| Ao concluir a temporada 2024/2025, marcada por um programa artístico que percorreu o território nacional e promoveu múltiplas formas de encontro e de pensamento crítico, sentimo-nos compelidos a romper o silêncio. Durante meses, o Teatro Nacional D. Maria II não se manifestou perante a tragédia que se vem desenrolando em Gaza. Uma postura que, perante as falhas da diplomacia internacional, com o passar do tempo e o agravar da catástrofe humanitária, se tornou insustentável e moralmente inaceitável.
Um teatro não é uma ilha, e o nosso trabalho põe-nos diariamente em relação com realidades múltiplas. Neste momento, nenhuma é mais gritante do que a continuação do massacre de civis palestinianos em Gaza, incluindo milhares de crianças. Esta realidade constitui uma ferida aberta na consciência do mundo. Condenamos inequivocamente todos os actos de violência contra populações civis — nomeadamente os ataques terroristas e tomada de reféns pelo Hamas a 7 de outubro de 2023, e sobretudo a acção desproporcional do governo de Israel, que resulta na perda de dezenas de milhares de vidas inocentes e na destruição massiva de infra-estruturas essenciais.
Afirmamos com clareza e convicção o que está em causa: o respeito pela dignidade humana, pela vida civil, pelo direito humanitário e pelo direito internacional. Esses princípios — que são também os da democracia e da liberdade — são os mesmos que sustentam a existência do teatro público e da cultura.
Como teatro nacional, comprometido com os valores de uma sociedade livre, plural e justa, declaramos a nossa solidariedade com todas as vítimas deste conflito, e em particular com o povo palestiniano, cuja existência colectiva se encontra em risco. Juntamo-nos à exigência de um cessar-fogo imediato e permanente, da abertura plena à ajuda humanitária, da responsabilização internacional pelos crimes cometidos, da libertação de todos os reféns e do reconhecimento do Estado Palestiniano.
Acreditamos que a arte e a cultura não devem ser cúmplices da omissão, nem da indiferença. Devem, pelo contrário, ser veículos de consciência e de esperança. Esperamos que um dia, em paz e liberdade, o teatro possa também voltar a florescer na Palestina.
Enquanto instituição pública de criação artística, o Teatro Nacional D. Maria II sente-se impelido a transformar esta tomada de posição num gesto consequente. Em diálogo com artistas, pensadores e organizações da sociedade civil, procuraremos promover uma reflexão crítica sobre esta realidade e sobre o papel das artes perante a injustiça e a violência. Porque acreditamos que, dentro da missão que nos cabe, o pensamento e a imaginação são também formas de resistência e de transformação.
Fonte: tndm.pt

