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Festival NOS | Dia 1

“NOS Primavera Sound” 2015

Logo Primavera Sound 2015Eis que é chegado o primeiro dia do “NOS Primavera Sound” e a azáfama é muita… afinal, o primeiro dia do festival nortenho pautou logo pela grandiosidade e qualidade da proposta para abertura da quarta edição do certame.

Patti Smith, Interpol, FKA Twigs ou Caribou foram motivos mais que suficientes para a afluência de milhares de festivaleiros.
Como já vem sendo tradição, o Parque da Cidade do Porto é o local de eleição e no que respeita à decoração, a organização não olhou a meios e tudo está alinhado com uma luxuosa imagem de cores campestres e primaveris a que o Primavera Sound já nos habitou.

As meninas usualmente são coroadas com flores e as toalhas do piquenique lá se vão espalhando um pouco por todo o recinto, que lá albergam uns copos de cerveja fresca para enganar o calor.

Pelas 17 horas, Bruno Pernadas dá início à actuação onde nos apresenta o seu projecto “How can we be joyful in a world full of knowledge?”. A aposta é ganha no típico quebrar do gelo inicial.

Bruno Pernadas

Bruno Pernadas

A sonoridade começa num mote fluido que divaga entre jazz, folk e electrónica.
A surpreendente capacidade do multi-instrumentalista nos despertar sinestesias bem adequadas ao tempo e ao espaço em que decorreu o concerto, foram uma mais-valia no prelúdio do primeiro dia do Primavera Sound.
Temas como “Ahhhh”, “Pink Poneis don´t fly on Jupiter” ou ainda “Huzoor”, fizeram parte da singular prestação do português, que no seu chamamento, cristalizou a sua actuação ao nível de uma bonita banda sonora de um filme em cenários bucólicos.

Como já é sabido, por muito que a vontade seja muita de vermos todos os concertos, a capacidade humana de estarmos presentes é muitas vezes vencida e há que fazer escolhas de forma a não perdermos concertos que consideramos que foram importantes… como tal não foi possível assistir aos concertos de Cinemara e Mikal Cronin.

Desde a apresentação do cartaz do “NOS Primavera Sound” que é certo e sabido que este ano é especial por muitas e diversas razões.
Patti Smith é uma das atracções e com o devido respeito que lhe é merecido, entendi que este seria dos concertos que não poderia ser jamais posto de fora da minha agenda.

Patti Smith

Patti Smith

Confortavelmente fui cedo para me sentar numa das cadeiras disponíveis no Palco “Pitchfork”; foi pelas 20 horas que entrou aquela que é considerada a papisa do rock psicadélico.
Patti Smith, requer uma respeitosa obediência e consideração pelo seu percurso artístico que vai da música, à poesia, passando pela pintura e pelo seu constante activismo, tanto na esfera da política, como em questões sociais.

O carisma da artista confunde-se com a simplicidade com que se apresenta. Contudo, não nos podemos deixar enganar pelo modo informal com que se apresenta em palco, afinal estamos perante uma bem feitora do rock, que marcou a geração de 70 tal como Lou Reed ou Marianne Faithfull.

E porque em 2015 se celebram 40 anos da edição do primeiro disco da artista “Horses”, o “NOS Primavera Sound” entendeu, e muito bem, que Patti Smith seria em dose dupla no dia 4 e 5, numa justa homenagem à artista, sendo que no primeiro dia seria para os êxitos de carreira e o segundo, um exclusivo dedicado ao seu primeiro disco que viria a ser um marco no rock/pós punk.

A plateia estava composta por uma comunhão geracional de pessoas que estavam ali, para ver a papisa (que acredita que a música pode ser a forma universal de diálogo entre os povos … e nós concordamos), assim entronizada pela sua vasta pegada deixada na música e destacada intervenção nos mais vastos meios artísticos.

Os 68 anos são um detalhe para o vigor de Patti Smith, que rapidamente levou o público ao êxtase com “Dancing Barefoot”.

Icônica desde a década de 70, a artista é muito mais do que alguém que compõe temas muitas vezes cáusticos e sublimemente corrosivos para os padrões das sociedades capitalistas. Patti Smith é inegavelmente, o Espírito Santo da música, que dispara o seu perfume às massas, não se acomodando com o passar dos anos, ao lugar ao sol que há muito conquistara.
A voz, essa mantém-se como a de “Horses”, intocável e levada muitas vezes aos píncaros do divino.

Durante 60 minutos o Porto (que pela primeira vez recebia um concerto da artista), cantou e suspirou com temas como “Blakean”, “Boy” ou ainda “Banga e People”.
A eucaristia presidida terminou entretanto, e o público efusivo estava satisfeito e acima de tudo expectante pelo dia seguinte com a cerimónia de “Horses”.

Entretanto no Palco “NOS”, já se saltava com a boa disposição e empatia dos canadianos Mac Demarco que à mesma hora da actuação de Patti Smith, agraciavam o público com temas do disco “Salad Days” ou do mais recente trabalho “Another One”.

Os presentes foram ainda convidados pelo vocalista que atirava o seu jogo de charme descontraído, para saírem à noite com Mac DeMarco e entrarem no registo festivo com a banda.

FKA Twigs – O bondage hipnótico

Parou tudo! A partir deste momento e enquanto estivermos a falar de FKA Twigs ou simplesmente Tahliah Barnett, terei que admitir a minha mais profunda fraqueza e encanto que tenho pela inglesa que tal como a mim, enfeitiçou MEIO mundo com a forma e meios de desconstruir a música e nos levar por uma viagem de experiências pessoais, mas que a todos tocou, numa por vezes profunda depravação comportamental a que ninguém ficou imune.

FKA Twigs

FKA Twigs

A fasquia está alta para Tahliah Barnett, alta não! Está altíssima! E os milhares de festivaleiros que se foram juntado em frente ao Palco “Super Bock” estavam sedentos, quiçá desgraçadamente arrebatados, tal como eu, por este amor sádico que alimentamos e que sustenta esta solene esperança platónica de sentirmos a sussurrante voz da Tahliah aos ouvidos e preencher os nossos prazeres com texturas vocais e cíclicos movimentos de sensualidade.

Recordo que Lady Gaga, havia lançado em 2014 um conceito na música que intitulou como artpop, sendo uma revolução cultural e musical. Artpop em Lady Gaga é heresia quando temos uma FKA Twigs que monopoliza imperativamente a Artpop sem recorrer à maquinaria do marketing, levando a sua música a mainstream, permanecendo-a intocável e de uma originalidade quase surreal.

Há em Tahliah um subtil espectáculo de erotismo que constrói e desconstrói teoremas de amor, vícios, sexo ou prazer. FKA Twigs é mesmo assim, crua nas mensagens e sem máscaras.

Pelas 21 horas, como é regra britânica, FKA Twigs surge envolta de aplausos e é colocada pela plateia num pedestal. Os músicos que a acompanham, criam com as batidas, que variam entre o eletrónico e o hip hop, ritmos de um experimentalismo híbrido, criando uma aura mística que logo hipnotizou os presentes, e que apenas viria a ser quebrada pelos histerismos justificados de uma plateia rendida, apenas à leveza da entrada em palco da artística britânica.

Os trabalhos de estúdio EP1 e LP1 foram milimetricamente descortinados em palco, com Tahliah a lançar os seus poderosos encantamentos em temas como “Video Girl” ou o sussurrante “Give Up”, não negligenciado o mais conhecido e poderoso tema da artista, “Two Weeks”, levando o público a um estado de espirito atónito com o espectáculo de movimentos calibrados com cantos de sereia delicados, mas letais.

Terminado o espectáculo com o público a necessitar de oxigenação urgente, era tempo de nos virarmos uns metros para o lado direito.
No Palco “NOS” começava a actuação dos reis na noite, INTERPOL.

EL PINTOR e muito mais…

Habitué em território português, a banda nova-iorquina, foi o chamariz da enchente de pessoas que se deslocou ao festival na primeira noite.

INTERPOL

INTERPOL

Sem elaborados jogos de charme ou necessidades de cativar o público, os INTERPOL apresentaram serviço com competência que lhes é reconhecida e durante 90 minutos, foram desbravando temas da carreira, dando enfoque ao último disco “El Pintor”, indo no entanto como previsto, ao encontro dos desejos do público de temas de trabalhos anteriores.
O palco apresentava uma tela com grafismos bem coordenados sem pretensiosismos e “let´s rock”.

Para quem nunca havia visto os INTERPOL ao vivo, confesso que persistiu uma certa desilusão por não serem daquelas bandas que preenchem um palco e arrebatam os corações dos presentes. Talvez porque a cena seja mais de uma banda de estúdio e não de animais de palco, que cultivam o culto de bandas a ver antes de morrer.
Os INTERPOL ainda assim não desapontam para um público que tem na ponta da língua temas de carreira como são exemplo, “Evil”, “Slow Hands”, “My Desire” ou ainda “All the rage back home” (a encerrar a actuação).

E como diz o ditado, em equipa vencedora não se mexe, e é sempre lucro com os INTERPOL, que não surpreendem mas não desiludem.

Com o fim do concerto dos norte-americanos, as atenções e vontades de dançar eram muitas, apesar de algum vento que soprava no Parque da Cidade.

Meia-noite em ponto, e o Palco “Super Bock” virava a pista de baixo do LUX, com milhares de pessoas dispostas a gastarem todas as energias com, The Juan MacLean.

The Juan MacLean

The Juan MacLean

O projecto electrónico do mentor John MacLean, ex-Six Finger Satellite, que tem como voz Nancy Whang (que colabora com LCD Soundsystem), colocaram os presentes numa daquelas noites em que a energia é para gastar a dançar até à última gota de suor.

Alguém que me disse no meio da actuação – “Finalmente vou dançar com uma voz ao vivo e é isso que faz falta na noite” – e eu não poderia estar mais de acordo. Foi dançar até a ultima casa, com temas electrizantes e um público receptivo e constante na canibalização de temas como “You were a Runway”, “Loves Stops Here” ou “Running Back to You”.

“The Juan MacLean”, encerraram a noite dando uma lição de excelência e magistral tacto de música eletrónica!

“I can´t do without you”

E porque a noite continuou a todo o gás e nós ainda queríamos mais, eis que era chegada a hora dos Caribou.

O anfiteatro do Parque da Cidade rapidamente se preencheu com os noctívagos desejosos de mais uma música para dançar.
Estavam formadas as sinergias perfeitas para a noite ser em grande, ainda que o frio pairasse, uma vez que não faria mossa pois os corpos queriam era gesticular-se ao som de temas como “Odessa” ou “Ye Ye”.

Como expectável, à hora marcada o músico canadiano, Dan Snaith, subia ao Palco “NOS” para aquecer a noite portuense, que era de múltiplas nacionalidades mas congregadas no espírito festivo do Primavera.

A junção das influências assentes em projectos da electrónica europeia como Kraftwerk, faz de Caribou um sucesso das pistas de dança que se materializam em canções notáveis, que ao longo da noite foram girando a gosto dos presentes.

O final da noite foi encerrado com um dos temas chave do álbum, “Out Love – “can’t do without you!”.

Feitas as contas, o dia 4 de Junho foi de tirar o fôlego aos milhares de festivaleiros que esgotaram, o primeiro dia do “NOS PRIMAVERA SOUND”.

Fotos: NOS Primavera Sound / Hugo Lima ©
Agradecimentos: Marina Reino/ Luís Gomes (NOS)

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