“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce!”
| (in Mensagem – Mar Português, Passeio Maris, I. O Infante – Fernando Pessoa).
Esta é sem sombra de dúvidas a ideia que resume claramente a história de um festival que iniciou os seus passos no ano de 2007.
Ao longo destes 9 anos de existência, o Alive instalou-se, sedimentou-se, transformou-se e está de pedra e cal no pódio do melhor festival português e considerado um dos dez melhores da Europa, nomeado pelos European Festival Awards.
Todas estas distinções que muito aprazem o público português, são conquistadas muito pela culpa do trabalho e claro, pelo cartaz de qualidade a que o público português já se habituou e que tem apaixonado o público além-fronteiras… prova disso mesmo é 53 nacionalidades presentes no festival e mais um ano, bilhetes esgotados logo no primeiro dia do NOS Alive com os Muse a orquestrar esta façanha.
Os artistas são muitos, 120 no total ao longo dos 3 dias e o primeiro dia da edição de 2015 não poderia ter começado da melhor forma.
James Bay – A fama plantada nas ruas da cidade
James Bay reúne todas aquelas qualidades que qualquer indivíduo que pretende ingressar no showbiz deve ter. Entre os barulhos citadinos e a fumaça dos carros da cidade de Hitchin, em Inglaterra, emergiu o artista que rapidamente haveria de se tornar um sucesso à escala internacional.
Em 2013, com o EP de lançamento “The Dark of the Morning”, veria a sua carreira a ter uma ascensão meteórica com temas como “Move Together” ou “When We Were In Fire”. A crítica foi unânime em considerar Bay como uma das promessas mais interessantes da década, tendo sido convidado logo para abrir concertos de artistas como John Newman ou Kodaline, vindo mesmo mais tarde a esgotar salas com concertos em nome próprio.
Esta que foi a primeira vinda do artista britânico a Portugal, trazendo ao NOS Alive´15 o disco de estreia “Chaos and the Calm”.
A figura de Bay, nada é o postulado da pop rock onde a sexualização das estrelas fala mais alto do que o talento do artista. O carisma de Bay está na simplicidade, nas letras, na musicalidade acústica que faz com que as miúdas vibrem e os rapazes apreciem a energia que se haveria de criar pelas 19H10 no Palco NOS.
Um à parte, a pontualidade cada vez mais deixa de ser excepção, para passar a ser a regra vigente dos festivais em Portugal.
Como já seria de se esperar, as grades do palco encontravam-se repletas de fãs que gritavam e apresentavam os típicos cartazes de promessas e declarações de amor de um público que há muito desejava ver o artista britânico de 24 anos.
O sucesso de James Bay, quiçá já o poderia colocar no alinhamento para horas mais tardias, mas em boa verdade se diga, quem há muito trabalha nestas lides, sabe meticulosamente encaixar os artistas nos alinhamentos de um festival desta envergadura.
A tarde, solarenga era propícia para os presentes degustarem a ternura das músicas de amor com pitadas de folk que James Bay trazia em carteira. O cenário, de um idílico urbano, é naturalmente uma das mais-valias do NOS Alive, que entre o mar e a cidade se transforma em epicentro nuclear da música por estes dias e que haveria de ser elogiado pelo próprio artista.
Entre temas como “Craving”, “Scars”, “Let it Go” ou ainda o sucesso das tabelas de singles mais vendidos e tocados pelas rádios, “Hold Back the River”, o concerto foi um bom aquecimento para o dia que se apresentou como expoente máximo da edição de 2015.
No final do concerto, o sentimento generalizado era de satisfação, com a constatação feliz de que é tudo verdade o que se anda para ai a dizer sobre James Bay… mas calma, que ainda a procissão ia no adro e muitas horas de música estariam para vir.
Entre a Desilusão de Jessie Ware e a Boa Onda de Capitão Fausto
Por motivos alheios à organização do NOS Alive e a poucas horas da abertura das portas do festival, Jessie Ware acabaria por entristecer a sua vasta legião de fãs portugueses com o cancelamento da sua vinda a Portugal.
Esta que tem sido considerada uma das vozes revelação da década, traria na bagagem a apresentação do segundo álbum editado em 2014 “Tought Love”.
Em substituição da artista britânica, subiram ao Palco Heineken a banda portuguesa, Capitão Fausto.
Irrequietos por natureza, o projecto português tem sido considerando uma das bandas mais interessantes a surgir no panorama nacional.
Assumidamente como uma banda que congrega sonoridades entre Artic Monkeys e Jimi Hendrix, a banda liderada por Tomás Wallenstein trouxe ao Alive temas dos discos “Gazela” e “Pesar o Sol”.
O pop psicadélico bem trabalhado faz dos Capitão Fausto um projecto empolgante e sobretudo deliciosamente enérgico e criativo.
Desengane-se quem pensou que a banda portuguesa não seria um bom anti-histamínico para a urticaria dos fãs de Jessie Ware, muito pelo contrário, temas como “Ideias”, “Nunca faço nem metade”, “Flores do Mal” ou “Maneiras Más” foram um excelente elixir revigorante para os presentes, sendo que a banda acabaria por ter uma actuação competente e bem divertida como vem sendo habitual, arriscando mesmo a considerar um concerto audacioso para uns putos com talento mas que estavam ali a substituir uma artista internacional. Em poucas palavras, o que é nacional é bom, é bem bom.
O Dilema: Ben Harper ou Metronomy
Pelas 20H30, ainda estava a decorrer o concerto dos portugueses Capitão Fausto, já eu me haveria de debater com a eterna luta dos festivais de verão.
A sobreposição de concertos faz com que por vezes, e apesar da triagem que previamente fazemos, tenha sempre um ou outro artista a colidirem à mesma hora e por conseguinte, temos que nos desdobrar e até saltar entre milhares de festivaleiros de um palco ao outro.
Sem desmérito e com grande respeito que tenho pela carreira de Ben Harper, os Metronomy seduzem-me muito mais que o norte-americano, mas nestas questões, temos mesmo é que ser (ou pelo menos tentar) profissionais e abstrairmo-nos das preferências musicais, para relatar os factos como eles são na realidade.
Pelas 20H40, Bemjamin Chase aka Ben Harper e a banda com quem conquistou o reconhecimento internacional, The Innocent Criminals, subiram ao palco para mais uma actuação em solo lusitano.
A plateia estava composta para receber (não muito efusiva) um punhado de sucessos que compõem a carreira do norte-americano que apresenta sonoridades acústicas com influências bem demarcadas do rock, soul e uma já bem catalogada referência ao reggae.
Confiante pelos anos de estrada que carrega, não foi contudo vibrante, deixando aquela sensação de que o público mais entusiasta está colado às grades e o demais haveria de aproveitar para umas cervejas e jantar.
Por falar em cervejas, no Palco Heineken a conversa já era outra.
Se por um lado Ben Harper havia de servir de entretenimento até à chegada dos Muse, já os britânicos Metronomy, viriam a promover um dos grandes concertos da noite.
Uma das bandas mais aclamadas da electrónica da actualidade, tem sido alvo de rasgados elogios da crítica internacional, nomeados para os afamados Mercury Prize em 2011, com a edição do aclamado, “The English Riviera”, marco incontestável da carreira da banda.
Quem por ali estava pelas 21H25, veria que estes meninos não andam a brincar em serviço e nós também não esperávamos outra coisa. Quando entraram em palco, diríamos que a casa estava quase lotada e pronta para implodir numa onda de energia bem cool.
Acertadas as agulhadas, abriram o concerto com “Some Written”, “Holiday”, “Radio Labio” para gáudio dos presentes que vibravam e também cantavam temas do recém-editado disco “Love Letters”, como o irrevogável, “I´m Aquarius” ou “Love Letters”, como uma espécie de ode ao tempos primaveris que constratariam com os temas do primeiro disco de originais “The English Riviera” que é uma autêntica viagem à serenidade da época estival.
Feitas as contas: muitos litros de suor que se misturaram com enorme boa disposição e satisfação, é o saldo positivo que pesou a favor dos Metronomy, que agraciaram o público para uma das melhores actuações da noite.
ALT+J
As equações matemáticas de Alt+J, são como uma espécie de codificações que se tornam autênticos anacronismos das mil e umas formas de exaltar sentimentos por vezes primitivos.
Os Alt+J são mesmo isso, uma banda que da simplicidade constroem multivariadas complexidades sem distorção da mensagem mas que ainda assim, recorrem à fórmula digital que resulta numa espécie de Bosão de Higgs para a sua música que nada mais é do que delicada e de um harmonioso equilíbrio contemplativo.
A massa de fãs que estava pelas 22H25 no palco NOS, não estava propriamente a guardar lugar para o concerto dos cabeça de cartaz, muito pelo contrário, os Alt+J têm uma base de fãs quase granítica em Portugal e pela Europa que ali estavam para o segundo concerto dos britânicos em solo nacional.
Chegaram munidos do segundo trabalho de originais, “This is all Your” que não tem sido consensual em detrimento do primeiro disco lançado, “An Awesome Wave”. Há contudo na banda britânica a particularidade das viagens aos momentos em que as sensações estão à flor da pele e apoderam-se dos ouvintes de uma forma paralisante.
Os cenários, foram construídos com recurso à projecção digital, com destacadas triangulações das formas que se distorcem e desaguam em novas modelações tridimensionais, criando uma mística celestial.
Uma actuação que antecedeu aos reis da noite, não se poderia dizer 100% perfeita, porque Alt+J são banda de recintos fechados, não sendo contudo um crime actuarem em festivais.
“Something Good”, “Breezeblocks”, “Left Hand Free”, “Every Other Freckle” foram alguns dos passaportes para as viagens transcendentais, que por via dos instrumentos de cordas se fundem com a electrónica em sonoridades semi-psicadélicas, assentes em vocalizações pacíficas… mas em determinados pontos tem acentuadas variações de ritmo que o público tanto aprecia.
Destaque ainda para temas que pessoalmente gostei de ouvir como “Matilda”, “Dissolve me” ou particularmente o tema “Nara” do disco “This is all Your”.
A lei segundo os MUSE
Há quem os considere a melhor banda de rock da actualidade, é discutível!
É contudo indiscutível que a banda britânica é uma espécie de José Mourinho para qualquer festival de música. Lotam espectáculos, são seguidos de forma quase religiosa como foram os Queen na década de 80, mas… há sempre alguns mas…
Ver Fotorreportagem Jorge Buco
Os Muse, têm uma carreira sólida e sim são os reis da noite. Trazem consigo todo um aparato que chega a ser como quando entramos numa qualquer catedral barroca onde nos sentimos autênticas mosquinhas, em relação a grandiosidade do espaço envolvente. Esta também é uma fórmula de sucesso para o espectáculo a que o Passeio Marítimo de Algés assistiu.
Horas antes do concerto, o líder da banda, Mattew Bellamy, haveria de confessar numa entrevista televisiva o grande entusiamo para o concerto no NOS Alive, admitindo também que o recente álbum editado, “Drones”, foi como um regresso ao material do passado, apoiado mais na guitarra e pondo de parte a fórmula mais electrónica e orquestral de “The Resistence” e “The 2nd Law”.
O espectáculo que teve uma duração de 90 minutos, é sempre uma oportunidade de fazer uma revista aos êxitos de carreira e os Muse sabem meticulosamente cumprir o seu trabalho em palco.
Sem nunca negligenciar “Drones”, o concerto teve um alinhamento que satisfez os fiéis e mais antigos seguidores.
Temas como “Psyco”, “Mercy” e “The Handler”, foram apresentados ao público, mas a consagração da hegemonia da banda como os reis que podem sentar no trono de ferro no NOS Alive, foi claramente quando tocaram temas como, “Supremacy”, “Madness” do trabalho “The 2nd Law” ou “Uprising” do disco, “Resistence”.
Nós por cá, apreciámos com algum entusiamo o espectáculo cénico com bolas gigantes e confettis lançados ao público numa grande celebração aos Muse, assim como os temas tocados dos álbum de 2004, “Absolution” com destaque para “Apocalypse Please”.
Django Django e Flume – Os Ritmos Vibrantes da Noite
Terminada a actuação da noite, o palco NOS, perderia o estrelato até ao dia seguinte, por conseguinte, as restantes actuações dividir-se-iam entre o NOS Clubbing e o Palco Heineken.
Pela 1H30 subiram ao palco os portugueses X-Wife, praticantes de um indie rock mesclado com sonoridades pós-punk a que se juntam distorções electrónicas apoiadas em ritmos vintage.
A banda que tem origens no Porto, mostrou-se consistente na sua actuação com apresentação de temas dos trabalhos de estúdio como o “Keep on Dancing”, “On the Radio” ou “Movin´up”.
Entretanto no Palco Heineken, pelas 1H40 entrariam em cena os britânicos Django Django, banda que emana vivacidade e rapidamente cativou os presentes como seu art pop psicadélico.
Com um novo trabalho de estúdio na manga, o quarteto britânico trouxe o “Born Under Saturn” com ritmos quentes e dançáveis para jubilo do público presente que gesticulou o esqueleto ao som de “Default”, “First Light” ou “Life´s a Beach”.
A encerrar a primeira noite do NOS Alive´15, subiu à misturadora de som o australiano Flume, para dar continuidade ao espírito electrónico que por ali pairava, ao som de temas como “Some Minds”, “Sintra” ou o aclamado “On Top”.
Ver Fotorreportagem Jorge Buco
Fotos: Jorge Buco / NOS Alive
Agradecimentos: Everything is New / NOS