega. 

Quando lhe é exposta a missão que deverá cumprir durante o encontro, matar Henry, depara-se com um dilema moral aparentemente sem saída. Os planos e os movimentos da câmara, num jogo com a luz, representam de forma criativa o estado psicológico da protagonista que altera entre agitação, confusão, hesitação, desespero e por fim clareza. É nesta perspectiva que Landon guia o espectador pelo restaurante e semeia as pistas falsas e desvios intencionais que caracterizam um thriller hitchcockiano, deixando o espectador na dúvida do autor das ameaças. 

Poderia ter sido interessante passar um pouco mais de tempo a explorar as personagens que são introduzidas como suspeitas, pois a maioria é rapidamente ilibada. 

Até aqui o filme foi uma montanha-russa lentamente em ascensão, com um aumento constante da tensão e momentos de suspensão na subida, proporcionado por pausas cómicas – grande parte delas que devemos ao empregado de mesa. Quando Violet descobre quem está atrás dos ecrãs, a montanha-russa começa a descer a toda a velocidade, com uma sequência de acção intensa. Por fim, o filme é embrulhado num final feliz, semelhante ao de Happy Death Day

Drop proporciona uma experiência cinematográfica do terror contemporâneo do assédio digital, um inimigo sem corpo e por isso mais difícil de combater. Entre os seus pontos fortes estão os momentos cómicos de alívio de tensão e os diálogos que, entre jogos de palavras e pequenos presságios, antecipam o desfecho. É um filme visualmente cativante que vale a pena ver no grande ecrã. 

Drop estreará nas salas de cinema portuguesas, no dia 10 de Abril de 2025 pela Cinemundo.

 

Avaliação do filme entre 1 a 5 estrelas: 3,5 

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Fotos: Universal Pictures / Cinemundo

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