A estratégia nacional para a promoção da leitura e da literacia

| A 10 de Julho, a APEL – Associação Portuguesa de Editores e Livreiros apresentou a 3.ª edição do BOOK 2.0 – O Futuro da Leitura, que se realiza nos dias 3 e 4 de Setembro de 2025, na Fundação Champalimaud, em Lisboa. Durante a conferência de imprensa, foi reforçada a relevância do BOOK 2.0 como um pilar de uma estratégia nacional para a leitura e a literacia em Portugal, num país que detém os índices entre os mais baixos da Europa, apesar dos avanços no acesso à educação e da riqueza da nossa produção editorial.

APEL Com duas edições já consolidadas e resultados visíveis nas medidas implementadas a nível nacional, o BOOK 2.0 pretende ir mais além de Portugal, numa estratégia anunciada neste dia pela APEL, de internacionalizar o evento para outras geografias:

“Vivemos um momento decisivo para o sector do livro em Portugal. O crescimento continuado do mercado livreiro nacional num contexto internacional de incerteza e com alguns países europeus a darem sinais de estagnação, e até de contracção, os desafios comuns a outros países e a outras línguas e o reconhecimento internacional do BOOK 2.0, mostram que estamos a criar um modelo de debate e discussão replicável e útil a outras geografias. Estamos a trabalhar activamente para que o BOOK 2.0 possa, em breve, ter uma edição fora de Portugal. O objectivo é reforçar a cooperação internacional no sector editorial e livreiro e posicionar a leitura e a defesa das línguas como uma causa de política cultural comum na Europa”, afirma Miguel Pauseiro, presidente da APEL.

“A leitura não existe de forma isolada: é parte de algo maior. De um ecossistema onde a cultura, a literacia e a educação se entrelaçam e se reforçam mutuamente. E no centro de tudo isso, está o livro. É, por isso, que um país que valoriza o livro é um país que compreende que educar não é apenas transmitir conhecimento, mas também formar espírito crítico, sensibilidade e imaginação. Uma sociedade que lê é uma sociedade mais preparada, mais livre e mais consciente das escolhas que faz”, afirmou a Ministra da Cultura, Juventude e Desporto, Margarida Balseiro Lopes, que marcou presença no evento de apresentação.

A 3ª edição do BOOK 2.0 surge num contexto de forte entusiasmo em torno do livro em Portugal. Segundo os dados mais recentes da GfK – an NIQ company, o mercado livreiro português registou em 2024 um crescimento de 9% em valor face a 2023, totalizando cerca de 14 milhões de unidades vendidas, incremento que se mantém equivalente no 1.º semestre de 2025. A ficção foi o segmento que mais cresceu, com aumentos significativos tanto na literatura como na ficção infanto-juvenil, alavancados pelo envolvimento de leitores mais jovens e pela relevância das redes sociais como canal de descoberta e recomendação.

O número de novos títulos publicados também aumentou, sinalizando a confiança e o investimento contínuo das editoras num momento de continuada vitalidade para o sector. Apesar destes indicadores positivos, a APEL sublinha que esta trajectória de crescimento precisa de ser consolidada com políticas estruturais de promoção da leitura e acesso ao livro.

Um mote provocador para um tempo de transformação: “A Reinvenção das Espécies”

Sob o mote “A Reinvenção das Espécies”, esta edição propõe uma reflexão sobre como o livro, a leitura e o conhecimento se devem adaptar e reinventar num tempo de inteligência artificial, aceleração digital e urgência ecológica. Com um programa que percorre três grandes eixos — a reinvenção do livro, da leitura e do potencial humano — o BOOK 2.0 reforça o seu papel enquanto fórum internacional de ideias, investigação e acção, apresentado diferentes perspectivas, tendências e desafios que o sector enfrenta.

O BOOK 2.0 assume-se como uma plataforma plural de diálogo, pensamento crítico e construção de soluções, reunindo autores, editores, educadores, decisores políticos, cientistas, líderes de opinião, especialistas e jovens num espaço comum. Entre os temas em destaque estão o impacto da inteligência artificial nas práticas editoriais e no cérebro humano, o uso das plataformas digitais e os direitos de autor, a valorização das livrarias e bibliotecas como espaços culturais, o papel da leitura na saúde mental, o desafio dos jovens e da leitura, a valorização da língua portuguesa num mercado globalizado e as políticas públicas de literacia em contexto europeu.

Entre os oradores internacionais já confirmados estão Johan Pehrson, ex-Ministro da Educação da Suécia, que participará num painel sobre políticas públicas e literacia como missão colectiva europeia; Gvantsa Jobava, presidente da IPA – International Publishers Association, que abordará a nova missão global da organização e a importância da coesão internacional do sector; Pedro Pacífico, criador do perfil Bookster e referência na promoção da leitura junto de públicos jovens nas redes sociais; Meg Jay, psicóloga clínica e autora de “A Idade Decisiva”, que explorará o impacto do tempo e da tecnologia na formação de hábitos de leitura; Lucia Dellagnelo, Directora-Adjunta para a Educação e Skills da OCDE, numa conversa sobre a importância da literacia e da educação como pilares base de uma sociedade crítica e informada.

Cassie Chadderton, CEO do World Book Day no Reino Unido, apresentará estratégias de incentivo à leitura por prazer entre crianças e jovens; Paula Pimenta, escritora brasileira que trará a visão da adaptação dos livros para séries de televisão; José Eduardo Agualusa, jornalista, autor e editor angolano numa sessão sobre a força da língua Portuguesa no mundo – a 5.ª língua mais falada no mundo, a 3.ª mais falada no hemisfério ocidental e a mais falada no hemisfério sul do planeta; Sonia Draga, Presidente da Federation of European Publishers com a apresentação da missão e manifesto dos editores europeus; Enrique Martinez, CEO da Fnac Darty um dos maiores grupos de retalho na Europa e Ingo Kretzschmars, CEO da Thalia Bücher uma das maiores cadeias de livrarias na Alemanha, ambos numa conversa sobre os desafios e oportunidades do setor editorial e dos novos formatos de leitura e de edição, moderado por Carlo Carrenho, consultor e especialista editorial; e Daniel Benchimol, para uma masterclass sobre o impacto da inteligência artificial generativa na indústria editorial.

Entre os participantes nacionais já confirmados, destacam-se nomes como Nuno Crato, ex-Ministro da Educação e Ciência e Director da Iniciativa Educação da Fundação Teresa e Alexandre Soares dos Santos; Dino D’Santiago, músico e fundador do projecto Lisboa Criola, numa sessão sobre a importância da expressão através da música e das palavras; Carlos Fiolhais, físico e professor universitário, que trará a perspectiva da ciência para a sustentabilidade e a produção editorial; Mariana Nunes, criadora de conteúdos digitais e da página de bookstagram ‘Chronicles of Mariana Nunes’; Analita Alves dos Santos, escritora, mentora e activista literária, que reflectirá sobre como contar histórias pode ser um acto de resistência e inclusão; Fernanda Freitas, Fundadora da Associação Nuvem Vitória que destacará o impacto comprovado de contar histórias na saúde e em cenários de doença; Dinis Machado e Elisabete Machado, Fundadores da livraria ‘The Poets & Dragons Society’; André Novais de Paula, Presidente da Associação Portuguesa de Marketing Directo e Digital e Joana Pinto, Advogada e Sócia da Antas da Cunha ECIJA para um debate sobre os desafios das plataformas digitais, inteligência artificial e marcos legais aplicáveis a temas de direitos de autor; o ilusionista Mário Daniel; e de Sua Excelência o Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, para encerrar o 1.º dia do evento, reforçando o compromisso nacional com a promoção da leitura e da literacia.

O BOOK 2.0 será também o palco da apresentação da nova edição do estudo “Hábitos de Compra e Leitura em Portugal”, desenvolvido pela GfK – a Nielsen Company para a APEL. A versão de 2024 revelou que 73% dos portugueses afirmam ter hábitos de leitura, com especial destaque para o crescimento entre os mais jovens, que foram também os que mais livros compraram. A nova edição permitirá actualizar esta fotografia nacional e contribuir para uma agenda de políticas públicas mais informada, eficaz e próxima da realidade.

Miguel Pauseiro, presidente da APEL e a Ministra da Cultura, Juventude e Desporto, Margarida Balseiro Lopes