1º Aniversário Flux
Bruno Muratori é carioca e produtor de eventos. Tem muita garra e visão. Chegou a Lisboa em 2010 depois de ter passado por França para estudar a língua do país, com um conceito de festa que, ao que tudo indica, veio para fazer história.
A “FLUX”, celebra um ano em Portugal e vai já para a 8ª edição que será já amanhã, Sábado, dia 8 de Outubro, na Discoteca Kremlin, um dos espaços de eleição de Muratori.
Nesta edição de Aniversário, e sempre em prol da harmonia, da boa música, de temas originais e produções cada vez mais criativas, o jovem produtor convida os participantes a sonharem e a seguirem um dress-code “Wonderland”, dando asas à imaginação numa celebração que se espera ser grandiosa, colorida, um hino à diversão e à vida.
R.D. – Chegou a Lisboa em 2010. Apaixonou-se logo pela cidade?
B.M. – Lembro-me que quando cheguei aqui após o meu intercâmbio em França senti uma imensa felicidade, quase um dejá vu, tipo… “Parece que já vivi aqui”. A luz de Lisboa reflectia um dia ensolarado no Rio, as ruelas do Bairro Alto lembravam a minha Lapa, bairro da boémia carioca, e ouvir a língua portuguesa após três meses em França a ouvir a minha professora reclamar dos meus atrasos, foi incrível, foi música para aos meus ouvidos. Como disse numa outra entrevista, encontrar aqui o “fejãozinho brasileiro” com tanta felicidade não tem preço e a minha mãe no Brasil ficou mais tranquila também… (risos)
R.D. – “FLUX, muito mais que uma festa!”. Porque escolheu esta frase para a definir?
B.M. – Na verdade, a frase surgiu por conta de vários factores: No final do ano passado, na nossa “FLUX White Party”, lancei a ideia: “FLUX SOLIDÁRIA”, em que os participantes da Guest List, trariam um 1 quilo de um alimento para ajudarmos instituições de caridade que é algo que me fala ao coração por ter convivido em trabalhos sociais no Brasil em favelas, orfanatos e asilos (adoro os velhinhos) e por saber o que é ter um país com tantas diferenças sociais, não basta colocarmos a culpa no governos, também nós temos de fazer a nossa parte, mesmo sendo uma festa, porque não?! Na política da FLUX, e algo pelo qual luto, é pela não existência de barreiras entre a equipa. A nossa festa é uma festa entre amigos, e para os nossos amigos participantes, queremos ser mais do que uma simples festa onde as pessoas pagam as suas pulseiras, ouvem a música e vão embora. Em todas as edições tento, através dos nossos temas, deixar algo para pensar ou simplesmente através da boa música fazer com que todas as pessoas, independentemente da raça, estrato social ou orientação sexual, possam conviver juntas num ambiente de harmonia e união sem rótulos ou preconceitos em que a música une toda gente. Acredito que eu consegui isso e esta é a maior vitória. Tendo em conta várias conversas e todos estes factores, um ex-membro da nossa equipa, o Filipe Bernardes, lançou esta frase que definiu na perfeição e acabou por pegar, sendo actualmente o que melhor define a “FLUX”.
R.D. – Ficou surpreendido com a adesão do público, edição após edição, sendo que é difícil criar um público seguidor com tantos eventos a acontecer em paralelo?
B.M. – Sim, confesso. Pode parecer que não mas é teatro (risos), sou extremamente inseguro e até tímido. Quando idealizo uma festa penso como se eu fosse um participante e é esta insegurança que tenho em todas as edições, que me faz ficar com um friozinho na barriga e a pensar que não vai haver muita gente. Mas eu acho que isso até é muito saudável e quero continuar assim, mesmo com 7 edições positivas, em 5 espaços diferentes. Quando achamos que sabemos tudo é o pior que pode acontecer. Quando me perguntam “Então Bruninho, vai ser festão, esperas quantas pessoas?” – Nunca respondo, penso que no fim vamos saber mesmo… Assim, só consigo relaxar numa festa, pelas 5h. da manhã, aí sim bebo a minha primeira água. Claro que vocês nunca vão ouvir que nós somos os melhores ou que a “FLUX” é a melhor festa, a mais cheia… não, quem tem que dizer são nossos participantes. O meu único objectivo é que seja divertido para um dia podermos lembrar estes dias com muito orgulho e alegria por termos feito algo de honesto, ético e com muito respeito por todas as pessoas que um dia “fluxaram” connosco, é só isso, “viver cada dia pisando devagarinho” como diz uma música brasileira…
R.D. – Tem sempre temáticas associadas a cada edição. Porquê a “Wonderland” nesta edição de aniversário?
B.M. – Será assim daqui para a frente nesta nova era “FLUX”, afinal não dimensiono muito o nosso percurso e um certo dia, quando estava sem sono, resolvi ir até o miradouro de São Pedro de Alcântara, assim como algumas vezes acordava e ia até a praia em Ipanema ver o sol nascer. Lembro-me que estava a olhar para o Tejo, com o Castelo de São Jorge ao fundo e naquele momento pensei em tantas coisas e naquilo que todas as pessoas me dizem: “Estás há pouco tempo aqui e olha o que já fizeste” e pensei no início em algumas situações menos boas pelas quais passei ao ser confrontado por ser um brasileiro que chegou do nada e com uma festa, “Vai-se lá saber como chegou aqui…”. Aí juntei o sonho… o facto de vir de longe… e voilá! Tudo o que eu vivo tem magia! Assim surgiu: “Era uma vez uma festa que atravessou o oceano e já tem histórias para contar”. Agora e daqui para frente, o que vale é o “faz de conta” e cada um de vocês na “FLUX” pode ter e viver o seu mundo.
R.D. – Qual a direcção que nunca quer perder nas festas “FLUX”, em especial nesta próxima edição?
B.M. – Nesta edição, vamos ter duas pistas (talvez um dia, duas tendas). Vamos dividir o Kremlin em dois mundos: “Pista Lua” com Carlos Manaça, Aruzda e Master G e a “Pista Sol” com Óscar Baía, Syper + Vanhell, Nuno Bessa e Mikie Wilde. Uma pista com um som mais leve e talvez a lembrar alguns hits que já não ouvimos há algum tempo e a outra pista a apostar num som um pouco mais forte como habitual, na pista principal do Kremlin. A decoração será diferente para destacar estes dois mundos, tentando também trazer as duas culturas à decoração, afinal sou brasileiro e com um enorme respeito e admiração pelo país que me abraça, e a junção – Rio e Lisboa, pode ser muito melhor que samba… (risos).
R.D. – A vida cultural no Brasil tem estado em completa ascensão e valorização, também devido aos líderes políticos que a isso incentivam. Que conselhos daria aos nossos políticos para que igual fenómeno acontecesse por cá?
B.M. – A vida cultural do Brasil tem mais a ver com o jeito criativo e espontâneo do brasileiro em mostrar a sua cara, do que um incentivo político. É mais um movimento natural e a globalização que leva o mundo a olhar para o Brasil além da Amazónia, dos recursos naturais abundantes e das novelas. O mundo olha o Brasil com outros olhos e sendo assim vê o brasileiro que é talentoso, não só como uma pessoa engraçada e cheia de ginga, mas também como um inovador. Ainda vejo políticos no Brasil que não incentivam a educação e a cultura pois assim a as pessoas vão saber votar com mais consciência e não vão de certeza eleger um “Turirica”, por exemplo. Somos mais de 190 milhões… é difícil mas não impossível.
Enquanto tivermos políticos que pensam que somente dar o peixe resolve, ao invés de ensinar o povo a pescar, a cultura ficará sempre nas mãos de regiões privilegiadas do país e isto não é justo. Às vezes dói, há muita coisa que ainda é pura maquilhagem no meu Brasil, muita coisa mudou mas podemos mudar muito mais.
Por cá, penso que o momento é difícil e que não devem dificultar as coisas principalmente aos profissionais que vêem o entretenimento como uma forma de burlar esta crise trazendo alegria em momentos de tristeza. Temos dificuldades em, por exemplo, obter licenças em locais públicos, se assim não fosse podíamos fazer muito mais e maiores eventos atraindo ainda mais o turismo. Somos a entrada da Europa, um destino até barato, e por isso seria lindo ver esta cooperação de todos e um vento de optimismo e ousadia neste campo do entretenimento. Seria fantástico o apoio dos nossos políticos neste aspecto.
R.D. – Os seus projectos futuros passarão pela produção de mais festas? Ou tem outras ideias que gostaria de ver concretizadas?
B.M. – Sim tenho outras ideias e cada vez mais o universo me dá mais respostas e mesmo com a “FLUX”, sendo muito mais que uma festa… Posso dizer que me estou a envolver juntamente com a “FLUX” na Marcha Branca de Lisboa. Algo em que acredito, é que através de um passeio de consciencialização podemos ter mais paz na nossa noite que é tão linda e que tem tudo para ser uma das melhores noites da Europa, e mais não vou contar…, em breve irão saber mais!
Obrigado pela gentileza e à Lisboa que me abraça… a este brasileirinho com tanto calor e carinho, contem comigo… vamos nos divertir muito juntos. Namastê!
Fotos: João Ricardo